O foguete que o Brasil não fez – Rocket Lab Electron

Foto - Rocket Lab/Reprodução

O programa VLS já se arrasta por décadas, ele iniciou lá na época da ditadura militar, quando a perspectiva do Governo Brasileiro era ser independente das nações estrangeiras. Aliás, eles quiseram ser independentes em tudo, criaram a Embraer, que fornecia alguns aviões para a FAB, os carros não poderiam ser importados e até mesmo para trazer um videocassete de fora era complicado.

O programa pode ser dito como finalizado em 2003, depois que um trágico acidente vitimou uma equipe de especialistas na área. A desculpa é que o Brasil perdeu muitos engenheiros e pessoas que conheciam sobre construção de foguetes, mas isso nunca foi problema para vários países. E dá para formar especialistas em 10 anos.

Foto – Rocket Lab/Reprodução

Mas tomamos outro 7×1, dessa vez da Nova Zelândia, que através da empresa Rocket Lab, formada pelos empresários Peter Beck e Mark Rocket (eta sobrenome) constituíram na Nova Zelândia, mas com sede nos Estados Unidos, essa empresa, ao mesmo tempo em que Elon Musk evoluía juntamente com sua equipe, para testar as peripécias do Falcon 1.

Todas as atividades da Rocket Lab foram iniciadas em 2006, e desde então eles trabalham firme e com orçamento apertado para aplicar toda modernidade possível, inclusive de materiais, para construir um foguete capaz de colocar mais de 150 kg em órbita baixa. 

 

O foguete Electron

Como dito acima, o foguete Electron construído pela Rocket Lab nos EUA é capaz de carregar cerca de 150 kg em órbita baixa. Ele é muito fácil de construir, sua estrutura cilíndrica de 17 metros abriga os tanques de oxigênio e querosene, todos em forma líquida, além do segundo estágio, é todo feito em fibra de carbono para diminuir o peso e aumentar a eficiência do foguete, conseguindo levar cargas de maior peso.

Seus 9 motores foram fabricados em uma impressora 3D, isso mesmo, bem automatizado o processo, é só colocar no CAD, escolher o material e mandar a impressora fazer, após é só realizar uma inspeção visual e o acabamento. Todo esse processo de fabricação dura apenas 24 horas. Depois de criados eles foram batizados de Rutherford, um bom nome, considerando que ele foi o pai da física nuclear.

Arranjo dos motores. Foto – Rocket Lab/Reprodução

As turbo-bombas, um item que é bem complicado de projetar e colocar para funcionar, no Electron são feitas por motores elétricos, ao invés de contar com a gravidade para bombear o combustível, assim é possível simplificar o design do foguete. Para isso a Rocket Lab projetou uma turbo-bomba capaz de girar até 40 mil rpm, variando sua rotação para alterar a potência necessária, de acordo com o momento do voo, essa turbo-bomba elétrica é conectada em baterias.

Os motores elétricos das turbo-bombas não têm escovas, as baterias são feitas de Li-Po para aliviar o peso e a Rocket Lab manteve a circulação de querosene líquido ao redor da “tubeira” para conseguir obter o resfriamento.

Foto – Rocket Lab/Reprodução

Esse esquema aumenta a eficiência de bombeamento para 95%, em comparação os foguetes atuais que usam as turbo-bombas convencionais e atingem apenas 50% de eficiência no bombeamento de combustível e oxidante.

Com uma equipe competente e enxuta, baixos custos de produção e também alta tecnologia aliada, o foguete da Rocket Lab custa APENAS US$ 4,9 milhões por lançamento, isso mesmo, um valor irrisório considerando que nosso VLS com a mesma capacidade de carga custa por unidade cerca de US$ 140 milhões.

Para ter noção, até a base de lançamento deles é simples, com apenas um braço como componente estrutural, que conecta no foguete através de duas garras laterais.

 

Primeiro lançamento do Electron

Foto – Rocket Lab/Reprodução

Eis então que os engenheiros da Rocket Lab abrem uma janela de lançamento com duração de 10 dias, tudo seria realizado diretamente da Nova Zelândia, com acompanhamento da equipe nos EUA. Você pode imaginar que durante o lançamento de um foguete simplesmente tudo pode dar errado, e foi exatamente essa sequência de fatos que aconteceu dentro desta janela de lançamento, que foi aberta no dia 22 de maio.

No primeiro dia o tempo não ajudou, voo para o espaço cancelado, no segundo dia o tempo também não foi generoso, outro voo espacial cancelado, então no terceiro dia a equipe da Rocket Lab abastece o foguete Electron e manda ele para o espaço (literalmente). 

A primeira missão, batizada de It’s a Test (É um teste), foi um sucesso, apesar de não ter atingido a órbita e ter chegado somente no espaço. O primeiro voo bem-sucedido mostra uma maturidade da empresa e o conhecimento de seus engenheiros, que projetaram e testaram um foguete sem o risco de haver falhas, desde o início.

“Foi um ótimo voo. Tivemos uma excelente queima do primeiro estágio, seguida da separação e ignição do segundo estágio com separação de carenagem. Nós não conseguimos atingir a órbita e estaremos investigando o porquê, no entanto, mas alcançar espaço em nosso primeiro teste nos coloca em uma posição incrivelmente forte para acelerar a fase comercial do nosso programa, entregar nossos clientes para a órbita e abrir espaço para negócios”, disse o CEO da Rocket Lab Peter Beck.

 

Local de Lançamento e certificação do foguete

Além de ser um local bastante bonito, a Península de Mahia foi realmente mais favorável a partir de uma consideração geográfica, pois permite uma ampla gama de inclinações orbitais disponíveis para lançar vários voos na Sun-Synchronous Orbit (SSO) em inclinações que variam entre 39 e 98 graus.

A Península de Mahia também ofereceu menor interação com rotas da aviação, permitindo que o local seja licenciado para operar até 100 voos espaciais por ano, sendo estes realizados em no mínimo 72 horas de intervalo entre o primeiro e o segundo, assim é possível realizar até 2 lançamentos por semana.

O Centro de Controle de Missão da Rocket Lab está localizado em Auckland, na Nova Zelândia, e fica bem distante do local de lançamento, aproximadamente 500 km, o local permite o monitoramento de 25 mil canais de dados durante a contagem regressiva e o lançamento.

 

O mercado

Um satélite de 150 kg é pequeno se comparado com os imensos geoestacionários, como o SGDC, que precisou de uma ajudinha europeia para ser colocado em órbita, e pesa quase 6000 kg. Porém vários satélites de baixa órbita, principalmente os futuros de distribuição de internet, não têm peso elevado, principalmente pelo tipo de órbita.

Outros satélites meteorológicos e de imageamento de baixa órbita também diminuíram de tamanho com a evolução da tecnologia, sem contar na febre dos nano-satélites, só a Índia lançou 88 destes de uma vez, utilizando o seu foguete.

Em 2015, a NASA introduziu um novo programa para fornecer grupos de SmallSats. Como parte desse programa, a Rocket Lab obteve um prêmio de US$ 6,9 milhões para conduzir um voo de demonstração do grupo SmallSat. (Na época, a Rocket Lab dizia que o primeiro voo do Electron seria em 2015.)

Outros clientes eletrônicos confirmados até agora da Rocket Lab são a Planet, Spire e a Moon Express, a primeira empresa citada foi a responsável por colocar os 88 nano-satélites no foguete indiano.

 

Infográfico:

Foto – Rocket Lab/Reprodução

 

Veja o vídeo de como foi o primeiro lançamento do Electron.:

 

Teste de um motor  :

 

 

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