Há 99 anos era realizado o primeiro reabastecimento em voo

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Os tenentes Virgil Hine, Frank Seifert, Lowell Smith e John Richter, do Serviço Aéreo do Exército dos EUA, fizeram o primeiro reabastecimento em voo em 27/06/1923 com dois biplanos Airco DH.4B. Foto: USAF.

Há quase 100 anos, quatro aviadores norte-americanos entraram para a história da aviação ao realizarem o primeiro reabastecimento em voo. O que começou como um experimento se tornou uma capacidade muito importante para diversas forças aéreas no mundo todo, incluindo a brasileira. 

O fato ocorreu em 27 de junho de 1923 em San Diego, Califórnia, e envolveu dois biplanos Airco DH.4B do Serviço Aéreo do Exército dos EUA — que mais tarde se tornou Corpo Aéreo, depois Força Aérea do Exército e finalmente, em 1947, a Força Aérea dos EUA (USAF) como uma instituição independente — tripulados pelos tenentes Virgil Hine, Frank Seifert, Lowell Smith e John Richter.

As duas aeronaves foram modificadas com base em estudos do engenheiro e aviador russo-estadunidense Alexander de Seversky. De maneira simplificada, o DH.4B de Hine e Seifert seria o avião-tanque, estendo uma mangueira de 15,24 metros até o DH.4B de Smith e Richter, que voava logo abaixo. 

Primeiro REVo 1923

Foto: USAF.

Enquanto Hine e Smith pilotavam suas aeronaves, Seifert e Richter ficaram responsáveis pela transferência de combustível entre os aviões. Com as aeronaves conectadas, os pioneiros foram capazes de transferir 284 litros de gasolina de um avião para a outro, marcando o primeiro reabastecimento em voo na história. 

O voo todo teve uma duração de 6 horas e 38 minutos, só não indo além por conta de um problema no motor do DH.4 de Smith e Richter. Dois meses depois, os mesmos aviadores voaram por 37 horas e quinze minutos em mais uma demonstração onde foram realizadas 16 transferências de combustível. Na ocasião, dois DH.4B serviram como aviões-tanque para outro biplano do mesmo modelo. 

Desenvolvimento moderno

Apesar das demonstrações de grande sucesso, o reabastecimento em voo só passou a ser desenvolvido massivamente após a Segunda Guerra Mundial, onde ficou claro que os aviões precisavam de mais autonomia. 

Em 1948 a USAF formou seus primeiros esquadrões dedicados de reabastecimento em voo, equipados com os KB-50 Superfortress com o sistema Probe and Drogue (chamado de sonda e cesta no Brasil). Mais tarde, ela passou a empregar o método que mais usa até hoje, o de Flying Boom (Lança e Receptor). 

KB-50J REVO

KB-50J reabastecendo um F-105 Thunderchief, F-100 Super Sabre e um RF-101 Voodoo simultaneamente. Foto: USAF.

Com o passar dos anos, o reabastecimento em voo (REVO na sigla em português) passou a ser algo comum dentro da aviação militar. O que um dia foi uma demonstração na clássica e romântica aviação dos anos 1920 se tornou um verdadeiro multiplicador de forças militares. 

Com o REVO, uma força aérea pode manter um avião voando por dias. A maior limitação é, essencialmente, a fadiga dos seus tripulantes.

KC-46 C-5M REVO USAF

Testes de reabastecimento do KC-46 protótipo com o C-5M Galaxy em 2019. O KC-46 é o mais novo avião-tanque dos EUA. Foto: Christian Turner – USAF.

Hoje, os EUA, cujos pioneiros fizeram o primeiro REVO, possuem a maior frota de aviões-tanque no mundo, com cerca de 627 aeronaves KC-135, KC-46, KC-130 e KC-10. Cabe lembrar que os caças F/A-18 Super Hornet da Marinha também podem atuar como reabastecedores. 

O REVO no Brasil

Assim como em vários outros países, os pilotos brasileiros também estão aptos a fazer o reabastecimento em voo. Por aqui, a prática do REVO ocorre regularmente desde 1976, 

No final da década de 1960 a FAB dava os primeiros passos para uma extensa modernização. Os anos 1970 foram marcados pela aquisição de uma série de novos vetores, com destaque para seus primeiros caças supersônicos: o Dassault Mirage III e o Northrop F-5 Tiger II/Freedom Fighter. 

Ao mesmo tempo, o Comando da Aeronáutica desejava aumentar o raio de ação de seus aviões. Dessa forma, um par de KC-130H Hércules (FAB 2461 e 2462) foram adquiridos em 1974, chegando ao país em outubro do ano seguinte e sendo entregues ao 1º Grupo de Transporte de Tropa (1º GTT), com sede no Rio de Janeiro.

Enquanto isso, a FAB comprava e instalava as sondas de REVO nos caças F-5E do 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCA), também do RJ, bem como ministrava a instrução dos pilotos dos respectivos esquadrões. 

KC-130H FAB

O primeiro avião-tanque da FAB é o KC-130H Hércules 2461, que segue em serviço até hoje. Foto: MUSAL/FAB.

Assim, em 04 de maio de 1976 (53 anos depois do primeiro reabastecimento nos EUA), dois caças F-5E (FAB 4828 e 4854) e um KC-130H (2461) se reuniram a 94 km de Uberaba (MG) para realizarem o primeiro reabastecimento em voo no Brasil. Naquele dia foram realizadas duas transferências de combustível entre o Barão 01 (código de chamada do KC-130) e Jambock Vermelho (código dos F-5).

Dessa forma, operações de REVO passaram a se tornar uma rotina no Brasil. Com a compra de quatro Boeing KC-137 (jatos 707 ex-Varig) em 1986, a FAB ampliava sua capacidade de reabastecimento.

REVO AMX KC-137 Reabastecimento em voo FAB

AMX A-1A em REVO com um KC-137. Foto: FAB

A Aeronáutica tentou instalar sondas de REVO no Mirage III e no AT-26 Xavante mas o projeto não seguiu em frente. Com a chegada do AMX A-1, o Brasil passou a ter um segundo vetor com capacidade para ser reabastecido. Em 2006, vieram os Mirage 2000B/C, também com capacidade de REVO, mas aposentados em 2013 junto dos KC-137. 

Em 2018 a Força Aérea Brasileira entrou para o seleto grupo de país que fazem REVO entre aviões e helicópteros. Em dezembro daquele ano, um H-36 Caracal fez contatos secos e transferências de combustível com um KC-130. 

Em setembro deste ano a FAB deve receber seu sexto KC-390 Millennium e logo iniciará suas próprias campanhas de REVO com este modelo. E em julho chega ao país o primeiro Airbus A330-200, que futuramente se tornará o primeiro A330 MRTT da América Latina, além do maior e mais capaz avião-tanque do continente. 

 

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Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.