As vanguardistas da aviação brasileira

Foto - Maquinas Voadoras/Reprodução

Além do sucesso da aviação brasileira internacionalmente, com o primeiro voo do Santos Dumont no 14 bis sem ajudas externas e pelo reconhecimento mundial da Embraer, o Brasil também guarda um enorme capítulo da sua história para várias mulheres que foram pioneiras bem no início de toda a história sobre aviões no mundo.

Hoje as mulheres ocupam boa parte do mercado de pilotos e já é frequente encontrar uma comandando uma aeronave comercial no Brasil. Muitas ocupam a posição de comissária de bordo e outras trabalham até na parte de engenharia aeronáutica e manutenção de aeronaves.

Decidimos reunir pela primeira vez aqui na Aeroflap a história de algumas pioneiras da aviação brasileira, entre elas estão quatro personagens de grande relevância para o cenário de aviação nacional. 

 

Anésia Pinheiro Machado

A aviadora mais lembrada é Anésia Pinheiro Machado, que nasceu em 1902 e iniciou sua carreira em 1921. O interesse de Anésia por voar perseverou desde que era criança, seu primeiro voo solo foi somente um ano após iniciar seus estudos na área, no ano de 1922, quando a aviação ainda estava em seus primeiros passos aqui na Terra.

O tempo entre o primeiro voo solo e o primeiro brevê expedido foi curto, apenas um mês. Em abril de 1922 Anésia Pinheiro já poderia conduzir uma aeronave comercial por todo o Brasil, foi a segunda a conseguir um brevê no país.

Anésia recebeu diversas condecorações ao longo de sua carreira, como receber uma carta diretamente de Santos Dumont e participar do centenário da independência em 1922 realizando um voo entre São Paulo e Rio de Janeiro, tão corriqueiro hoje em dia e realizado com modernas aeronaves, nessa ocasião Santos Dumont presenteou Anésia com uma medalha de ouro.

Ela ainda recebeu as carteiras para Piloto Privado, Piloto Comercial, Piloto de Simulador (Link Trainer), Instrutora de voo e pilotagem por Instrumentos. Anésia também aproveitou para realizar um voo internacional entre continentes no ano de 1951, cerca de 30 anos após tirar seu primeiro brevê, percorrendo a rota do Rio de Janeiro até Nova York com um monomotor Kian-Navion Super 260.

 

Thereza De Marzo Roesler

Thereza foi a pioneira no Brasil, o primeiro brevê de uma mulher pertence a ela que tirou um dia antes de Amélia. O instrutor de Amélia e de Thereza era o mesmo veterano de 1ª

 Guerra, Fritz Roesler, o qual deu as primeiras instruções para Teresa sobre os comandos da aeronave e após concedeu quatro voos solo para ela.

Thereza impressionou pela sua capacidade de pilotar uma aeronave e tirou seu brevê com apenas poucas horas de voo. Infelizmente ela se afastou da aviação em 1926, após se casar com seu próprio instrutor de voo, Fritz Roesler, que proíbe a sua continuação na carreira de aviadora.

Mesmo afastada da aviação ela foi importante para compor o cenário deste no Brasil, Teresa fundou o Aeroloyd Yguassu e a VASP, ainda foi responsável por fundar uma indústria que todos se lembram pelo avião Paulistinha, a Companhia Aeronáutica Ypiranga. Thereza também fundou uma escola de voo chamada de Escola de Aviação Ypiranga, a qual não durou muitos anos.

 

Joana Martins Castilho D’Alessandro

O grande destaque de Joana sem dúvida são as acrobacias aéreas. Ela começou a dominar essa habilidade com apenas 13 anos de idade, quando iniciou seu curso para piloto e fez seu voo solo com 14 anos. Em plena 2ª Guerra Mundial, em 1940, ela ganhou um campeonato de acrobacia aérea, e tudo isso com apenas 15 anos, cerca de um ano após retirar seu brevê. 

Os pais de Joana apoiaram a aviadora no seu curso de piloto, principalmente após o presidente Getúlio Vargas quebrar uma promessa que fez durante uma apresentação de Joana no Aeroclube do Campo de Manguinhos. Getúlio Vargas, presidente do Brasil na época, pagaria as 100 horas de voo restantes.

Tudo isso foi recompensado através de uma série de reportagens nos Diários Associados falando sobre a aviadora, sua carreira e as manobras que fazia durante os voos.

