Com 2800 aviões, China atinge o posto de 3ª maior frota aérea militar do mundo

Recentemente o Departamento de Defesa dos EUA (DoD) apresentou um estudo bastante completo sobre o Exército de Libertação do Povo, as Forças Armadas da China. 

No documento apresentado ao Congresso, o DoD aponta que atualmente a China conta com cerca de 2800 aeronaves na PLAAF (Força Aérea) e PLAN (Marinha). Destas, cerca de 2250 são aviões de combate, como bombardeiros e caças, sendo o restante de aviões de transporte de cargas e passageiros, além de reabastecedores como o Il-78.

O grande número só não é superior à Rússia e Estados Unidos, que estão nas 2ª e 1ª colocações, respectivamente. 

Caças Shenyang J-16 da Força Aérea Chinesa.

O estudo do Pentágono também aponta que a China está aos poucos migrando o foco das capacidades prioritárias das suas Forças Armadas. Enquanto foca em um grande efetivo em solo, a China também aposta amplamente em aviões de ataque para “operações ofensivas e defensivas, além de poder aéreo de longo alcance”.

Atualmente a China foca principalmente no desenvolvimento de “aviões próprios”, sendo estes derivados diretamente de aviões soviéticos/russos. A única limitação, contudo, é a dificuldade que o país enfrenta em produzir motores próprios.

Essa limitação está afetando principalmente o crescimento da frota de aviões maiores, utilizados para transporte, reconhecimento e bombardeio nuclear ou reabastecimento em voo (REVO) de outras aeronaves. Contudo, caças como o J-10, J-16 e o furtivo J-20 já usam motores nacionais. 

Aviões “Próprios” da China na área militar

Na década de 80 a China iniciou uma grande escalada para aumentar a sua presença nos céus e até mesmo no espaço. Na época o país contou com uma ajudinha soviética, comprando aviões destes além de fechar parcerias para importantes projetos, que renderam na década seguinte

J-10C China

Caça chinês J-10C. Foto: China Military.

Continuando a empreitada pelos anos 90 e 2000, a China aproveitou a fragilidade econômica da Rússia e da Ucrânia para fechar mais parcerias e conseguir acesso aos aviões mais avançados, como o Su-30MKK e o Su-33 Flanker-D. Juntamente, a China teve acesso aos motores que serviram de base para desenvolver os seus próprios produtos.

Essas parcerias renderam um dos braços mais fortes de ataque aéreo e caças multifunção da China, o Shenyang J-11. O modelo surgiu no final dos anos 90 como uma versão licenciada do Sukhoi Su-27, montada no país pela Shenyang Aircraft Company através de kits feitos pela Komsomolsk-on-Amur Aircraft Plant (KnAPPO), a planta fabril responsável pela produção de algumas variantes da Família Flanker (Su-27).

Shenyang J-11 China

Esquadrilha de caças J-11B da PLAAF.

Após o encerramento da produção do J-11 em kits, a China passou a fabricar integralmente o J-11B, uma versão melhorada, mas sem a licença da Rússia. Hoje são cerca de 297 caças de diversas versões em operação, sendo um dos principais em serviço na PLAAF. O J-11 também foi um dos primeiros aviões a receber o motor Shenyang WS-10. 

A experiência com o J-11 e a aquisição de caças Su-30MKK mais tarde deu origem ao Shenyang J-16. Um caça multifunção, mas com mais ênfase às operações Ar-Solo, o J-16 é um dos aviões mais novos da frota chinesa, com mais de 150 aeronaves em operação.

J-16D Guerra Eletrônica China Zhuhai

O J-16D exposto em Zhuhai com pods de interferência eletrônica. Foto via @RickJoe_PLA

Durante o Airshow China, uma nova variante do J-16 foi oficialmente apresentada ao publico: o J-16D. A nova versão foi desenvolvida para guerra eletrônica, sendo similar ao EA-18G Growler da Marinha dos Estados Unidos (tirando a parte das operações embarcadas). O modelo já está em serviço, participando de exercícios com os outros caças da PLAAF. 

