Em 1970 a França, que já era uma tradicional fabricante de aviões, embarcou na jornada para desenvolver caças de 4ª geração. Deste trabalho, surgiram dois aviões: o Dassault Mirage 2000, um caça leve que permanece voando ainda hoje, e o Dassault Mirage 4000, que por mais que tivesse excelente performance, acabou não dando certo.
Também chamado de Super Mirage 4000, o enorme delta foi projetado para atuar confortavelmente como um interceptador de longo alcance ou caça-bombardeiro, similar em tamanho, peso e performance ao Sukhoi Su-27 Flanker russo e ao McDonnell Douglas F-15 Eagle dos Estados Unidos. O 2000 e o 4000 foram desenvolvidos paralelamente, com o primeiro sendo custeado pelo governo francês e o 4000 sendo bancado pela Avions Marcel Dassault-Breguet Aviation.
A fabricante usou conhecimento obtido com o projeto do Mirage F2 (cancelado na década anterior) para desenvolver o M4000. Em termos gerais, o Super Mirage era como um Mirage 2000 maior, usando inclusive o mesmo motor, o SNECMA M53 P-2, mas alimentado por dois destes turbojatos. Aliás, os motores foram uma das pouquíssimas contribuições do governo francês ao projeto, autorizando a Dassault a usar os M53 dos estoques do programa Mirage 2000.
Seu primeiro voo aconteceu em 10 de março de 1979, um dia antes do primeiro voo do Mirage 2000 completar um ano. Logo de cara o protótipo, sob os comandos do piloto de testes Jean-Marie Saget atingiu velocidades supersônicas; cinco voos depois, o caça pesado ultrapassou Mach 2 (duas vezes a velocidade do som).
Para bancar o maior consumo dos dois motores, o 4000 carregava três vezes mais combustível que seu ‘irmão menor’. Também possuía canards e usava fibra de carbono e boro na sua construção, diminuindo o peso e melhorando a performance da aeronave. Dessa forma, mesmo sendo bem maior que o Mirage 2000, o Mirage 4000 ainda mantinha uma boa manobrabilidade, característica dessa família de caças franceses.
Em termos de armamentos, o grande delta possuía 11 pontos duros e capacidade para oito toneladas de armamentos diversos, incluindo mísseis ar-ar de curto e médio alcance, bombas convencionais ou guiadas, foguetes, mísseis ar-solo e outros, bem como os tanques subalares e os tradicionais canhões DEFA de 30 mm.
O Mirage 2000 disputava mercado com aviões de caça mais leves, como o F-16 Fighting Falcon, e era o substituto natural do Mirage III, sendo adotado rapidamente pela Força Aérea Francesa. O Mirage 4000, no entanto, não chamou atenção do seu próprio governo e a Dassault focou esforços na exportação. Mesmo assim, apenas dois países demonstraram interesse no projeto: Arábia Saudita e Irã, que chegaram a iniciar tratativas para comprar a aeronave, mas não seguiram adiante.
O Reino Saudita acabou adquirindo duas aeronaves: o Panavia Tornado pan-europeu e o norte-americano F-15, dois modelos que ainda são operados pelo país. O Irã, por sua vez, viveu a Revolução Islâmica de 1979, que o fez cortar as relações amigáveis com Europa e EUA, cujos reflexos são vistos até hoje.
Sem clientes, o projeto do Mirage 4000 acabou sendo cancelado. A aeronave ainda seguiu voando como plataforma de ensaios e demonstração de tecnologia, inclusive sendo usado no desenvolvimento do projeto ACX, que deu origem ao Dassault Rafale, atualmente um sucesso de vendas da companhia francesa. Durante sua “carreira”, o Mirage 4000 realizou mais de 360 voos. O único protótipo construído encontra-se preservado no Museu do Ar e Espaço, em Paris.