Com seu biplano Bücker a Joana Martins já impressionou muitas pessoas em todo o mundo. Joana tem registro no Guiness Book como a aviadora mais jovem de acrobacias aéreas, até hoje esse registro não foi superado e provavelmente não será tão em breve.

 

Ada Leda Rogato

Foto – Maquinas Voadoras/Reprodução

Ada Leda Rogato é outra mulher muito lembrada no cenário da aviação brasileira, ela simplesmente atuou nos diversos ramos da aviação e foi a terceira aviadora do país a conseguir um brevê. Sua história se estende pelos campos de Acrobacia Aérea, Aviação Agrícola, Planadores, Paraquedismo e pelas suas viagens de longa distância.

Diferente dos aviadores da época, Ada não tinha uma família rica ou com muitas posses, precisou juntar dinheiro para tirar seu brevê de voo a vela em 1935, o terceiro concedido para uma mulher no Brasil. Em 1936, no Aeroclube de São Paulo, tirou o seu brevê para aeronaves convencionais.

Durante o período de 1938 até 1950, Ada tentava ganhar espaço através das acrobacias aéreas, impressionando todos assim como a Joana D’Alessandro. Não satisfeita, em 1941 tirou o certificado de paraquedista, o primeiro emitido no Brasil para uma mulher.

Nesse período citado ela ajudou a reforçar uma imagem da aviação no Brasil através de vários eventos e também da participação em missões da FAB, como o patrulhamento aéreo no litoral do país em mais de 213 voos realizados. Ada também pilotou na aviação agrícola para combater a peste chamada de broca-do-café.

Após esse período em que conseguiu atrair a atenção, a Ada Rogato partiu para outro desafio ainda maior, cruzar distâncias enormes por todo o mundo. A viagem mais enigmática que ela fez foi entre a América do Sul e o Alasca, percorrendo 51064 km em 364 horas de 5 de abril até 27 de novembro de 1951. Nessa jornada ela usou um simples monomotor Cessna 140, assim como as aviadoras anteriores que faziam seus feitos em aeronaves monomotoras.

Ela atravessou os Andes cerca de onze vezes durante toda a sua vida, a primeira foi em 1950, quando seu voo coincidiu com o da Anésia Pinheiro Machado. Esse feito também foi realizado com o pequeno Cessninha 140.

Ada voou mais de 25 mil km entre o sul e o norte do Brasil em 1956, voou na Amazônia somente com a ajuda de um mapa e uma bússola, durante todo esse tempo não se perdeu e conseguiu realizar todas as escalas programadas.

Vale ressaltar que naquela época o número de voos para o Norte do país era enorme, em muitas localidades do Centro-Oeste, Norte e Nordeste só tinha acesso via avião. As estradas no país eram quase inexistentes na década de 50. Após a introdução do jato no Brasil, que necessitada de pistas maiores e de infraestrutura melhor, o número de voos regionais despencou.

Foi a primeira mulher a receber a comenda da Ordem do Mérito Aeronáutico, no grau de Cavaleiro, além do título de Piloto em Honoris Causa, da FAB. Até Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, elogiou pessoalmente os feitos de Ada Rogato. Ela também conseguiu convencer a NASA para batizar uma das crateras da Lua com o nome de Santos Dumont, detalhe, os irmãos Wright não têm o mesmo privilégio.

Ada entregou sua vida para a aviação e transformou, durante os anos que viveu, diversos campos dessa área pelo país, atuou até na Fundação Santos Dumont, até pouco tempo antes de falecer, em 1986.

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Queremos citar aqui também Lucy Lúpia, a primeira mulher piloto da aviação comercial brasileira, que nasceu em 1932 e começou a voar somente na década de 1970. Foi a primeira primeira comandante do Embraer Bandeirante no Brasil e escreveu cinco livros que estão listados abaixo.

Eu Quero Voar – o retrato do preconceito (1979)

A história de Philippe Pinel (1984)

Voo proibido: os apuros de uma pioneira (1992)

Sobrevivente: saga da primeira piloto de linha aérea (2003)

Sua majestade, o Q.I.: a realidade do mundo da aviação (2007)

 

Veja uma reportagem do Fantástico (Globo) sobre a Anésia no vídeo abaixo:

 

Veja abaixo um vídeo sobre a Ada:

 

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