O J-15 é uma cópia chinesa do Sukhoi Su-33 Flanker-D, a versão naval do Su-27 Flanker. A aeronave surgiu por volta de meados de 2009/2010 e foi introduzida ao serviço militar em 2013. Atualmente é o único caça naval em operação na China, com cerca de 35 aeronaves em serviço na Aviação Naval Chinesa. O J-15 foi desenvolvido a partir do T-10K-3, um dos protótipos do Su-33 russo adquirido da Ucrânia por volta de 2001, juntamente com o porta-aviões Varyag, que foi reformado e se tornou o primeiro navio do tipo na Marinha Chinesa, hoje chamado de Liaoning. 

Shenyang J-15 China

Caças J-15 Flying Shark a bordo do porta-aviões Liaoning. Foto: Imaginechina via AP.

O J-10 Vigorous Dragon é um dos principais caças da PLAAF e da Aviação Naval Chinesa (apesar de não ser operado em porta-aviões), além de ser um dos aviões mais avançados desenvolvidos pelo país. O delta-canard monomotor foi a primeira aeronave de caça de 4ª Geração projetada e fabricada pela China.

Estima-se que a PLAAF/PLAN tem por volta de 488 aviões em operação nas versão J-10A, S (biplace), B e C, sendo esta a última a mais nova e avançada, equipada com o motor WS-10, radar AESA e outras melhorias.

O J-10C também recém foi adquirido pela Força Aérea Paquistanesa, marcando a primeira exportação do modelo. Especula-se que o J-10 foi desenvolvido a partir do IAI Lavi, uma aeronave israelense com base no F-16, mas isso não foi confirmado nem pela China ou por Israel, apesar das grandes semelhanças. 

J-10C taxi

Chengdu J-10C. Foto via China Miltary

Depois do Vigorous Dragon, temos o Mighty Dragon. O Chengdu J-20 é o primeiro caça de 5ª Geração desenvolvido pela China e o único em serviço militar até agora. O modelo fez seu primeiro voo em janeiro de 2011, oficialmente revelado ao publico em 2016 e introduzido em serviço no ano seguinte.

Estima-se que a China tenha cerca de 150 destas aeronaves em operação. Quando entrou em serviço, o J-20 usava o motor Saturn AL-31 russo mas as unidades mais novas já estão recebendo o WS-10B/C. Contudo, os dois motores ainda não são idealmente potentes para o jato de 17 toneladas. Futuramente, o J-20 será equipado com o WS-15, que deverá ser 7 mil libras mais potente que o atual WS-10. 

J-20 China taxi

Chengdu J-20 Mighty Dragon.

No ano passado surgiram as primeiras imagens do J-20 de dois assentos. A PLAAF ainda não falou publicamente sobre a nova versão, popularmente chamada de J-20S, J-20AS ou J-20B. Acredita-se que o caça biposto será usado em missões ar-solo e para o controle e gerenciamento de drones. De qualquer forma, a China possui o primeiro e único caça furtivo biposto no mundo.

Enquanto o número de J-20 em serviço segue aumentando, a China continua desenvolvendo o seu segundo caça furtivo, o Shenyang J-35. Em outubro surgiram as primeiras imagens do modelo adaptado para as operações embarcadas em porta-aviões. O J-35 evoluiu a partir do J-31/FC-31, que surgiu em 2012.

Apesar de ter quase 10 anos, o J-31 não chegou a entrar em operação e também não atraiu clientes de exportação, mas a Shenyang seguiu em frente com o projeto, que foi redesenhado. Agora, com a chegada do novo porta-aviões chinês cada vez mais próxima, o Type 003, que terá catapultas ao invés da rampa ski jump, fica claro que os chineses tem a intenção de embarcar um caça stealth junto do J-15 na sua mais nova embarcação. 

Além de forte presença de caças avançados (reforçada pelas centenas de J-7 e J-8II mais antigos e em fase de aposentadoria), a China também investe pesado na melhoria de sua força de bombardeiros. 

