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Paixão por voar e servir: A história do pioneiro da aviação Rolim Amaro

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Este é um daqueles artigos que nos faz viajar no tempo para conhecer raízes dos grandes pioneiros da aviação, e hoje vamos conhecer a do eterno Comandante Rolim Adolfo Amaro, que tem sua história em elo com a da TAM.

Infelizmente hoje dia 8 de julho, completou 21 anos de seu voo mais alto, veio a falecer em decorrência de um acidente aéreo, este artigo é uma homenagem a sua trajetória que influenciou e muito para o desenvolvimento da aviação no Brasil.

As origens de Rolim Amaro

Nascido em 15 de setembro de 1942 em uma cidade do interior de São Paulo chamada Pereira Barreto, Rolim era de uma família humilde mas bem unida. Desde sempre deixou claro a sua paixão, a aviação que também era a de seu irmão João Amaro.

Para poder ajudar a sua família com as contas de casa, Rolim precisou largar os estudos ainda no terceiro ano ginasial, o que equivale nos anos atuais aos últimos anos do ensino fundamental.

Além de trabalhar bastante para ajudar sua família em casa, o jovem Amaro juntou uma quantia em dinheiro e conseguiu se matricular para o curso de piloto no Aeroclube de Catanduva (SP).

Nesse tempo ele atuou em diversas funções, foi aprendiz de escrevente e contador, office-boy de banco e também assistente de mecânico. Um ano fazendo o curso, Rolim conseguiu tirar o seu brevê e logo se mudou para Londrina no Paraná onde sua vida começaria a se entrelaçar de fato com a aviação.

O tão sonhado primeiro emprego na área veio, Rolim Amaro conseguiu um emprego na Táxi-Aéreo Star como piloto, voando um Cessna 140 de apenas dois lugares. Pouco tempo depois, voltou para o estado de São Paulo mas dessa vez em São José do Rio Preto onde passou a pilotar para a Táxi Aéreo Rio-pretense.

A empresa estava totalmente envolvida nos projetos agroindustriais e precisava de pilotos  de Cessna 170 para o transporte de produtos pelo estado. Mas como um ambicioso trabalhador, Rolim não parou por ai e logo entrou naquela que seria uma das maiores paixões de sua vida, ele entraria para a Táxi Aéreo Marília a famosa TAM.

A pequena empresa de táxi aéreo foi fundada em 1961 por dez aviadores era a transportadora de produtos para as indústrias do empresário Orlando Ometto. Como piloto da empresa, ele passou a realizar o transporte de diversos tipos de materiais inclusive alimentos como arroz, açúcar e até animais foram transportados.

Rolim Amaro tinha o maior cuidado com o Cessna que ele pilotava, que além de pilotar também cuidava da manutenção e preparação de cada voo. Nesses primeiros anos de TAM, o jovem piloto ganhou muito dinheiro, e já olhava firme para o futuro.

Com tantas viagens e muito trabalho, ele acabou adoecendo diversas vezes, inclusive pegando malária pelo menos sete vezes. 

Depois de tantos anos, a TAM teve 51% de suas ações compradas pelo Grupo Ometto e mudou sua sede para São Paulo. A história entre Rolim e a empresa ganharia uma ‘vírgula’, já que com a aquisição pelo Grupo Ometto, a empresa mudou o seu foco.

A partir de meados de 1965, a empresa passaria a ser uma companhia cargueira para transportar apenas malotes algo que não agradou muito Rolim. Ele era uma pessoa que gostava do contato com o público, gostava de ajudar e transmitir sua empatia. 

Seguindo os seus preceitos como ser humano, ele decidiu mudar os rumos de sua carreira profissional na aviação, seguiu então para a VASP. Não demorou muito e logo recebeu um novo convite, a do Banco de Crédito Nacional que tinha o avião disponível mas não o piloto.

O convite seria para ser piloto na Companhia de Desenvolvimento do Araguaia no Mato Grosso, ele aceitou e conseguiu ganhar um valor ainda mais alto por seus serviços. Tamanha bonificação, Rolim conseguiu trazer sua família para morar em São Félix do Araguaia no Mato Grosso.

Além disso teve mais uma grande conquista como aviador, o seu primeiro avião, que era um Cessna 170 com capacidade para até três passageiros. Esse foi o suficiente para que ele começasse sua primeira empresa, a Araguaia Transportes Aéreos (ATA).

Em pouco mais de dois anos operando, já tinha 15 aeronaves, mais do que a própria TAM do Grupo Ometto. Sua vocação como empresário no ramo da aviação atraiu os olhares do grande empresário e político Orlando Ometto.

Em 1968, Ometto ofereceu à Rolim 33% das ações da Táxi Aéreo Marília (TAM), sendo acionista minoritário da empresa. A oferta fez Rolim pensar e balançar, colocou na balança sua situação e também a da empresa que não estava em boas condições.

