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COVID: Por que levar aviões da FAB para a China é uma má ideia?

Embraer KC-390

Essa matéria pode conter trechos de opinião do autor.

 

O Governo Brasileiro está trabalhando para resolver milhares de casos de coronavírus, inclusive importando suprimentos médicos 

Enquanto uma primeira carga chegou em um voo especial da Emirates nesta última segunda-feira (30/03), outra parte ainda está na China, incluindo máscaras para proteger a contaminação através da respiração, testes para verificar a presença de coronavírus em pacientes suspeitos e demais medicações.

Enquanto alguns voos internacionais são responsáveis por trazer boa parte dessas cargas, e isto que paga o voo, o próprio Ministério da Saúde disse que enfrenta uma dificuldade para retirar esses suprimentos da China, e está perdendo para os Estados Unidos os materiais já reservados.

O governo brasileiro considerava usar rotas regulares de aviação, a contratação de aviões cargueiros ou o envio de aviões da FAB para garantir a busca de equipamentos comprados. No entanto, já há escassez de aviões cargueiros para cumprir essas rotas.

O plano C do governo, após passar pelo plano A e B, é buscar a carga com diversos cargueiros da FAB (Força Aérea Brasileira), em uma missão recorde, e nunca antes realizada. Sem problemas, a FAB tem essa capacidade.

No entanto, devemos observar a baixa capacidade de carga dos aviões da FAB, o KC-390 e o C-130, assim como a autonomia reduzida, que faz o voo precisar de várias escalas antes de chegar na China.

Vamos analisar caso a caso:

  1. Fretar um grande avião
Boeing 747-8F já visitou o Aeroporto de Brasília, e pode transportar até 132 toneladas de carga.

A primeira opção, fretar um avião para cumprir o voo direto, era a mais viável, se não fosse a imensa demanda dos países para transportar suprimentos em caso de urgência. Nesse momento, vale quem paga mais pelo voo.

Caso o Brasil optasse por fretar, provavelmente poderia escolher se a carga seria transportada em aeronaves Boeing 767F, 777F ou 747F, além do cargueiro A330F da Airbus, que poucas companhias utilizam.

Há também a opção, em disponibilidade reduzida, de utilizar o An-124 para transportar essa carga.

No caso do 777F, 747F e do An-124, mais de 100 toneladas de suprimentos médicos podem ser transportadas em um único voo, agilizando e muito o frete de toda a carga para o Brasil.

Além disso, o 777F e o 747F podem assumir voos com mais de 10000 km de distância sem escalas e com toda essa carga a bordo, logo, é possível fazer todo esse trajeto com menos de 48 horas de duração.

Muitas companhias operam com aviões desse nível, como a FedEx, UPS, LATAM, Lufthansa, Emirates, Atlas Air, Air France, as chinesas, entre outras, como a Volga Dnepr. Mas todas estão operando com toda a sua frota sempre em voo.

Mesmo demorando mais para achar uma aeronave disponível, essa é a opção mais viável no curto prazo. Lembramos que o governo conseguiu isso com a Emirates nesta semana, e em breve chega um Antonov An-124 em Brasília, com mais carga.

 

2. Utilizar a capacidade ociosa em aviões cargueiros ou que estão em voo regular

Uma das opções é trazer de modo “picado”, aproveitando a capacidade ociosa dos aviões cargueiros que vão para outros países.

A carga pode vir tanto no convés dos aviões cargueiros, como nos porões de aeronaves que ainda estão realizando voos internacionais para o Brasil. Além disso, temos à disposição alguns widebody das próprias companhias brasileiras, como a LATAM.

Um Boeing 777-300ER da LATAM Brasil pode levar até 40 toneladas em seus porões, além de cargas nos assentos na parte superior, fixadas com redes especiais. Vale ressaltar que a própria LATAM, antes ABSA Cargo, tem cargueiros na sua frota.

Assim como os cargueiros dedicados, esses aviões podem fazer voos da China para o Brasil com somente uma escala.

 

3. Utilizar aviões da FAB

No cenário atual a Força Aérea Brasileira (FAB) tem dois modelos de aviões destinados ao transporte de carga, o KC-390 e o Lockheed C-130.

Os dois são excelentes, mas diferente dos grandes cargueiros, essas aeronaves pertencem a um nicho diferente de mercado.

O KC-390, recém incorporado na frota da FAB (duas unidades no total), tem capacidade para transportar 26 toneladas, porém com um alcance bem reduzido. Por sua vez, o Hercules tem uma capacidade menor, de 19000 toneladas, isso com risco do interior da aeronave limitar a quantidade de carga.

Outro ponto é a imensa quantidade de escalas que são necessárias para um voo até o Brasil. Com o Hercules, uma missão desse tipo pode durar mais de uma semana, cansativo até mesmo para os tripulantes.

De acordo com uma fonte da Reuters, a decisão deve ser pelo uso da FAB. Isso porque as rotas comerciais estão bastante diminuídas pela pandemia e a disponibilidade de cargueiros no mercado internacional também se mostra mais difícil.

Esses são aviões extraordinários, mas que devem ser utilizados neste momento para distribuir a carga principal entre diversas regiões do Brasil, um país continental.

Vamos conferir abaixo algumas características desses dois aviões.

 
Características técnicas do Hercules:

 
Missão: Transporte aéreo, REVO, SAR, combate a incêndios
 
Capacidade: 
92 soldados
64 para-quedistas
19 toneladas de carga
 
Velocidade de cruzeiro: 541 km/h
Alcance sem carga: 4425 km
Alcance com carga máxima: 3800 km
Comprimento: 29,79 m
Envergadura: 40,4 m
Altura: 11,9 m
 
 
 
Características técnicas do KC-390:
KC-390
Missão: Transporte aéreo, REVO, SAR, evacuação aeromédica, socorro humanitário, combate a incêndios.
 
Capacidade:
80 soldados
64 paraquedistas
26 toneladas de carga
 
Velocidade de cruzeiro: 820 km/h
Alcance sem carga: 6130 km
Alcance com carga máxima: 2820 km
Comprimento: 35 metros
Envergadura: 35 metros

Altura: 11,8 metros

 

Na melhor situação, um KC-390 poderá voar com 20 toneladas a bordo, com alcance médio de 3200 km. A rapidez de um KC-390 faz ele ser equivalente a um jato Boeing 777F, no entanto este último transporta 102 toneladas, com um alcance de 9200 km.

Ou seja, uma missão desse tipo precisa de cinco aviões KC-390, com várias escalas no caminho, para fazer o serviço de um 777F. Consequentemente temos um maior gasto de combustível e com tripulantes.

São dois excelentes aviões, um moderno e outro veterano que aguenta qualquer missão, mas eles estão em outra categoria. Seria como tentar utilizar um narrowbody 737F nesta missão de longa distância.

 

 

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Pedro Viana

Autor: Pedro Viana

Engenharia Aerospacial - Editor de foto e vídeo - Fotógrafo - Aeroflap

Categorias: Notícias, Outros

Tags: Coronavirus, fab