11 conselhos para sua instrução de voo render mais

instrução de voo

Aviação é uma atividade fascinante. Ver nos aeroportos aeronaves enormes e pesadas ganharem os ares é cativante para boa parte das pessoas e que, em muitos, faz vislumbrar ou sonhar em estar no comando de uma daquelas máquinas. Ocorre que o caminho para atingir aquele posto carece de muito esforço, dedicação, horas e horas de estudos diário e muito, muito dinheiro.

Juntar o valor para pagar as aulas práticas de voo é um dos grandes desafios que o então aspirante a piloto civil terá ao longo do curso – e, para muitos, até além do término do curso. Inclusive, a falta de dinheiro para fazer as horas de voo é uma das maiores peneiras para aqueles que sonham em serem aeronautas.

Para aqueles que têm recursos escassos (como foi meu caso, por exemplo, onde voava mês sim / dois meses não, devido à falta de verba no início), quando consegue juntar o valor para pagar o voo, esta instrução dever ser a mais proveitosa possível.

Afinal, o alto valor por hora de voo, aliado a obrigação de aprender e executar as manobras da melhor forma possível refletirá em economia de tempo, dinheiro e, claro, numa boa proficiência e segurança nos comandos da aeronave da escola e futuramente da empresa que trabalhará. É por isso que nessa fase das aulas práticas, fazer estes voos renderem ao máximo possível é tão importante.

Aproveitando o fato de ter tido a honra de ter sido instrutor de voo por quatro anos em aeroclube, hoje darei algumas dicas que poderão ajudar a quem está realizando suas horas de voos ou a quem esteja pleiteando um dia iniciar seu curso de piloto. Obviamente, não é nosso interesse aqui monopolizar a verdade nestas dicas, mas sim expor algumas sugestões que podem ajudar de alguma forma os iniciantes.

Fazendo uso de pelo menos algumas delas, com certeza seus voos serão bem mais proveitosos. Aliás, as suas PIPEs (Programa de Instrução e Padrões de Eficiência), onde são registradas as missões e notas, virão agradecer!

 

1 – HORÁRIO DE APRESENTAÇÃO PARA O PRÉ-VOO

Pontualidade é um pressuposto da profissão de piloto. Chegar em cima da hora ou atrasado para fazer o briefing da missão, colher os NOTANS/MET e realizar o check externo prejudicam e muito o desempenho durante o voo. A adrenalina nas alturas provocado pelo atraso sempre faz esquecer algo, deixar de realizar um walk-around mais minucioso e não lembrar de fazer anotações importantes durante navegações. Em suma, a falta de pontualidade é prejudicial ao aprendizado e também afeta a segurança do voo em si.
       

2 – REPOUSO NA NOITE ANTERIOR DO VOO

Consenso entre praticamente todas as pessoas de todas as profissões, uma noite de sono de qualidade irá fazer com que a capacidade cognitiva e de aprendizado do aluno tenham a máxima eficiência.

Embora seja sabido que a grande maioria dos alunos trabalham e estudam durante a semana, dormindo tarde para voar na manhã seguinte, é fundamental que este venha ao aeroclube/escola descansado e alimentado, pois aviação de instrução é um tipo de atividade onde o cérebro é exigido em sua capacidade máxima, uma vez que recebe uma instrução e pratica o que aprendeu quase simultaneamente – e isto sem contar os inúmeros outros fatores que aumentam a carga de informação e processamento para manter a atenção, como fonia, manutenção de proa/altitude/velocidade, aeronaves próximas, pássaros voando nas imediações, etc.

Associado a este item, podemos destacar o fator responsabilidade com aquilo que se propôs a fazer. Isto porque algumas vezes recebi alunos que chegaram cansados à escola pela manhã pois passaram a madrugada em festas, baladas ou churrascos e estavam visivelmente esgotados, sem condições para voar. Embora nunca tenha flagrado caso de consumo de álcool na madrugada precedente ao voo, este ponto deve ser ainda mais rígido para quem se aplica a voar – em instrução ou não.

 

3 – ALIMENTAÇÃO E USO DO BANHEIRO ANTES DE NAVEGAÇÕES

Como é sabido, o treinamento em voo é uma atividade que exige muito da atenção, e a capacidade de absorção das informações deve ser a mais alta possível. Para isso, devemos reduzir tudo aquilo que venha gerar algum desconforto ou roubar a atenção.

