CEO da Boeing diz que não deveria ter aceitado contrato do novo Air Force One

Air Force One Boeing 747
Arte do novo Air Force One- Foto: Boeing

O CEO da Boeing lamentou ter aceitado os termos do ex-presidente Donald Trump para a construção de um novo Força Aérea Um, como é popularmente chamado o principal avião presidencial dos EUA.

Apresentando os resultados do 1º trimestre de 2022, a fabricante de aeronaves reportou US$ 1,3 bilhão em cobranças por excesso de custos entre alguns de seus principais programas de defesa. Segundo o Defense News, grande parte dessas cobranças vieram do desenvolvimento do novo VC-25B – como o jato presidencial é designado na Força Aérea dos EUA – e do treinador T-7A Red Hawk da Força Aérea, disse a empresa nesta quarta-feira (27).

E em uma teleconferência, o executivo-chefe da Boeing, Dave Calhoun, sugeriu que a empresa não deveria ter aceitado os termos do governo Trump em 2018 sobre o novo Air Force One, já que o antigo governo se envolveu em fortes negociações para reduzir os custos da nova aeronave e outros programas. 

Força Aérea Um EUA Boeing VC-25 Air Force One

VC-25A Força Aérea Um pousando em Pittsburgh. Foto: Master Sgt. Stacey Barkey/USAF.

A divisão de defesa, espaço e segurança da Boeing viu suas vendas no primeiro trimestre de 2022 cair para US$ 5,5 bilhões, uma queda de 24% em relação ao mesmo período do ano passado. 

Esta queda deveu-se em grande parte aos menores volumes e seus encargos em programas de desenvolvimento de preço fixo. Calhoun disse em uma entrevista à MSNBC na manhã que a Boeing relatou um “trimestre mais confuso do que qualquer um de nós gostaria”.

O programa VC-25B teve o maior impacto neste montante, totalizando US$ 660 milhões. Isso decorreu de atrasos no cronograma, aumento dos custos de fornecimento e custos mais altos para finalizar os requisitos técnicos. 

Jatos de treinamento Boeing-Saab T-7A Red Hawk. Foto: Boeing.

A aeronave deveria ser entregue originalmente em 2024, mas o Wall Street Journal informou no início deste mês que poderia estar pelo menos dois anos atrasada.

Outros US$ 367 milhões em encargos vieram do T-7, o novo avião de treinamento a jato da Força Aérea. Restrições na cadeia de suprimentos, complicações da pandemia de COVID-19 e a alta na inflação complicaram as negociações em andamento com fornecedores, disse a Boeing.

Calhoun afirmou que a Boeing ainda tem muita confiança no futuro do T-7 e disse que outros programas resistiram a pressões semelhantes. Ele acrescentou que espera que o programa MQ-25 Stingray, um drone de reabastecimento aéreo da Marinha, também seja outra boa aposta para a empresa. 

Boeing/Divulgação.

Apesar de ambos os programas terem custos de desenvolvimento mais altos do que o previsto, disse Calhoun, os militares estarão pilotando os dois por um longo tempo.

Ainda assim, o CEO lamentou o caminho que a Boeing tomou no novo Air Force One durante o governo Trump. Em dezembro de 2016, o então presidente twittou que “os custos estão fora de controle” para o preço de mais de US$ 4 bilhões do novo Air Force One e que ele queria cancelar o pedido.

Em julho de 2018, a Força Aérea concedeu à Boeing um contrato de US$ 3,9 bilhões para dois novos Air Force One. A Casa Branca disse que isso representou uma queda drástica de preço em relação à proposta original para o contrato, avaliado em US$ 5,3 bilhões.

Segundo o CEO, esse contrato representou “um momento muito único, uma negociação muito única, um conjunto muito único de riscos que a Boeing provavelmente não deveria ter assumido”, disse Calhoun. “Mas estamos onde estamos e vamos entregar ótimos aviões.”

Ele disse que as ineficiências relacionadas ao COVID foram em grande parte responsáveis ​​​​pelos excessos de custos sofridos e que foram particularmente graves para o programa Air Force One.

Uma maquete da pintura preferida do ex-presidente Donald Trump para o VC-25B foi exibida durante uma reunião de 20 de junho de 2019 entre Trump e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau. (Foto AP/Evan Vucci)

“No mundo da defesa, quando uma linha COVID cai, ou um grupo de trabalhadores sai, não temos um monte de pessoas liberadas para se colocar no lugar deles”, disse Calhoun. “Sempre foi uma implicação mais difícil e, para o VC-25B, onde as folgas são ultra altas, é realmente difícil. Então, acabamos sendo atingidos em várias áreas diferentes.”

Em abril do ano passado, a Boeing informou que entraria com uma ação judicial contra GDC Technics, uma companhia do Texas contratada pela gigante de Seattle para realizar trabalhos de projeto e construção no interior dos VC-25B. Segundo a Boeing, a GDC estaria com um ano de atraso. 

Segundo o portal Aerotime Hub, a GDC entrou com uma ação de volta contra a Boeing, alegando que foi “a má gestão da Boeing na conclusão de duas aeronaves presidenciais do Força Aérea Um, e não os atrasos causados ​​pela GDC, que causou um atraso na conclusão dessas aeronaves.”

No mesmo mês, a GDC Technics entrou com um pedido de proteção voluntária contra falência, Capítulo 11, similar à Lei de Recuperação Judicial brasileira. A disputa acabou levando a Boeing a registrar uma cobrança de US$ 318 milhões, sem contar impostos.

O novo Força Aérea Um terá um sistema de radar avançado, um sistema de interferência de radar, contra-medidas de flare e chaff para protegê-lo de mísseis guiados por calor ou radar e sistemas de rádio de baixíssima frequência, que permitem a comunicação com submarinos submersos.

 

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Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.