Apesar dos desafios ele fez valer a sua coragem e visão revolucionária e aceitou a proposta, inclusive quatro anos depois em 1972, comprou metade das ações da TAM e acabou assumindo a direção da empresa.

Lembra da ‘vírgula’ dada na história entre Rolim e TAM? Ela foi continuada e avançou para se tornar uma das maiores histórias de sucesso do país.

TAM e Rolim, paixão que os uniram

Rolim Amaro TAM
Foto: Autor Desconhecido

Logo de cara a administração da empresa mudou radicalmente, e em um ano Rolim apostou no crescimento do setor de aviação no Brasil e trouxe para a TAM seus primeiros 10 novos Cessna 402, que tinham capacidade para até 10 passageiros.

Sua competência alinhada a forma arrojada em fazer negócios, a empresa iniciou voos regulares com os novos aviões em 1975 ligando São José dos Campos ao Rio de Janeiro além do voo entre São Paulo e Araraquara. 

A partir dai, Rolim Amaro passaria a ser o maior acionista da TAM, ficando com 98% das ações da empresa, tamanho avanço a ascensão atraiu os olhares de todo o país.

O crescimento da empresa era maior do que o do próprio setor, a TAM tinha apresentava crescimento a cada seis meses de pelo menos 70%. Já com voos regulares, a empresa passou a se chamar em 1976, TAM Transportes Aéreos Regionais, se tornando assim uma companhia aérea brasileira.

A partir desse ano também passou a operar com aviões brasileiros, o Embraer EMB-110 Bandeirante e ampliou suas rotas para São Paulo, Paraná e Mato Grosso. Na virada da década, em 1980, Rolim avançou ainda mais com a TAM, trazendo os primeiros Fokker F-27.

Não demorou muito e em menos de um ano, a TAM de Rolim havia transportado nada mais nada menos que 1 milhão de passageiros, para a época que a aviação ainda estava se desenvolvendo regionalmente, se tornou uma marca expressiva com tão pouco tempo de operação.

Essa marca seria rapidamente deixada para trás, quando em 1984 a empresa chegou aos 2 milhões de passageiros transportados. Rolim fazia questão de alinhar a eficiência com a qualidade, uma de suas grandes marcas por onde passou e aplicou o conceito na TAM.

Tanto é que a companhia aérea foi premiada pela excelência de seus serviços ainda em 1984, conquistou o prêmio Top Marketing. 

A TAM de Rolim Amaro não parou por ai, e viu uma oportunidade de negócio ao adquirir a Votec em 1986, transformando assim na Brasil Central. A aquisição permitiu a ampliação da malha aérea para o Centro-Oeste e Norte do Brasil.

Ainda em 1986, a companhia lançava uma rota ‘direta’ que ligava as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. O Fokker F-27 se tornou o primeiro avião da empresa a receber o novo serviço ‘Primeira Classe’, um serviço diferenciado que ligava as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro em 1989.

Ainda era pouco para a grande ambição de Rolim, e ele foi diretamente na Fokker negociar a vinda do primeiro jato da empresa, o F-100. Essa aeronave se tornou a espinha dorsal da TAM por muitos anos, e pilar para tudo que a companhia se tornou nos dias atuais.

O jato era uma das maiores modernidades na época, e a TAM foi a primeira a trazer o modelo para o Brasil, inaugurando uma nova era da empresa. Com serviços diferenciados, tapete vermelho, o cliente era a maior honraria da era Rolim Amaro, tudo era diferenciado nos voos da companhia.

O TAM Fidelidade, programa de milhagem e pontos foi lançado em 1993 como uma das formas de ‘mimo’ para os passageiros da empresa.

Rolim cresceu como piloto e empresário mas nunca abandou suas origens humildes, sempre pensando no próximo ele criou a Fundação Eductam, que dava bolsas de estudo e ajuda humanitária para famílias carentes. Os projetos também foram aplicados aos esportes e culturais, mostrando o lado humano da empresa.

A paixão por aviação o fez realizar voos altos, sua vocação em conjunto com sua vontade de conquistar tantas coisas o fizeram um grande e histórico aviador. Rolim fez questão de criar o Museu Asas de um Sonho, como uma forma de preservar a memória da aviação brasileira.

Para isso, ele comprou um antigo Aeroporto que estava desativado em São Carlos, interior de São Paulo, e construiu um espaço onde se tornou o maior acervo de aeronaves e história da aviação brasileira. No mesmo local, começou a construir um Centro de Manutenção para as aeronaves da TAM.

Inegável que sua trajetória era de muita luta e muitos ensinamentos, se tornando um exemplo de cidadão e de profissional que logo lhe renderam prêmios como: ‘Ordem Mérito Santos Dumont’ (1993), ‘Opinião Pública’ (1993), ‘Homem de vendas’ (1994), ‘Prêmio da Revista Exame “Maiores e Melhores” na categoria de Transporte Aéreo (1994)’.

