Airbus vira acionista majoritária da Bombardier para atrapalhar planos da Boeing

Nesta segunda-feira a Airbus anunciou oficialmente que estava adquirindo uma participação de 50,01% na CSeries Aircraft Limited Partnership (CSALP), um grupo investidor que lidera o projeto do avião CSeries da Bombardier.

O resto da participação acionária será dividida em 31% para a Bombardier e 19% pela Investissement Québec. Anteriormente a participação era dividida em 62% para a Bombardier e 38% para a Investissement Québec.

A participação da Airbus também é reforçada por um acordo com a Bombardier que incluirá a montagem do CSeries também na planta da Airbus em Mobile, no Alabama. De acordo com a empresa canadense, essa produção evite que o imposto de 300% seja aplicado pelos Estados Unidos, por pressão da Boeing (saiba mais clicando aqui).

CS100 da Bombardier. Foto – Bombardier

“Quando você produz uma aeronave nos EUA, automaticamente você não fica sujeito a uma taxa de importação de acordo com as regras dos EUA”, disse o presidente-executivo da Bombardier, Alain Bellemare, durante uma teleconferência com repórteres ontem. “Não estamos contornando nada”, ressaltou ele afirmando que a Bombardier não está fazendo um movimento para evitar os impostos.

“Nós pensamos que as aeronaves produzidas na fábrica da Airbus nos EUA não estarão sujeitas à taxa”, acrescenta o presidente-executivo da Airbus, Tom Enders.

Em nota para imprensa a Airbus disse que está fortemente comprometida com o Canadá e seu setor aeroespacial, além dos fornecedores canadenses que estendem seus serviços à cadeia de fornecimento global da Airbus. Esta nova parceria da CSeries está preparada para garantir empregos no Canadá por muitos anos.

Essa aquisição também permite que a Airbus participe do mercado de jatos regionais, de 100 a 150 assentos, visto que os dois aviões da família CSeries, o CS100 e o CS300, têm exatamente essa faixa de assentos.

Além disso a Airbus ainda terá dois aviões de nova geração com capacidade para até 150 passageiros, o CS300 e o A319neo. Ao mesmo tempo ela concorrerá com os aviões da Embraer, que hoje detêm uma boa fatia do mercado de aviões regionais no mundo.

A Boeing não tem nenhum avião capaz de concorrer diretamente com a linha regional CSeries da Bombardier.

CS300 em testes. Foto – Bombardier

A Airbus ficará responsável pelos serviços de suporte de vendas e marketing da linha CSeries; Gerenciamento de compras, que incluirão negociações para melhorar os contratos com fornecedores da linha de montagem; Contribuição no suporte ao cliente. No encerramento, não haverá contribuição em dinheiro por nenhum dos parceiros, nem o CSALP assumirá qualquer dívida financeira.

A Bombardier continuará com seu plano de financiamento do CSeries, e também cobrirá os déficits de caixa do desenvolvimento. Com 0,01% a mais das ações, a Airbus ficará no controle do projeto por 7,5 anos, no mínimo. 

O Conselho de Administração do programa CSALP consistirá inicialmente em sete diretores, quatro dos quais serão propostos pela Airbus, dois dos quais serão propostos pela Bombardier e um proposto pelo QI. A Airbus terá o direito de nomear o presidente do CSALP, além de ter ampla maioria na votação de qualquer requisito administrativo.

A transação foi aprovada pelos Conselhos de Administração da Airbus e Bombardier, bem como do Gabinete do Governo do Quebec. A transação permanece sujeita às aprovações regulamentares, bem como outras condições usuais neste tipo de transação. Não há garantias de que a transação será concluída e que as condições a que está sujeita serão atendidas. A conclusão da transação está prevista para o segundo semestre de 2018.

 

Subsídios

Foto – Bombardier

Recentemente o Departamento de Comércio dos EUA lançou recomendações para aplicar dois impostos para o Bombardier CSeries, sendo o primeiro de 220% e o segundo de 79,8%.

Atualmente a Boeing e o Governo dos Estados Unidos estão com um processo na OMC (Organização Mundial do Comércio), alegando que a Bombardier fez uma venda de 75 aviões CS100 para a Delta Airlines por um preço muito abaixo do custo de produção da aeronave.

De acordo com as alegações apresentadas, a Delta teria encomendado cada aeronave por 20 milhões de dólares, enquanto o custo de produção do CS100 gira entorno de 33 milhões de dólares (valor estimado pela Boeing), o preço de tabela é de US$ 65 milhões. Com o imposto sugerido aplicado o jato CS100 custaria US$ 76 milhões por unidade para a Delta.

A Delta planeja configurar seus aviões CS100 com 110 assentos, através de duas classes de passageiros, o mesmo número que está presente em seus 717-200. Na mesma configuração o 737-700 possui 124 assentos.

Ainda na linha do Governo Americano, o relatório entregue demonstra que a Bombardier se beneficiou com US$ 2,5 bilhões em injeção de capital através do governo de Ottawa, quase US$ 500 milhões de ajuda para realizar o lançamento do CSeries e pelo menos US$ 1,6 bilhão em outros subsídios. No mesmo período a Bombardier estava amagada em prejuízos financeiros, pela complexidade de desenvolver a família CSeries.

A decisão final do Departamento de Comércio dos EUA será apresentada no dia 19 de dezembro. Caso a Comissão de Comércio defina novas leis a favor da petição apresentada pela Boeing, o resultado será aplicado a partir do dia 08 de fevereiro de 2018, mas a aquisição pela Airbus pode frear os planos do governo americano.

