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Concordski: O Super soviético Tupolev Tu-144 que ajudou os americanos

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Tupolev TU-144: Já ouvimos falar muito sobre os jatos supersônicos, e quando se fala sobre isso um nome vem à mente: Concorde. Poucos lembram do outro jato supersônico russo/soviético que tem suas particularidades com o jato britânico-francês, a começar pelo nome: Concordski.

A história do Supersônico Tupolev TU-144

Vamos imaginar um pouco como é dizer Concordski no sotaque russo? Esse não era o nome oficial da aeronave, que pouco é conhecido no mundo ocidental pelo seu verdadeiro nome.

O TU-144LL que era um projeto ambicioso e desafiador para a época na indústria aeronáutica da Rússia. Mesmo com experiências do outro jato, o projeto tinha muita expectativa para o futuro.

Foto: CNN/Getty Images

O desenvolvimento da nova aeronave supersônica tinha como base o MiG-21 em razão do design de suas asas e outros detalhes aerodinâmicos, sendo isso em 1963. Ainda neste ano, o governo decidiu que o avião teria quatro motores e a participação de Andrey Tupolev, já conhecido e com muita experiência no setor. 

Algumas projeções anteriores e testes em túneis de vento foram feitas com base no TU-135, algo que não seguiu adiante por problemas na estrutura. Logo em 1965, Andrey apresentou um projeto base que teve o sinal ‘verde’ do governo.

Foto: Autor Desconhecido

A corrida era para que o Tupolev supersônico realizasse seu primeiro voo antes do Concorde. Para equipar o avião, foram escolhidos motores turbofan NK-144 de forma inicial, sendo trocada para motores Kolesov RD 36-51 alguns anos depois.

Algumas imagens do avião soviético foram vistas em sua linha de montagem e graças a um espião soviético na fábrica concorrente, o design do TU-144 foi praticamente semelhante ao Concorde. 

Motores Tupolev Rússia Soviético
Foto: Autor desconhecido

Com intenso trabalho dos engenheiros e funcionários na fábrica, o primeiro voo estava previsto para setembro, porém, as condições climáticas não ajudaram e o voo precisou ser adiado.

No último dia de 1968, dia 31 de dezembro, voou pela primeira vez o sonho soviético e correram tanto que conseguiram fazer o voo de estreia antes do concorrente. 

Os engenheiros fizeram os testes e perceberam que a asa não gerava tanta sustentação e era necessário acrescentar algo para melhorar. Uma pequena asa dupla foi instalada próxima do nariz do avião.

Com quatro meses antes do Concorde, o Tupolev TU-144 ganhava os céus e atraia os olhares do mundo todo. Apesar de alguns problemas terem sido corrigidos, a confiabilidade ainda era uma questão a se resolver com o novo avião.

A partir de 1970 iniciou-se a construção de outras aeronaves para que o novo supersônico pudesse entrar em serviço. Ao todo foram construídos cerca de 16 aviões, entre protótipos e aeronaves para clientes que não foram entregues. 

O jato supersônico era capaz de voar à impressionantes 2.800 km/h, transportando cerca de 168 passageiros e podendo realizar um trecho de 7.600km de distância em mais ou menos três horas. O Concorde voava a 2.179 km/h transportando 120 passageiros.

Tupolev TU-144
Foto: Alex Beltyukov – RuSpotters Team
Tupolev TU-144
Foto: Alex Beltyukov – RuSpotters Team

Apesar de ter conseguido levantar voo e realizar testes antes do concorrente do ocidente, o Tupolev teve problemas anos depois. Em 1972, Andrey Tupolev morreu curiosamente um ano antes de um dos maiores acidentes aéreos, e o que mudaria os rumos de seu projeto.

 

O acidente no Paris Air Show

É comum fabricante de aeronaves e governos tentarem usar o espaço em shows aéreos pelo mundo para demonstrar e apresentar seus produtos para captar clientes. O governo da Rússia decidiu enviar um TU-144 para demonstração para o Paris Air Show em 1973.

O escolhido foi o protótipo 004 de matrícula 77102, este era o maior evento de aviação do mundo até então. Sem causar ‘pressão’, o Concorde também estava sendo apresentado naquele show então logo os soviéticos precisavam mostrar seu produto.

A rivalidade entre os dois aviões era tão grande que os tempos de apresentação de cada aeronave foram modificados e ficaram iguais segundo orientações da Torre de Controle.

O Tupolev iniciou a sua apresentação com algumas passagens um pouco mais de altitude até virem para uma passagem mais baixa. Nessa passagem baixa, o Tupolev estava em voo com um Mirage que estava realizando um ensaio fotográfico da aeronave soviética em suas manobras.

A tripulação russa não sabia do ensaio e então buscou dar potência para subir e evitar uma aproximação dos dois aviões, mas a aproximadamente 200 metros de altitude, o avião soviético deu toda a potência de seus quatro motores mas os pilotos não conseguiram subir.