Pode parecer bobagem mas uma das coisas que mais prejudicam a instrução aérea neste aspecto são a falta de alimentação ou necessidades fisiológicas, sendo este último, um fator agravante pelo fato das pequenas aeronaves usadas não possuírem toalete. Além do desconforto por precisar usar o banheiro, pode gerar, em navegações, a necessidade de realizar pousos não previstos, gerando maior gasto de combustível e tempo.

Outrossim, é conveniente levar sempre uma garrafinha de água para hidratação durante o voo, mas bebendo-a em pequenos goles até o destino.

Com relação à alimentação, o estudante calouro deve comer alimentos leves, em pequenas quantidades e evitando consumo de comidas gordurosas, que poderão causar mal estar como enjoos, muito comum nesta fase. Frutas pomáceas (como maçãs e peras, por exemplo), barrinhas de cereais ou biscoitos simples podem ser boas opções para se levar a bordo, especialmente em navegações mais longas.

 

4 – ESTUDO DAS MANOBRAS / MISSÕES

Se tem uma coisa que deixa um INVA (Instrutor de Voo Avião) feliz é, no briefing ou durante a execução de manobras, questionar algum item ou valor específico constante no Manual de Manobras e o aluno responder de pronto, sem erros, demonstrando que estudou a manobra daquele dia e também a próxima prevista no programa de instrução. Este simples ato de estar a par dos limitantes e/ou descrição da manobra ajuda na execução prática, pois valores como altitudes, velocidades e procedimentos estarão no subconsciente do educando, facilitando a realiza-la com perfeição.

Somado a isto, vale destacar que as informações vistas durante os cursos teóricos também são interessante de mantê-los sempre frescos na mente, especialmente meteorologia, regulamentos e navegação.

Uma dica que sempre damos é a de procurar estar sendo sempre exposto a conteúdos que ajude a relembrar estas matérias, disponíveis de graça no Youtube (canais como Aircraft Perfomance, Branco Aviação, João Medau, Cmte Pereira, etc), sites como The Airline Pilots e Boldmethod e perfis no Instagram (@aviationcult e @resumaoparaaviacao, entre outros) são boas opções para sempre estar recordando do que se aprendeu no passado.


5 – CONHEÇA SUA AERONAVE

Intrinsecamente ligada ao item anterior, a realização do chamado “ground school” do avião (que consiste em uma aula dada por um instrutor com todas as informações de como operar cada instrumento de cada modelo de aeronave que o aluno irá usar em seus treinamentos) é muito importante e não pode ser deixado de lado, uma vez que modelos diferentes de um mesmo fabricante podem haver diferentes procedimentos e/ou valores.

Consumo horário do motor, abastecimento de combustível máximo e autonomia, quantidade e tipo de óleo, pesos máximos de decolagem, determinação do braço e CG, e velocidades como estol, operação do flape, rotação, Vref, VMCA, Vyse, VLO, etc (estes últimos para multimotores) devem estar compulsoriamente na ponta da língua do aluno, pois são importantíssimos para uma correta e segura operação da aeronave nos treinamentos – e na vida profissional, claro.

 

6 – HORA DE NACELE / VOO MENTAL

Hora de nacele é o termo usado para descrever quando um piloto senta-se em seu lugar no cockpit de uma aeronave e, com o avião em solo e desligado, executam os procedimentos previstos como acionamento do motor, decolagem, pouso, emergências e etc, de forma que estimule a memória muscular destes procedimentos, movendo e tocando fisicamente os comandos da aeronave a fim de ficar familiarizado com a disposição de cada manete, botão ou chave. Muito útil principalmente quando se está começando o curso e/ou trocando de equipamento.

Semelhantemente à hora de nacele, o voo mental tem a mesma finalidade, mas sem estar necessariamente dentro da aeronave. Este tipo de treinamento é extremamente usado por pilotos que voam em campeonatos como de corrida aérea.

7 – USO DE CÂMERAS E CELULARES DURANTE O VOO

Este é um dos itens que tem gerado muito desconforto entre instrutores e alunos: o uso excessivo de equipamentos eletrônicos não essenciais durante o voo. Já na minha época como INVA, inúmeras foram as vezes que precisei chamar a atenção de alunos para não desviarem seu foco do voo de manobras e/ou navegação pois estavam ajustando câmeras GoPro ou tirando selfies e fotos em demasia.