Em nota no Twitter a Boeing disse que “Isso parece um acordo questionável entre dois concorrentes fortemente subsidiados pelo estado para ignorar as descobertas do governo dos EUA. Todos devem jogar pelas mesmas regras para que o comércio livre e justo funcione.”

A referência da Boeing ao subsídio da Airbus é porque a empresa tem uma boa porcentagem de participação da França, Alemanha e Espanha. Além de ter se envolvido recentemente em um caso de corrupção de grandes proporções com governos de países europeus.

 

O movimento anti-imposto

Foto – Bombardier/Reprodução

Como citado acima o Departamento de Comércio dos EUA está com planos de taxar aviões da Bombardier em 300%, atualmente eles são fabricados no Canadá, através da linha de montagem final da Bombardier em Ottawa, no Quebéc.

A Bombardier se beneficiaria da linha de montagem da Airbus em Mobile, no Alabama, para realizar a produção do CSeries de modo “nacional” e assim evitar os impostos de importação aplicados pelos Estados Unidos, assim como citado na primeira parte desta matéria. A Airbus usa esse local para fazer a produção de aviões da família A320 “made in EUA”.

Apesar das entregas para a Delta estarem marcadas para 2018, Tom Enders (da Airbus) disse que não há um planejamento claro sobre uma possível data para iniciar a produção do CSeries nos EUA, mas ele prometeu uma rápida resposta da Airbus.

Precisamos passar por várias aprovações nos próximos meses, não é como se pudéssemos entrar diretamente em uma joint-venture”, disse ele. “Mas temos muita experiência na criação de uma linha de montagem final em Mobile. Isso pode ser feito em um tempo relativamente curto”.

Enquanto isso a Airbus promete que não diminuirá a força de trabalho no Canadá, e apenas insiste que esse é um movimento para aliviar a produção da Bombardier, visto que uma linha de montagem final nos EUA permitirá a produção para o maior mercado de aviação do mundo.

Na nota de imprensa, a Bombardier também disse que está confiante sobre obter novas encomendas com a ajuda da Airbus.

 

Dificuldades de produção e inovações

Foto – Bombardier

A frequência de entrega das aeronaves CSeries está sendo um grande problema para a Bombardier ultimamente, a Pratt & Whitney está atrasando a entrega dos motores, e a capacidade de produção da Bombardier também não está muito elevada para o jato CSeries.

A capacidade da Bombardier e para produzir no máximo 35 aviões da linha CSeries em 2018, enquanto isso a Embraer conseguiu produzir 78 jatos da linha comercial até o momento em 2017, isso com a produção híbrida de aeronaves em pleno vapor a partir do 3º trimestre de 2017.

O CSeries introduz várias inovações em tecnologia no setor aeronáutico, incluindo controles de voo fly-by-wire em parceria com a Parker Aerospace, painéis de asa produzidos em material composto e material de alumínio-lítio de para os painéis de fuselagem.

A Bombardier também foi a primeira fabricante que selecionou os motores de nova geração da Pratt & Whitney PW-G (Pure Power), além do novo conjunto de aviônicos da Rockwell Collins denominado ProLine, para compor sua aeronave.

O CS300 é a variante mais popular da família CSeries, ao todo conta com 237 pedidos firmes por diversas companhias aéreas. O CS100 acumula 123 encomendas.

 

A história se repete – A Fokker

Quando a Fokker entrou em processo de falência, em 1996, a Bombardier também iniciou as negociações para adquirir partes da empresa holandesa, porém um contrato não foi firmado e logo depois a Fokker entrou em falência judicial.

Na época a Fokker era conhecida pela fabricação do Fokker 100/70, um moderno avião regional que não fez tanto sucesso, o que resultou em prejuízos pelo investimento realizado pela Fokker no desenvolvimento do avião.

A divisão espacial da Fokker continuou operando com duas unidades, que estão listadas abaixo:

  • Fokker Space e Dutch Space
  • Fokker Space and Systems

Em 2006 a EADS, nome antigo para o atual Airbus Group, adquiriu a divisão Fokker Space and Systems, um setor de desenvolvimento tecnológico da Fokker e que, inclusive, pode ter participado ativamente da criação do Fokker 100.

A Deutsche Aerospace (DASA), hoje no controle do Grupo Airbus, estava colaborando com a Fokker desde 1992 na construção de aeronaves. Em 1996 a empresa motivou a falência da parte de aviões comerciais da Fokker, já deficitária, ao retirar sua participação.

A DASA se juntou em 2000 com a Aérospatiale-Matra e a CASA para formar a EADS, atual Airbus Group, na época até a Eurocopter (atual Airbus Helicopters) entrou nessa divisão da EADS como a parte de aviação rotativa (militar e civil).

No final da história a Airbus já teve participação na Fokker, a partir do controle alemão da empresa nos anos anteriores. Vale ressaltar que a Airbus é uma empresa recente, e que só nos últimos anos passou a ter um controle unificado a partir da Airbus Group com participação acionária pelos países participantes, o antigo grupo EADS é uma resposta sobre a junção de várias empresas europeias entorno de um único grupo, com a participação da Airbus que até então só fabricava aviões comerciais, mas nos últimos anos a Airbus também passou a ter uma divisão militar, e fez-se a necessidade da mudança de todo o grupo para o nome Airbus, mais forte no mercado.

 

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