O Tupolev TU-144 então iniciou uma queda repentina e com a tripulação lutando para retomar o controle e evitar a colisão com o solo. Infelizmente poucos segundos depois a gravidade ‘entrou em ação’ e causou um colapso em suas asas que foram rompidas a aproximadamente 800 km/h.

Houve uma explosão em razão dos motores estarem a baixo das asas e os destroços do avião supersônico caíram sobre algumas casas vitimando oito pessoas no solo e mais os seis tripulantes além de mais de 20 feridos.

Uma investigação que contou com autoridades francesas e soviéticas foi iniciada logo após o desastre. Não havia o gravador de voz porque o mesmo não foi ligado pela tripulação, além disso as câmeras a bordo foram todas destruídas. O gravador de dados sofreu muitas avarias e não foi conclusiva as informações retiradas dele.

Os destroços do Tupolev foram levados para a Rússia onde foram encaixadas para tentar saber o motivo do acidente. Um ano depois, as investigações foram concluídas e nenhuma falha foi encontrada na aeronave, mas possivelmente no procedimento de manobras feitas pela tripulação.

Com a proximidade do Mirage, a tripulação executou a manobra de desvio muito brusca e repentinamente podendo ocasionar a perda de sustentação. Outra possível causa apontada é sobre a câmera instalada no cockpit que poderia ter impedido alguns controles durante a apresentação.

Permanece em sigilo sobre o que foi feito com as partes do antigo supersônico acidentado, o relatório apresentado teve aval tanto das autoridades soviéticas como francesas. 

O acidente praticamente declinou as esperanças de ver um avião supersônico soviético em operação com passageiros por mais tempo. As esperanças seriam totalmente devastadas com um outro acidente ocorrido em 1978.

Apenas a estatal Aeroflot da Rússia conseguiu operar o avião e por apenas três anos, devido também aos seus altos custos operacionais. Anos depois, a empresa também utilizou o jato para voos fretados que tinham como finalidade algumas pesquisas em voo.

O projeto em si foi encerrado em 1983, tendo seu último exemplar construído em 1984. Ainda permaneceu em operação com missões militares durante alguns anos, mas logo também foi desativado. Foram realizados pouco mais de 2.500 voos com o TU-144. 

 

NASA estuda o projeto

Logo após a Guerra Fria, a aeronave teve um grande aliado nesse desenvolvimento e acerto, a NASA. A poderosa agência espacial norte-americana se uniu à fabricantes americanas e russas para estudar e ajudar no desenvolvimento desse tipo de aeronave.

O TU-144 estava com todos os tipos de computadores a bordo para coletar dados de voo, tudo era detalhadamente coletado para que as pesquisas continuassem nos túneis de vento. Basicamente era preciso entender como uma aeronave com aquele design conseguia voar tão rápido, e como seus componentes se comportavam em voo.

Assim os primeiros testes de voo se iniciaram em 1996 com a NASA, concluídos dois anos depois em 1998. Ao todo foram feitos 19 voos para coleta de dados. O TU-144 voltava a voar alguns meses depois para realizar mais 7 voos de testes e tendo encerrado em abril de 1999.

Todos esses voos foram realizados na Rússia, nas instalações da Tupolev. Os dados coletados nesses voos mostravam informações sobre a aerodinâmica, como a estrutura como um todo se comportava diante de grandes temperaturas causadas pela velocidade do supersônico.

Além disso, os pesquisadores captavam o efeito sonoro que a passagem do jato causava.

Tupolev TU-144 NASA
Imagem: CNN/NASA

Os dados foram importantes para o desenvolvimento de um futuro jato supersônico americano, é importante lembrar que todo o trabalho de pesquisa e coleta dos dados foram feitos pela NASA, chamados de programa HSR. Mesmo com a coleta de tantos dados, o projeto do novo jato estava parado há mais de 20 anos até então.

O programa foi um sucesso, foram feitos experimentos em solo conforme os dados coletados em voo. Foram feitas todas as aplicações nos experimentos em solo, o que ajudou a aprimorar ainda mais o banco de dados do programa.

Os testes em solo serviram especialmente para ver como os motores se comportam no momento que eram acionados, no momento do taxi e no início da decolagem.

Os motores do Tupolev TU-144 eram do tipo turbofans, os ensurdecedores Kuznetsov NK-321 com 55.000 libras de empuxo com pós-combustão.

Mesmo com tanto empenho e dedicação o programa HSR foi cancelado devido ao seu  custo elevado para o desenvolvimento. A Rússia atravessava um momento delicado financeiramente, e os EUA/NASA não queriam se comprometer com um programa que poderia não obter um retorno dos investimentos.

Fato é que o programa do ‘Concordski’ em si foi um sucesso, hoje em dia a aviação está completamente avançada em relação ao período da década de 70, quando o avião foi produzido.

Talvez com a inovações da indústria aeronáutica, capacidade de realizar estudos mais aprofundados em uma nova aeronave e os efeitos que ela irá causar na atmosfera, possam reacender a esperança dos EUA de ter o seu jato supersônico.

 

 

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