A história continuava, e a TAM brilhava os olhos de milhares de pessoas, incluindo a primeira mulher a fazer parte da tripulação da empresa e foi recebida pessoalmente por Rolim em 1994.

Tantas inovações tecnológicas como embarque eletrônico sem o bilhete e o Cartão de Crédito TAM Fidelidade, renderam para a empresa o prêmio de ‘Melhor companhia aérea do Mundo’ pela Exame e também pela Air Transport World.

A TAM não parava de crescer e incomodar as gigantes do setor, principalmente quando mudou radicalmente a estrutura da empresa após a aquisição da Helisul em 1996. A Brasil Central passou a ser TAM Meridional e a TAM Regional passou a ser ‘Linhas Aéreas’.

A partir dai começou uma expansão até então nunca vista no Brasil, trazendo pela primeira vez aeronaves Airbus A330-200 para a companhia aérea, no qual foram utilizados nos primeiros voos internacionais da empresa para Miami e Paris.

Serviços de Classe Executiva em voos entre São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba são lançados, inovando totalmente as ‘super pontes’. A TAM chegava aos anos 2000 com um faturamento na casa de  US$ 1 bilhão, uma frota de 98 aeronaves com idade média de menos de cinco anos.

Como diria o Comandante Rolim Amaro, a ambição da TAM era exibida em seus serviços e principalmente na maneira de lidar com o passageiro, o caminho estava praticamente traçado para que ela se tornasse a empresa de bandeira do país.

Tamanhas conquistas pela TAM foram graças a filosofia implementada com ‘sete mandamentos’:

1- Nada substitui o lucro.
2- Em busca do ótimo não se faz o bom.
3- Mais importante que o cliente é a segurança.
4- A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder.
5- Pense muito antes de agir.
6- A humildade é fundamental.
7- Quem não tem inteligência para criar tem que ter coragem para copiar.

Tudo estava indo cada vez melhor para a TAM, novos destinos, mais voos e conquistando espaço no mercado brasileiro de aviação comercial, tudo iria bem até 2001.

A morte de Rolim

Ironia do destino ou não, o Comandante Rolim nos deixou em um acidente aéreo no Paraguai em 2001. Aos 58 anos perdia sua vida acompanhado de Patrícia Santos Silva, Gerente comercial da TAM.

O presidente da empresa estava voando em um Robinson R-44, e segundo informações da polícia estava em baixa altitude e bateu em uma árvore. O helicóptero era de Rolim e era relativamente novo, eles partiram de sua fazenda em Ponta Porã no Mato Grosso do Sul para o Paraguai para uma reunião de negócios.

O corpo do presidente da TAM foi velado no hangar da empresa no Aeroporto de Congonhas, de onde viu tantas conquistas de sua querida e amada companhia aérea.

A morte de Rolim não foi apenas uma perda lastimável, significou um duro golpe na companhia que ao longo dos anos perdeu seus valores que eram tão aplicados por Rolim Amaro.

Rolim Amaro  Companhia Aérea TAM
Foto: Autor Desconhecido

Os detalhes de como tornar o ‘passageiro único’ a bordo dos voos da TAM, foram se perdendo ao longo dos anos e a história ficaria apenas na memória e nos livros e artigos.

A aviação dos dias atuais dificilmente seria ‘aceita’ por Rolim, que sempre prezou por seus valores como humano e os aplicou em todos os anos de TAM. Uma aviação que deixou de lado os fatores que tornaram a experiência de voar, única. 

Receber um passageiro com balinhas, tapete vermelho entre outros ‘mimos’ hoje parece ser algo impossível. Rolim Adolfo Amaro não criou apenas uma das maiores empresas do país, criou também conceitos e filosofias que o fizeram ser um grande aviador e acima disso, um grande ser humano.

Por alguns anos ainda ficou como slogan em um período de renovação da TAM, ‘Paixão por voar e servir’. Certamente o legado de Rolim na empresa, na aviação e na vida de milhares de pessoas será eterno.

Amaro Aviation Comandante Rolim Amaro
Foto: DIvulgação

Como uma das formas de eternizar, o Governo de São Paulo construiu a passarela Comandante Rolim Amaro sobre a Avenida Washington Luís, que permite passageiros e cidadãos paulistas a atravessar com segurança. Além disso há também uma praça em homenagem ao aviador rente à passarela. 

O ‘Comandante Rolim’ ainda segue voando nos céus do Brasil, nas aeronaves da Amaro Aviation. Seu filho Marcos Amaro, de maneira um pouco diferente segue os passos do pai ao criar uma empresa com conceitos e serviços diferenciados. De uma maneira ou de outra, o eterno aviador nunca sairá da aviação brasileira e nem dos corações brasileiros.

 

 

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