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Restos de caça F-5 desaparecido há 40 anos são encontrados na Lagoa dos Patos (RS)

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O misterioso desaparecimento de um caça F-5E Tiger II da Força Aérea Brasileira (FAB) pode finalmente ter chegado ao fim, 40 anos depois de seu sumiço. Um pescador e um velejador encontraram partes do jato supersônico que sumiu na Lagoa dos Patos em 1982. 

O acidente, contado em outra matéria deste portal, completou quatro décadas neste ano. Em 28 de julho de 1982, um par de caças F-5 do Esquadrão Pampa (1º/14º GAv, unidade da Base Aérea de Canoas) decolou para uma missão de dogfight, operação que sempre fez parte da rotina da unidade. As aeronaves voaram para uma das áreas de treinamento sobre a Lagoa dos Patos e começaram o combate. 

Caças F-5E sobrevoando a Lagoa dos Patos.

Em um dos F-5, de matrícula FAB 4831, estava o Tenente Aviador Edson Luiz Chiapetta Macedo. Aquele seria seu último voo. Em algum momento do treinamento, o Tenente Edson sofreu uma desorientação espacial e mergulhou com o caça na Lagoa. O outro F-5 regressou à Canoas e a FAB iniciou as buscas imediatamente. Durante duas semanas, a Força Aérea, a Polícia e o Corpo de Bombeiros procuraram pelo F-5, achando apenas pequenos pedaços. 

O mistério foi se perpetuando, com a população criando teorias e suposições sobre o acidente, algumas que mencionam deserção e até extraterrestres. Mas toda essa história encontrou um novo capítulo, provavelmente um de seus últimos, há cerca de um mês, quando o pescador Josoé Ortiz, de Palmares do Sul, acabou capturando um dos pedaços do avião em uma de suas redes para a pesca de tainhas. 

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Pedaço do painel encontrado na Lagoa dos Patos pelo pescador Josoé Ortiz. Foto: Cristian Yanzer – Arquivo pessoal.

Josoé então entrou em contato com um colega que buscava dar um fim ao mistério. Cristian Yanzer é piloto de linha aérea e velejador. Em entrevista ao AEROFLAP, ele conta que quando criança, presenciou vários destes treinamentos aéreos enquanto pescava com seu pai na Lagoa do Casamento. 

Por volta dos 12 anos, o aviador, que hoje tem 44 anos, conheceu a história do piloto e o avião da FAB desaparecido naquelas águas. “Ser piloto de caça era um sonho de criança e frequentei a Base Aérea de Canoas grande parte da minha adolescência, sempre escutando sobre o 4831”, conta Yanzer. 

As peças encontradas por Josoé foram identificadas por Yanzer como pedaços do painel e da fuselagem do F-5.

Há cinco anos ele navega pela região do acidente, tentando achar respostas para as várias perguntas sobre o desaparecimento do 4831 e seu piloto. Mas diz que sem os achados de Josoé, teria levado anos. “Foi a pista crucial pois ele estava pescando muito perto dos destroços… O acaso acabou ajudando”, pontua. 

Cristian Yanzer – Arquivo pessoal.

“Ele recolheu pequenos pedaços do painel e algumas partes da fuselagem. A maioria cabe na palma da mão ou pouco mais. Mas foi o suficiente pra me dar a certeza que ele estava nas proximidades do local de impacto.”

No dia 11/08, Yanzer aproveitou a boa meteorologia e partiu com o veleiro Vikyng, equipado com sonar de varredura lateral (sidescan), para sondar a área.

“Reflexos metálicos visíveis na tela do equipamento indicavam muitas peças, algumas grandes, espalhadas pelo leito da Lagoa, em um local distinto do que esperávamos, e a cerca de 100m do local onde suas redes estavam colocadas.”
 
Cristian Yanzer – Arquivo pessoal.
Ele entrou em contato com o Quinto Comando Aéreo Regional através do Coronel-Aviador (R1) Antonio Biasus, ex-comandante do Esquadrão Pampa e contemporâneo do aviador desaparecido. Em reunião com o Major-Brigadeiro Rivero, comandante da organização militar, Yanzer combinou que tentaria registrar imagens dos destroços antes que a FAB, ao lado da Marinha do Brasil, fossem ao local. 
 
Finalmente no dia 01/09, Yanzer e sua esposa Andrea encontraram o maior pedaço do F-5 4831. Quarenta anos depois de ir para o fundo da lagoa, uma parte do pós-combustor de um dos motores General-Electric J85-GE-21 voltou à superfície.
 
“Ao ancorar no local para preparar o almoço, senti que a âncora havia prendido em algo. Quando começamos a levantar âncora, para nossa surpresa, esta peça de cerca de 0,90m e mais de 100kg apareceu e deu muito trabalho para amarrar ao barco, que é pequeno para esse tipo de peça.”
 
Com os achados e a localização exata, FAB e Marinha começaram seus movimentos. Yanzer contou ao AEROFLAP que, nesta segunda-feira (01), a Marinha “fará o primeiro acesso ao local e em seguida os mergulhadores farão a faina [tarefa] de recolher os destroços. Haverá um briefing da operação com a tripulação do navio e mergulhadores para apresentar os resultados das sondagens e orientar suas ações.”
 
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Cristian Yanzer – Arquivo pessoal.
Ele conta que depois de recuperados, os restos do 4831 serão encaminhados à BACO e ao Esquadrão Pampa. “Possivelmente serão tratados pelo CENIPA que possivelmente adicionará informações ao relatório final.”
 

A expedição do Comandante Yanzer, batizada de “Missão Tigre na Lagoa”, tem, contudo, um objetivo especial. “O mais importante, na minha opinião, será o alento à família do Aviador que junto à FAB finalmente poderá dar um local de descanso e quem sabe um funeral militar a esse guerreiro.”

Cristian Yanzer – Arquivo pessoal.
“Sofreram muito todos esses anos a angústia de um ciclo nunca encerrado. Rezo para que eles encontrem alento nesse momento”, respondeu, ao ser questionado se tinha contato com a família do Tenente Chiapetta. 
 
Relatando os resultados de sua última navegação em busca do 4831, Yanzer exaltou o aviador. “Na minha leiga observação dos destroços, sinto que, com a fibra de herói brasileiro e a garra de caçador do Pampa, aguerridamente tentou, até o fim, trazer seu caça de volta pra casa, infelizmente, perdendo a vida na peleia, indo pelear nos páramos do infinito celeste.”
 
Um dos vários mistérios e histórias da Lagoa dos Patos chega ao fim, 40 anos depois. 
 
Fotos: Cristian Yanzer, Jetphotos

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Militar, Notícias, Notícias

Tags: desaparecido, F-5, fab, RS, usaexport