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O Ás americano que derrubou um avião… americano!

Pouquíssimos pilotos americanos abateram aviões das três forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Mas um deles foi além e derrubou um avião do seu próprio país, e não foi “sem querer.” 

Hoje contamos a história de Louis Edward Curdes, um dentre quatro pilotos dos Estados Unidos que conseguiu a façanha de abater aeronaves dos três países do Eixo. Os outros são John Bright, Carl Payne e Levi Chase. 

Ele entrou na USAAF (Força Aérea do Exército dos EUA) em março de 1942 e no final do mesmo ano já havia se formado piloto com a graduação de 2º Tenente. Ele foi enviado ao Teatro do Mediterrâneo em março de 1943, designado para voar o P-38 Lightning. 

Desenvolvido pela Lockheed, o bimotor P-38 é um dos caças mais lendários da Segunda Guerra Mundial. Seu canhão de 20mm e suas metralhadoras .50, todos concentrados no nariz da aeronave, lhe davam um grande e preciso poder de fogo. O caça era chamado de “Demônio de Duas Caudas” pelo Exército da Alemanha Nazista.

P-38F Lightning “Glacier Girl”, similar ao que Curdes voou no Mediterrâneo. Foto via Club Aéronautique de Saint-Barthélemy.

Em 29 de abril, Curdes conseguiu seus primeiros abates, derrubando três caças alemães Messerschmitt Bf 109 na península de Cape Bon, na Tunísia. Em maio ele abateu mais dois Bf 109 na Ilha de Sardenha, tornando-se oficialmente um Ás. 

No mês seguinte ele derrubou um caça italiano Macchi C.202 Folgore, também na Sardenha. Em julho danificou mais um Bf 109 durante um enfrentamento sobre Pratica di Mare, região central da Itália. Curdes recebeu a Distinguished Flying Cross, uma das mais importantes condecorações dadas aos pilotos durante a Guerra. 

Todavia, em 27 de agosto de 1943, a sorte de Louis Curdes acabou. Após derrubar dois Bf 109 em um violento combate, Curdes teve que fazer um pouso forçado em seu P-38 após ser atingido. Em solo, ele foi capturado pelos italianos e feito prisioneiro de guerra.

C.202 Folgore. Arte by Francis Bergese.

Porém, em 08 de setembro de 1943 a Itália se rendeu. Os guardas do campo, antevendo a invasão alemã no país, soltaram os prisioneiros e fugiram. Curdes e outros fugitivos passaram oito meses “nas escondidas” até conseguirem chegar em território aliado em maio de 1944. 

Repatriado, Curdes, voltou à sua cidade natal, Fort Wayne (Indiana). Mas ele ainda não estava satisfeito e no final do ano voltou ao combate, dessa vez lutando contra os japoneses no Teatro do Pacífico. 

Ele agora voava o North American P-51D Mustang com o 3rd Air Commando Group, um esquadrão de operações especiais responsável por realizar missões de suporte aéreo aproximado, escolta de navios e logística, empregando aeronaves de caça, transporte e ligação. 

Em 07 de fevereiro de 1945, a 48km de Taiwan, Curdes abateu um avião de reconhecimento japonês Mitsubishi Ki-46 Dinah. Finalmente ele havia abatido aviões dos três países do eixo, totalizando nove “kills”: sete aviões alemães, um italiano e um japonês.

Ki-46 Dinah capturado pelos EUA. Foto via World War Photos.

Mas apenas três dias depois viria o evento que “fez seu nome” e lhe trouxe seu último, e mais polêmico, abate. 

Em 10 de fevereiro de 1945, Curdes liderava uma esquadrilha de quatro Mustangs, procurando uma suposta base aérea japonesa, que no fim não foi encontrada. Sobrevoando a Ilha de Batan, no Estreito de Formosa, o grupo encontrou um par de caças japoneses sobrevoando uma pequena base aérea. 

No confronto, um dos pilotos, Tenente La Croix, foi atingido pela artilharia antiaérea inimiga, tendo sido obrigado a saltar no mar.

Curdes ordenou que o Tenente Sculley, ala de La Croix, voltasse à base de Magaldan (de onde haviam saído) para acionar reforços, enquanto o seu próprio ala, Tenente Schmidtke, subia para obter uma cobertura de rádio maior a fim de chamar o resgate, este na forma de um hidroavião PBY Catalina.

PBY-5A Catalina. Foto: Alan Wilson via Wikimedia.

Enquanto isso, Curdes atacava os caças japoneses em solo com as seis metralhadoras .50 de seu P-51. Após uma última passagem, ele viu um bimotor se aproximando da pista a partir do leste e decidiu investigar. 

O bimotor era um Douglas C-47 Skytrain, com marcações da própria USAAF. Curdes tentou contato com o piloto do bimotor de transporte pelo rádio, o que não deu certo. Então ele cruzou na frente da aeronave três, tentando mudar a sua rota. 

Também não adiantou. Determinado a impedir o pouso e a subsequente captura do C-47, Curdes tomou uma atitude impensável: ele alinhou seu P-51 atrás do Skytrain e disparou as metralhadoras no motor direito. 

Mesmo assim, o C-47 persistia, não mudando seu curso de jeito nenhum. Curdes então disparou no motor esquerdo, forçando o C-47 à pousar na água. Felizmente, todo os ocupantes saíram da aeronave com vida. O Tenente La Croix se reuniu com as “vítimas” de Curdes. Todos foram resgatados.

Curdes seu último abate, salvando seus compatriotas da captura certa pelos japoneses.

C-47A Skytrain dos Jungle Skippers. Foto: Don O’Brien.

Mais tarde foi descoberto que o C-47 pertencia ao 317º Grupo de Transporte de Tropas, apelidado de “Jungle Skippers”, e estava transportando correspondências e passageiros de Leyte para Clark Field. Os pilotos se perderam e depois de mais de cinco horas no ar, com pouso combustível, precisavam pousar em algum lugar. Ao avistarem a pista (que eles não faziam ideia de que era japonesa), eles cruzaram caminhos com o Tenente Curdes.

As marcas de abate na réplica do P-51D Bad Angels de Curdes. Foto: Southern Arizona Guide.

Depois do resgate, algo ainda mais inusitado ocorreu: Curdes descobriu que dentre os passageiros havia uma enfermeira que ele havia paquerado na noite anterior. Svetlana Valeria Shostakovich Brownell e Louis Edward Curdes casaram em 1946. 

Louis seguiu voando na Força Aérea até 1963, quando se aposentou como Tenente Coronel. Ele faleceu em 1995, aos 75 anos. Svetlana faleceu em 2013, com 87 anos. 

No Museu Aéreo de Pima, no Arizona, existe uma réplica de seu P-51D, batizado como Bad Angel

E assim terminamos uma bizarra história de guerra, amor e fratricídio! 

Réplica do P-51D “Bad Angel” de Louis Curdes. Foto: Pima Air & Space Museum.

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar

Tags: C-47, P-51, Segunda Guerra Mundial, usaexport