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Força Aérea dos EUA fala sobre missão de “farejador nuclear” na costa brasileira

WC-135 Constant Phoenix que sobrevoou costa brasileira nesta noite foi entregue à USAF em julho de 2022. Foto: USAF.

A Força Aérea dos EUA (USAF) explicou a um portal estrangeiro os motivos por trás do incomum voo de um WC-135 Constant Phoenix ao longo da costa brasileira. A aeronave, também chamada de “farejador nuclear”, é usada para coletar amostras do ar atmosférico. 

A operação da aeronave especial ocorreu na noite da última segunda-feira (16) e chamou atenção de vários usuários de sites de rastreamento de voos, que acompanharam em tempo real o trajeto do WC-135.

Voo de avião WC-135 Constant Phoenix da Força Aérea dos EUA, também chamado de Farejador Nuclear, chegou a ser o mais rastreado no site Flightradar24 enquanto sobrevoava a costa brasileira nesta segunda-feira (16).
Voo de avião WC-135 Constant Phoenix da Força Aérea dos EUA, também chamado de Farejador Nuclear, chegou a ser o mais rastreado no site Flightradar24 enquanto sobrevoava a costa brasileira nesta segunda-feira (16).

O jato norte-americano de inteligência decolou de San Juan, em Porto Rico, com o código-rádio MILLR36 e seguiu voando pela costa sul-americana ao lado de países como Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e, finalmente, o Brasil. O avião seguiu voando alto e acompanhando a costa brasileira até chegar “ao lado” do Rio de Janeiro, onde desceu a cerca de 6500 pés, deu meia-volta e começou o retorno a San Juan, subindo novamente. 

No mesmo dia o Portal Aeroflap entrou em contato com a Força Aérea Brasileira e com a 55ª Ala da USAF, que opera a aeronave, para apurar os motivos do voo. Até agora nenhuma das instituições respondeu. 

No entanto, Susan Romano, diretora de relações públicas do Centro de Aplicações Técnicas da Força Aérea (AFTAC), deu alguns detalhes da operação ao portal The War ZoneEsta foi a primeira missão do “novo” WC-135R da USAF fora dos Estados Unidos Continentais (OCONUS), e a segunda surtida operacional para este farejador nuclear, matrícula 64-14836. 

A aeronave ainda fez um reabastecimento em voo, tendo recebido 90 mil libras de combustível de um avião-tanque KC-10 Extender que apoiou a missão, realizada em coordenação com o Comando Sul dos EUA (USSOUTHCOM). Esta foi a maior transferência de combustível para o WC-135R, um ex-avião-tanque, desde que a aeronave foi recebida pela Base Aérea de Offut em julho de 2022.

“Esta foi a primeira coleta do WC-135 na costa leste central da América do Sul em quase 30 anos”, confirmou Romano. “Voar em uma área geográfica diferente ajuda a estabelecer uma linha de base de detritos na atmosfera, o que é importante para manter o mundo seguro”.

Ainda de acordo com o portal, este voo em particular foi uma chamada missão de coleta de “linha de base”. O objetivo é realizar uma amostragem de partículas do ar atmosférico “para estabelecer como devem ser os níveis de radiação atmosférica em condições normais.” 

A coleta é feita como parte da aplicação do Tratado de Proibição Parcial de Testes Nucleares. O acordo de 1963 proíbe que seus signatários conduzam testes de armas nucleares ao ar livre, no espaço e de baixo d’água. O Brasil é um desses signatários. A subsequente detecção de níveis elevados de radiação pode apontar para testes de armas nucleares em violação do tratado, ou por países que não fazem parte desse acordo, bem como outros eventos radiológicos.

Conforme dados obtidos pelo The War Zone, esta também não foi a primeira vez que os WC-135 Constant Phoenix visitaram a América do Sul desde os anos 1990. Em 2008 um dos aviões mais antigos (WC-135C/W) realizou pelo menos três desses voos, coletivamente referidos como missões Coral Phoenix. 

WC-135W, uma das versões mais antigas do farejador nuclear norte-americano, decolando da base aérea de Kadena em 2013. Foto: Ken H/@chippyho (CC BY-SA 2.0)
WC-135W, uma das versões mais antigas do farejador nuclear norte-americano, decolando da base aérea de Kadena em 2013. Foto: Ken H/@chippyho (CC BY-SA 2.0)

“Estou extremamente orgulhoso dos aviadores que executaram esta surtida de coleta”, disse o coronel da Força Aérea James A. Finlayson, comandante da AFTAC, ao portal estrangeiro. “É preciso muita colaboração para coordenar todas as partes móveis em missões como essas.” 

“Esta missão é importante, não apenas para os Estados Unidos, mas para nossos aliados e cidadãos do mundo que se beneficiam da análise do AFTAC de detritos atmosféricos e coleta de amostras. Obrigado ao Comando Sul dos EUA por sua assistência e supervisão também.”

Farejador Nuclear

Baseado na plataforma do avião-tanque KC-135R Stratotanker, o Boeing WC-135R de registro 64-14836 foi entregue à Força Aérea dos EUA em junho do ano passado, substituindo versões mais antigas do modelo. 

Apelidado de Nuclear/Nuke Sniffer (Farejador Nuclear), o jato é fruto do programa Constant Phoenix, originado em 1947. O primeiro WC-135 entrou em operação em 1965, substituindo o WB-50 (uma versão do bombardeiro B-29) com o 55º Esquadrão de Reconhecimento Meteorológico. 

Chega do "novo" WC-135R em Offutt em 2022. Aeronave foi encomendada pela USAF em 1964. Foto: USAF.
Chega do “novo” WC-135R em Offutt em 2022. Aeronave foi encomendada pela USAF em 1964. Foto: USAF.

A missão da aeronave é bastante específica: detectar partículas radioativas presentes na atmosfera. A USAF diz que a o WC-135 “oferece suporte aos consumidores de nível nacional coletando efluentes particulados e gasosos e detritos de regiões acessíveis da atmosfera em apoio ao Tratado de Proibição Limitada de Testes Nucleares de 1963.” Por isso sua presença sempre chama atenção por onde passa. 

Atualmente são operados pelo 45º Esquadrão de Reconhecimento, subordinado à 55ª Ala da Base Aérea de Offutt, no estado do Nebraska. A unidade também opera os aviões-espiões RC-135 Rivet Joint. Os equipamentos de amostragem dos WC-135 são mantidos pelo 21º Esquadrão de Inteligência do AFTAC. 

 

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Militar, Notícias, Notícias

Tags: usaexport, USAF, WC-135