Infelizmente, com a popularização de redes sociais, esta prática tem aumentado cada vez mais, prejudicando seriamente a consciência situacional da operação.

Obviamente, cada pessoa tem o direito de fazer uso de suas redes sociais como quiser, mas numa atividade complexa e que envolve risco real à vida, a distração com coisas inerentes ao voo pode acarretar em acidentes, como por exemplo, um caso conhecido no Nordeste em que um aluno em uma escola estava em treinamento de toque e arremetida e teve o pedal de freio travado por uma bateria de sua câmera GoPro que caiu no piso do avião, escorregando para detrás do pedal. No pouso, o freio não pôde ser acionado adequadamente, fazendo a aeronave varar a pista. Ninguém se feriu, mas a lição foi dada.

Um outro ponto que costumava aconselhar aos alunos que faziam curso visando seguir carreira como piloto e que tinha hábito de usar câmeras e celular a todo momento é sobre sua postura como aspirante a piloto profissional. Se o objetivo é futuramente trabalhar em empresas aéreas, seu comportamento deve ser moldado desde o nascedouro para tal, sobretudo se lembrarmos de que, a cada dia que passa, as empresas estão orientando seus aviadores a não expor procedimentos e técnicas de voo em redes sociais ou Youtube.

Como exemplo, esse tipo de proibição é tão levado a sério por algumas empresas que recordo de ter trabalhado em empresas de taxi aéreo e que nós, copilotos, sequer ventilávamos a ideia de pedir aos comandantes para filmar quaisquer fases dos voos! Fotos? Pouquíssimas e discretas, especialmente mirando a visão externa.

É obvio que ninguém está dizendo aqui que é proibido usar câmeras e celulares em voo. Essa fase inicial da carreira é uma das mais prazerosas e merece sim ser registradas. O que se sugere é evitar excessos, afinal, a vida de ambos ali está em jogo, uma vez que pode ocorrer algo (como um bird strike) justamente na hora em que o aluno (ou instrutor também! – falaremos disso em outro Artigo) estão com suas atenções desviadas em abastecer suas redes sociais com vídeos e fotos.

Lembre-se: a hora de voo em instrução é muito cara, exige atenção plena para aprender e executar o que foi ensinado e possui procedimentos importantes visando a segurança do voo. Evite se distrair por causa de likes ou seguidores!

 


8 – MANUSEAR OS EQUIPAMENTOS DA AERONAVE COM CUIDADO

Embora muitas pessoas se esqueçam ou não tenham a noção sobre isto, aeronaves são um meio de transporte muito resistentes, mas também são feitos por peças pequenas e delicadas (como um botão do rádio ou do transponder). Há pessoas que utilizam uma força acima do normal ao operar tais equipamentos, que fragilizam com o tempo e com a alta quantidade de alunos no decorrer dos voos.

A troca de uma softkey de um transponder ou de uma chave no painel por exemplo demanda tempo, retira a aeronave de operação e consome dinheiro – que, claro, poderá ser repassado ao valor da hora de voo se não houver colaboração de instrutores e alunos pelo zelo destes equipamentos.

Um conselho pessoal: exceto nos casos de equipamentos touch screen, evite tocar em telas (como um PDF ou MFD, por exemplo), deixando marcas das digitais dos dedos. Se for apontar algum parâmetro numa tela, utilize uma caneta. Na aviação profissional, há muitos comandantes que não gostam de ver painéis sujos de marcas de dedos!

 

9 – PROCURE AJUDA VIA RÁDIO COM O ATC CASO SE DESORIENTE EM NAVEGAÇÕES

A fase de navegação visual é uma das mais desafiadoras (e legais) do curso de PP e PC (Piloto Comercial). É comum se perder durante este tipo de voo, principalmente no início do curso.

De acordo com a política de cada instituição, estes voos podem ocorrer no princípio com navegação duplo-comando (onde o instrutor acompanha o aluno) e no final com navegação solo (onde o estudante vai de um aeródromo a outro sozinho, sem a presença de um INVA). São nestes casos onde as desorientações ocorrem – e com ele aquele frio na barriga característico.