O Xian H-6 nasceu como uma cópia do Tupolev Tu-16 Badger da URSS mas hoje é o principal bombardeiro em serviço na PLAN e PLAAF. Ao longo do tempo, o bimotor veio recebendo uma série de atualizações e uma de suas variantes mais recentes, o H-6N, recebeu modificações na fuselagem que o permitem carregar mísseis balísticos.

F-16 H-6 taiwan China

F-16C de Taiwan interceptando um bombardeiro chinês H-6. Foto: Força Aérea Taiwanesa.

Ele também é o primeiro bombardeiro nuclear chinês capaz de ser reabastecido em voo, missão que também pode ser conduzida pelos jatos das variantes HY-6, como o HY-6U. O H-6K, uma das últimas versões da PLAAF, recebeu novos motores, aviônicos e suíte de guerra eletrônica atualizada. A China possui mais de 230 H-6 em serviço. 

Junto dos H-6, a Marinha e a Força Aérea operam o JH-7 Flying Leopard, um caça-bombardeiro tático capaz de atingir Mach 1.5. Chamado de Flounder pela OTAN, o JH-7 pode transportar 9 toneladas de armamentos diversos, incluindo mísseis ar-ar de curto alcance para autodefesa, mísseis ar-solo, antinavio, antirradar e bombas guiadas, além de um canhão interno de 23mm. Cerca de 270 aeronaves permanecem em serviço na PLAAF e PLAN, operando principalmente em bases mais perto da costa. 

Xian JH-7 China

O caça-bombardeiro JH-7 Flying Leopard, presente na Força Aérea e Aviação Naval.

O Pentágono reconhece que a China deixou de ter uma posição de defesa para ter forças ofensivas de ataque, fato que é reforçado pelas ameaças de Pequim à ilha de Taiwan, vista como uma nação rebelde pelo vizinho maior. 

A mudança de papel também é sublinhada pelo investimento nas aeronaves de reabastecimento em voo e transporte de longo alcance, mais notadamente na forma do cargueiro Xian Y-20. 

Até 2020, a frota de aviões-tanque da China era composta por jatos Il-78 Midas de origem russa e as versões de reabastecimento do bombardeiro H-6, já mencionadas. Porém, em 2021, a China colocou em serviço a primeira versão de REVO do cargueiro Y-20, designada Y-20U. 

Y-20U PLAAF China

O Y-20U é novo avião-tanque da China, baseado no cargueiro Xi’an Y-20. Foto via @louischeung_hk.

O Y-20 foi projetado com base no Ilyushin Il-76, usando inclusive os mesmos motores. A aeronave tem capacidade para transportar 55 toneladas, suficiente para carregar um tanque Type 99, a ponta de lança da cavalaria do Exército Chinês

Também chamado de Kunpeng, em homenagem a um grande pássaro da mitologia chinesa, o Y-20 está em serviço desde 2016, sendo empregado no lançamento de paraquedistas e no transporte logístico na primeira intervenção do Novo Coronavírus, quando surgiu em Wuhan. 

Y-20 China

Xian Y-20. Foto: China Military Online

Com a nova versão de reabastecimento, que inclusive foi usada em uma incursão na zona de defesa aérea de Taiwan, a China vai expandindo não só sua frota de aviões de missão especial, mas também o próprio alcance de suas diversas aeronaves, deixando claro sua intenção de expansão. Atualmente, duas aeronaves remotorizadas já estão em testes. 

Para o futuro, Pequim está desenvolvendo sua capacidade de mísseis hipersônicos, estando mais avançada que os Estados Unidos nesse quesito. Nos próximos anos, a China também apresentará o seu primeiro bombardeiro stealth, o Xian H-20. 

Xian H-20

Projeção artística do Xian H-20.

Até o momento só existem projeções artísticas (CGI) da nova aeronave furtiva, mas ficam claras as semelhanças com o Northrop Grumman B-2A Spirit dos EUA. O desenvolvimento do H-20 foi revelado em 2016 e cada vez mais a China tem falado sobre o novo jato subsônico, mas nunca dá detalhes sobre o andamento do projeto e as capacidades desejadas do avião. 

Texto por Gabriel Centeno e Pedro Viana.

 

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Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.