As crescentes tensões na Ucrânia tem gerado um grande interesse do público no aplicativo Flightradar24, monitorando as várias aeronaves que voam pelo leste europeu ao mesmo tempo em que a Rússia vem aumentando o número de tropas na fronteira com seu vizinho, ameaçando uma grande invasão no país.
Contudo, há cerca de duas semanas uma aeronave tem chamado tanta ou mais atenção que os bombardeiros B-52 e os cargueiros C-17 presentes na região. Operando pelo código de chamada FORTE12, o avião estava sendo rastreado por quase 20 mil usuários do aplicativo na tarde desta segunda-feira (14).
Trata-se de um drone RQ-4 Global Hawk, uma aeronave não-tripulada desenvolvida pela Northrop Grumman na década de 1990 e que ainda hoje é um dos principais ativos de inteligência do Departamento de Defesa e da Força Aérea dos EUA.
O RQ-4 é um drone do tipo HALE (High Altitude, Long Endurance), usado em missões de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR) em qualquer lugar do mundo que seja de interesse do Tio Sam.
A aeronave não carrega mísseis ou bombas, ao contrário de outros drones: seu “armamento” é uma suíte de sensores integrados, que inclui um radar de varredura eletrônica ativa (AESA) que trabalha junto de sensores eletro-ópticos e infravermelho (EO/IR).
O Global Hawk é uma das maiores aeronaves não-tripuladas em operação no mundo, apresentando 15.5 metros de comprimento, 4,7 metros de altura e uma impressionante envergadura de quase 40 metros. Uma asa tão grande aliada ao potente motor Rolls-Royce F137-RR-100 dá ao RQ-4 uma das suas características mais notáveis: um teto de serviço de 60 mil pés (18288 metros) com uma autonomia superior a 32 horas.
Do alto, observando em detalhes
Quando foi desenvolvido, um dos objetivos do RQ-4 era operar ao lado e eventualmente substituir o antigo U-2 Dragon Lady, outro avião-espião da USAF em serviço desde meados da década de 1950.
Na verdade isso não ocorreu e os dois seguem em operação, mas ambos possuem uma característica em comum: voando alto, conseguem ver em detalhes o que for de interesse da inteligência dos Estados Unidos.
No caso do Global Hawk (que chegou a receber sensores até mais potentes e já usados pelo U-2), seu principal sensor é um radar que gera imagens de altíssima resolução que trabalha de forma integrada com outros sensores.
Nas primeiras versões, chamadas Block 10 e Block 20, o modelo usava o Hughes Integrated Surveillance & Reconnaissance (HISAR), um sistema similar ao usado no U-2 que integrava um radar de abertura sintética com indicação de alvo em movimento (SAR-MTI) e sensores de imageamento eletro-óptico e termal.
A partir do Block 30, o RQ-4 passou a receber o Multi-Platform Radar Technology Insertion Program (MP-RTIP) e o Advanced Signals Intelligence Payload (ASIP). Os dois novos sistemas aumentaram as capacidades de reconhecimento por imagem e de sinais do drone norte-americano.
O MP-RTIP traz um radar AESA especializado aliado a outros sensores, capaz de gerar imagens de alta resolução ao mesmo tempo que rastreia diversos alvos tanto em movimento quanto estacionários.
Já o ASIP trouxe as capacidades de inteligência de comunicações e sinais para o RQ-4, que agora passou a ser capaz de monitorar sinais de rádio também. A partir do Block 40, variante atual do RQ-4B, o conjunto MP-RTIP foi otimizado para vigilância em tempo real em detrimento do reconhecimento aéreo. Dessa forma, o RQ-4B Block 40 é capaz de cobrir uma área de 100 mil Km² por dia.
Na versão EQ-4B, o Global Hawk recebeu o Battlefield Airborne Communications Node (BACN), um conjunto de sistemas de retransmissão entre múltiplos pontos. Com o BACN, dois Global Hawks Block 20 modificados se tornaram um importante nó de comunicação entre tropas em solo e aeronaves de apoio aéreo cerrado, como o A-10 Thuderbolt II, salvando a vida de inúmeros soldados.
Emprego do RQ-4
Se o RQ-4 não tem pilotos, como ele é capaz de voar tão longe, tão alto e por tanto tempo?
Este drone é operado por três militares. Um é o piloto, tecnicamente chamado de Elemento de Lançamento e Recuperação (LRE), responsável por decolar o drone e conduzi-lo até o ponto onde será realizada a missão. O LRE, cujo serviço também realizado pela companhia Raytheon, também fornece localizações precisas e correções de navegação baseadas em GPS/INS.
A partir desse ponto, outros dois militares assumem o comando da aeronaves. Estes são designados como Elemento de Controle de Missão (MCE) e são responsáveis pelo planejamento, condução, comando e controle de missão e processamento e distribuição das imagens e dados obtidos durante o trabalho. Por serem módulos independentes, os MCE e LRE podem operar em pontos geograficamente distintos.
A aeronave recebe comandos e transmite dados através de um satélite de comunicações militares, operando por comunicação segura e encriptada na Banda X. Caso a aeronave esteja operando na linha de visão de estações de operação compatíveis, os dados podem ser transmitidos através de datalink.
Além das missões de inteligência e vigilância, o RQ-4 já foi empregado em operações de ajuda humanitária. Em 2011, quando o Japão foi arrasado por um tsunami, o drone foi usado para gerar imagens de alta resolução das imagens afetadas. O mesmo ocorreu nas Filipinas em novembro de 2013, quando o país foi atingido pelo Tufão Haiyan.
Em 2008, um RQ-4 da Marinha dos EUA foi usado nos incêndios florestais na Califórnia para localizar focos com precisão. A aeronave permaneceu no ar por mais de 24 horas, coordenando esforços para otimizar os trabalhos de combate às chamas.
Uma aeronave cara, mas que oferece capacidades únicas e sem expor um tripulante aos riscos do voo, especialmente em áreas sensíveis. O RQ-4 Global Hawk se fará presente sempre que o reconhecimento de um determinado alvo de interesse do Pentágono for necessário. Enquanto durarem as tensões na Ucrânia, o FORTE12 seguirá voando por várias horas, coletando uma série de dados de inteligência.
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