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José Ricardo Botelho: “Para voar o passageiro precisa confiar”

aviação voar A330 TAP

Os últimos anos têm sido difíceis para a aviação não apenas na região latino-americana, mas no mundo. Com as restrições impostas pela pandemia e, mais recentemente, com o impacto da reorganização da malha aérea mundial, a inflação e o aumento dos custos operacionais, nosso setor novamente se encontra com importantes desafios.

Com impactos para o setor aéreo e para o turismo, que apenas no Brasil já acumula 485 bilhões de reais em prejuízo, é inegável a necessidade de estimular a aviação para seguirmos com ampla conexão entre as regiões e reativar milhões de empregos e a economia. Mas como vamos fazer?

Como membros do setor aéreo, estamos cientes da nossa responsabilidade perante os passageiros, demonstrando voo após voo que é possível continuar investindo em sonhos, reencontros e business travel. É nossa responsabilidade enfrentar o desafio de tranquilizar os passageiros, garantindo a segurança operacional e sanitária deste que é o transporte mais seguro do mundo.

Entendemos que os passageiros que experienciaram viagens aéreas nestes últimos dois anos perceberam que é seguro viajar. Com protocolos sanitários globais e constantemente atualizados, a aviação demonstrou que segue sendo uma opção extremamente segura para os viajantes que, segundo pesquisas do setor, sentiram frustração e queda na qualidade de vida com as restrições de deslocamento.

Pela ALTA, nosso papel foi o de promover continuamente o desenvolvimento do setor na região, trazendo discussões sobre a padronização de protocolos sanitários e de critérios de segurança, o reconhecimento entre Estados de testes e vacinas e um planejamento unificado dessa retomada para proporcionar os deslocamentos de pessoas, insumos e profissionais de saúde, além de buscar garantir milhões de empregos gerados pela indústria.

O mercado respondeu a esse trabalho, apresentando índices animadores de retomada do número de passageiros transportados, sobretudo no transporte doméstico. Embora tenhamos um atual contexto desafiador por alterações na malha aérea global, fica clara a percepção de que os passageiros querem viajar e que pretendem tomar as suas próprias decisões com base na confiança que sentem com o transporte.

Com as medidas adotadas pelas autoridades e por toda a indústria, o tráfego de passageiros da região latino-americana chegou ao final de 2021 apresentando redução de 28% em relação a 2019, uma melhora frente ao pior resultado registrado no auge da pandemia, que chegou a quase 100% do tráfego regional paralisado em abril de 2020. De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), no Brasil, o índice de redução do ano foi de 43,5% em relação a 2019.

Para 2022 vemos números animadores especialmente no Brasil, que em janeiro já recuperou 50% da demanda por voos internacionais em relação aos patamares pré-pandemia e apresentou uma queda de apenas 9% no índice de demanda doméstica em relação ao mesmo período, segundo dados da ANAC.

Mas ainda temos um caminho por recorrer e, para termos uma retomada total, é preciso levar em conta que os passageiros que decidem viajar consideram vários fatores para essa tomada de decisão, como o risco de mudança de regras durante o período de visita a um destino, a necessidade de testes e comprovação de vacinação, os custos com diferença de câmbios e, sobretudo, a segurança do modal e do destino escolhidos. Todos esses fatores impactam o transporte internacional, trazendo efeitos ainda maiores que os sobre a demanda doméstica.

Temos ainda os esmagadores desafios para a indústria, que busca a manutenção da maior parte dos voos e conexões mesmo em um cenário com alta do combustível e do dólar, que indexa metade dos custos das empresas.

Correspondendo a cerca de 30% dos custos, o combustível usado para o abastecimento das aeronaves é uma constante preocupação, dado que o preço do barril de petróleo que era de 60 dólares no pré-pandemia chegou a 120 dólares no último mês, um aumento de 100%.

O preço do combustível continua sendo uma grande preocupação das companhias aéreas.

Diante desse contexto, buscamos constantemente alternativas junto às autoridades dos países. Tivemos alguns avanços no Brasil, com a entrada do querosene de aviação Jet A no País, mas os custos ainda impõem um problema que precisamos enfrentar para manter nossos passageiros confiantes de que irão voar.

Nossa missão segue e os aprendizados que tivemos nesses últimos anos certamente farão parte do futuro da aviação, mas cada vez mais tenho a convicção de que o transporte aéreo e o turismo são motores de desenvolvimento do bem-estar social e devem ser continuamente estimulados e desenvolvidos. A ALTA segue incansável em seu trabalho de buscar a harmonização de regras e o estabelecimento de acordos de segurança operacional e sanitária na região para garantia dos bons resultados que conseguimos até aqui.

Se para viajar o passageiro precisa se sentir seguro, nós estaremos aqui para garantir essa percepção, afinal, como diria Santos Dumont “tudo é mais bonito quando visto de cima”.

 

José Ricardo Botelho é CEO da ALTA e escreve mensalmente para a Aeroflap

 

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Autor: José Ricardo Botelho

José Ricardo Botelho é advogado, graduado pela Universidade Católica de Salvador, Brasil, com experiência na aviação civil e no serviço público. Antes de ingressar na ALTA, em 1º de junho de 2020, José Ricardo atuou por 4 anos como diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil do Brasil (ANAC), instituição que, sob sua liderança, atingiu marcos importantes que resultaram no ambiente regulatório atual, eficiente e capaz de proporcionar maior competitividade ao mercado aéreo brasileiro.

Categorias: Notícias

Tags: ALTA, Coluna, demanda, José Ricardo Botelho, mercado, usaexport