Há uma série de dicas que podemos passar quando isto ocorre (inclusive o uso do GPS do celular em último caso e em nome da segurança), mas listaremos apenas algumas, que poderão ser aplicadas ou não, de acordo com cada situação:

  • Tenha sempre anotado em sua carta WAC as frequências do APP ou ACC sob jurisdição naquela área que esteja voando. Usando o código Transponder, eles poderão auxiliar a achar sua posição;
  • Evite continuar voando numa mesma proa achando que mais à frente irá se relocalizar. Pode ocorrer que mais a diante haja alguma formação, névoa seca intensa ou nuvens que irão dificultar ainda mais se encontrar;
  • Aos primeiros sinais de que sua navegação estimada não esteja batendo com a disposição das cidades em solo, procure sobrevoar alguma cidade ou ponto de referência, aproar o avião para a proa Norte, girar a carta com proa Norte e tentar identificar (ou contar) as cidades e/ou rios através do desenho na carta com a silhueta da mesma em solo. Dica: quanto mais alto estiver, mais simples será esta tarefa;
  • Caso não seja possível voar com proa Norte devido alguma formação à frente, procure colocar a carta no mesmo sentido do voo, como ocorre nos GPS, procedendo como descrito no item anterior;
  • Não obtendo sucesso para relocalizar, utilize o rádio VHF chamando o ATC na frequência daquele setor, seja ela um APP, ACC ou mesmo um AFIS. Informe claramente o que está acontecendo, além da matrícula, tipo da aeronave, altitude e siga as instruções do controlador, com um código transponder que ele lhe fornecerá.
  • Em locais sem cobertura ATC, procure ajuda com outras aeronaves voando naquela região usando a frequência local ou na Frequência Livre (123,45);
  • Na eventualidade de encontrar alguma pista de pouso como aeroporto ou mesmo fazenda privada, proceda o pouso naquela pista e busque ajuda. É melhor pousar num aeródromo e perguntar onde é do que ficar voar até acabar o combustível.

     


10 – CHECK PRÉ VOO E PÓS VOO

Fundamental à segurança aérea, os cheques realizados antes e depois de cada voo deve ser executados pelos alunos utilizando o check list em mãos, a fim de esquecer algum item previsto.

Nos primeiros voos de instrução é normal o aluno realiza-lo à risca, checando alguns itens (como combustível e óleo) mais de uma vez, mas conforme o tempo vai passando, alguns educandos acabam “relaxando” um pouco, pulando alguns itens ou fingindo executa-los. É conveniente relembrar que você está sendo avaliado por um instrutor de voo profissional durante todas as fases do treinamento, inclusive o check pré-voo e de abandono.

 

11 – ANOTAÇÃO DE SUGESTÕES DE MELHORIAS PELO INVA NO BRIEFING E DEBRIEFING

Tá aí uma da coisa simples mas que enaltece qualquer aluno perante seu instrutor! Escrever num caderno as dicas que ele deu em voo e as sugestões de melhorias para serem corrigidas no próximo é algo que o ajudará a recordar destes pontos importantes na sua próxima missão. Anotar as dúvidas que vão surgindo durante os dias que precedem o seu dia marcado na escala da escola também é muito saudável para o aprendizado. Este tipo de ação denota um respeito por parte do aluno ao instrutor sobre aquilo que ele julga conveniente e, obviamente, uma ferramenta a mais para melhorar sua qualidade das suas manobras.

       

Obviamente, há inúmeros outros conselhos e dicas que podemos transmitir para aqueles que irão iniciar seus primeiros voos como piloto-aluno ou mesmo para quem já está em fases mais avançadas, como nos voos por Instrumentos (IFR) ou em multimotores (MLTE), mas deixaremos para os próximos artigos.

 

A propósito, não deixe de conferir, no próximo Artigo de Aeroflap as dicas e macetes para quem deseja ser Instrutor de Voo ou quem já está neste interessante curso para alavancar a carreira como aviador.

Não perca!

Micael Rocha foi instrutor de voo por quatro anos, é checador em aeroclubes e CIACs, voou C525, C525B e C208B Caravan em táxis aéreos e voa Cirrus SR22 desde 2013. 
@aeroereview

 

 

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Micael Rocha foi instrutor de voo por quatro anos, é copiloto de CJ1, CJ3 e C208B Caravan e voa aeronaves Cirrus SR22 desde 2013.
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