Advertisement

Estudo da USAF revela que pilotos de caça tem maiores chances de serem diagnosticados com câncer

Um estudo realizado pelo Laboratório de Pesquisas da Força Aérea dos EUA (AFRL) revelou que tripulantes de aeronaves de caça – pilotos e operadores de sistemas d’armas – tem maiores chances de serem diagnosticados com certos tipos de câncer se comparados com militares que voam outros tipos de aeronave ou trabalham em solo. 

O estudo “Cancer Incidence and mortality among fighter aviators”, publicado neste ano e realizado pela 711ª Ala de Performance Humana do AFRL, confirma uma suspeita que já existe há anos, onde aviadores de caça estavam vendo seus colegas serem diagnosticados com câncer em taxas alarmantes.

O AFRL rastreou aviadores que registraram mais de 100 horas de voo em caças da Força Aérea de 1970 a 2004, identificando um total de 34.976 aviadores de caça. Suas taxas de câncer foram comparadas a 316.262 oficiais da Força Aérea que não pilotaram aviões de caça e estiveram na ativa por pelo menos um dia de 1970 a 2004. 

Tripulante de um caça F-15E Strike Eagle da USAF.

Em comparação com seus colegas não caçadores, o estudo descobriu que tripulantes de aviões de caça tinham 29% mais chances de serem diagnosticados com câncer testicular; 24 por cento mais probabilidade de ser diagnosticado com melanoma; e 23 por cento mais probabilidade de ser diagnosticado com câncer de próstata. 

Quando comparados à população geral dos Estados Unidos, os aviadores de caça tinham 13% mais chances de serem diagnosticados com linfoma não-Hodgkin, 25% mais chances de serem diagnosticados com melanoma e 19% mais chances de serem diagnosticados com câncer de próstata.

O estudo também descobriu que os aviadores de caça tinham taxas semelhantes de outros tipos de câncer, como câncer no cérebro, em comparação com oficiais da Força Aérea que não eram aviadores. E em comparação com a população geral dos Estados Unidos, eles tinham taxas mais baixas em várias categorias, incluindo câncer renal, tireoidiano e urinário.  

“Aviadores de caça atuais e aposentados são encorajados a discutir este relatório com seu cirurgião de voo [médico de esquadrão] ou prestador de cuidados primários, incluindo tópicos como proteção contra radiação ultravioleta e seu impacto na vitamina D, abordagens de estilo de vida para a prevenção do câncer e rastreamento de melanoma de pele e câncer de próstata”, disse o estudo. 

O estudo é o mais abrangente até hoje e representa o mergulho mais profundo em uma questão que continua a surgir entre a comunidade da aviação militar: suas carreiras militares de aviação causaram os muitos cânceres que eles agora veem entre os homens e mulheres com quem voaram? 

“Estamos prestes a sair da era de ‘Achamos que isso merece um estudo e que as taxas de incidência de câncer e mortalidade são mais altas entre os aviadores militares, mas ninguém está prestando atenção’. Isso foi em 2017, 2018 e 2019. Aqui em 2021, temos este estudo. E a Força Aérea está falando sobre isso em voz alta”, disse Vince “Aztec” Alcazar, um ex-piloto de F-15E Strike Eagle que agora lidera o comitê de questões médicas de aviadores da Red River Valley Fighter Pilots Association, uma organização privada de apoio a veteranos. 

O estudo da Força Aérea também analisou alguns caças específicos para comparar as taxas de incidência entre essas tripulações e os militares que não voavam. No entanto, havia limitações. O estudo selecionou apenas quatro modelos da era do Vietnã o F-100 Super Sabre, F-4 Phantom II, o F-105 Thunderchief e RF-4 Phantom II de reconhecimento, para olhar especificamente para as taxas de câncer dessas tripulações, embora o estudo cubra todos os caças voando em 2004, como o F-16 e o ​​F-15. 

“Aviadores de caça do sexo masculino que voaram no F-100 tinham maiores chances de serem diagnosticados e morrer de câncer de cólon e reto, câncer de pâncreas, melanoma de pele, próstata e cérebro. Eles também tinham maiores chances de serem diagnosticados e morrer de câncer de tireoide e linfoma não-Hodgkin, apesar de chances semelhantes de diagnóstico”, constatou o estudo. Tripulações que voaram o F-105 e o F-4 também apresentaram taxas mais altas de câncer testicular, melanoma e de próstata. 

Caças North American F-100C Super Sabre. Foto: USAF.

Uma revisão maior dirigida pelo Congresso também está em andamento. Administrado pela Defense Health Agency (DHA) o estudo está analisando as taxas de câncer na comunidade da aviação em todos os ramos militares, não apenas na Força Aérea. Os resultados iniciais são esperados até o final do ano, disse um porta-voz da senadora Dianne Feinstein, do Partido Democrata da Califórnia. 

O estudo da DHA começou depois que Feinstein incluiu um texto no projeto de defesa do ano passado que exigia que o Pentágono determinasse se os membros do serviço envolvidos em qualquer parte da aviação militar, seja um piloto, navegador, oficial de armas, tripulação de convés de porta-aviões ou tripulação de linha de voo, têm mais taxas de câncer do que a população geral dos EUA. 

Se a apuração da Agência encontrar taxas mais altas de câncer para a comunidade da aviação, a legislação exige que o secretário de Defesa Lloyd Austin lance um estudo mais profundo e muito mais difícil de executar. Esse estudo procuraria causas, como se as emissões dentro do cockpit podem estar associadas ou o contato com combustíveis, solventes, radares ou outros fatores ambientais. Ele também calcularia as taxas de câncer por tipo de aeronave voada e locais atendidos. Finalmente, estabeleceria recomendações para a idade em que os exames de câncer deveriam começar para esses membros do serviço. 

Um dos líderes iniciais dessa divulgação foi Thomas “Boot” Hill, um ex-piloto de F-4 Phantom e F-14 Tomcat da Marinha que serviu como comandante do Strike Fighter Squadron 143 (VF-143) Pukin Dogs e Air Boss a bordo do porta-aviões nuclear USS George Washington (CVN-73). 

Depois que vários colegas aviadores adoeceram com câncer, Hill começou a compilar um banco de dados em Excel de cada tripulante de Tomcat que ele pudesse verificar que tinha sido diagnosticado ou morreu de câncer. Ele então o expandiu para todas as aeronaves da aviação naval. O piloto começou a juntar os dados no ano de 1985 e foi até 2001 e descobriu que aqueles aviadores navais tinham três a cinco vezes mais chances de serem diagnosticados com câncer do que a população em geral. 

O Lt. Cdr. Thomas Hill. Foto: Tara Copp.

Hill morreu aos 69 anos no dia 15/10 de 2021, após uma batalha de uma década contra o câncer de esôfago. Em sua carreira de 23 anos na aviação naval, ele voou mais de 3.600 horas e fez 960 pousos em porta-aviões. O estudo da Força Aérea e o estudo mais amplo de toda a Força, esperado ainda este ano, “significam muito”, disse Lauren Farrelly, filha de Hill. “Significa que não foi tudo em vão, não foi só ele sentado, sabe, fazendo uma planilha. Nos dá algum conforto saber que isso é algo pelo qual continuaremos a lutar”. 

Via Defense One

 

Quer receber nossas notícias em primeira mão? Clique Aqui e faça parte do nosso Grupo no Whatsapp ou Telegram.

 

Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Militar, Notícias

Tags: cancer, Estudo, Pilotos de caça, T, usaexport, USAF