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As garras do Tigre: conheça os armamentos dos F-5 da FAB

F-5 EM FAB

Em serviço com a Força Aérea Brasileira desde a década de 1970, o F-5 pode ser considerado um dos mais importantes caças que o Brasil já teve, senão o mais.

A modernização realizada na primeira década dos anos 2000 inseriu a FAB no século 21, com o uso de datalink, radar digital e mísseis guiados por radar ativo. Aproximando-se do fim de sua carreira de mais de 40 anos, o “Bicudo”, como é chamado carinhosamente por alguns militares e entusiastas, é operado por cinco esquadrões: Pampa, Pacau, Jaguar, Jambock e Pif-Paf. 

Nesse artigo vamos conhecer um pouco mais dos armamentos usados pelos caças F-5EM/FM Tiger II da FAB.

 

Canhão de 20mm M39A3

Desenvolvido no final da Segunda Guerra Mundial, e baseado no projeto do canhão MG213 da Alemanha Nazista, o M39 é um canhão revólver fabricado entre as décadas de 50 e 70 pelas companhias FMC, Ford, Pontiac e General Electric. Além do F-5, o M39 foi utilizado nos caças F-86F-2 e F-86H Sabre, F-100 Super Sabre, F-101 Voodoo e no bombardeiro B-57B Canberra.

Assim como um revólver “comum”, o M39 usa cinco câmaras para ciclar o carregamento da arma. Esse tipo de armamento foi desenvolvido pela fabricante alemã Mauser durante a Segunda Guerra Mundial, com o canhão MK 213 de 20mm, que nunca chegou a entrar em serviço.

Seu projeto foi capturado pelos aliados ao final da Guerra e foi usado no desenvolvimento de seus próprios armamentos. França e Reino Unido desenvolveram os canhões DEFA e ADEN, respectivamente, os americanos desenvolveram o M39 e os soviéticos desenvolveram o R-23.

Canhão M39A3 de 20mm montado em um F-5EM Tiger II.

Mas, voltando ao Brasil. Antes da modernização, o F-5E usava dois canhões M39A3 no nariz, com 560 munições totais (280 para cada canhão). Com a atualização, o canhão do lado direito foi retirado para dar espaço aos novos aviônicos incorporados. Já o F-5F biplace teve seu único canhão retirado também, ficando sem nenhum armamento de cano. 

Mesmo que se tenha perdido o canhão, as capacidades da aeronave no geral aumentaram com os novos equipamentos eletrônicos, logo, foi uma “troca justa”. 

Além disso, o uso de canhões nos dias atuais é mais voltado para o ataque ao solo do que o combate aéreo propriamente dito. O famoso “dogfight” não morreu totalmente — todas as forças aéreas do mundo treinam o combate aéreo aproximado — mas evoluiu para o maior uso de mísseis all-aspect de última geração, aliados aos capacetes com display integrado, como veremos mais a frente. 

Rafael Python 3 e 4

Mísseis ar-ar guiados por calor (assinatura infravermelha) de 3ª e 4ª geração, desenvolvidos pela fabricante israelense Rafael Advanced Defense Systems. Também chamados de P3 e P4, respectivamente, ambos são mísseis de curto alcance. 

Por conta de seu tamanho, o P3 é carregado embaixo das asas, nos cabides mais externos (mais próximos das pontas das asas), enquanto o P4 é montado nos trilhos de lançamento nas pontas das asas.

F-5E Tiger II ainda antes da modernização carregando mísseis AIM-9B e Python III. Foto: FAB.

Os Python 3 foram adquiridos no final da década de 1990 e equiparam os caças Mirage IIIEBR e F-5E Tiger II. Quando modernizados, os caças receberam integração com o Python 4, mais novo e capaz que seu antecessor. 

Os dois mísseis podem ser “escravizados” ao capacete com display integrado Elbit Dash IV, permitindo que o piloto mire e trave o míssil no alvo apenas movendo a cabeça. O Python 4 tem sensores mais novos que o tornam mais resistentes aos flares, chamarizes disparados de aeronaves para se defender contra mísseis guiados por calor. 

Mísseis e demais munições são sensíveis e precisam ser armazenados em paióis especiais, com controle de temperatura, umidade e demais aspectos. Fora desses ambientes, a vida útil desses artefatos cai bastante. Para não usar os mísseis reais, são criados mísseis de treinamento.

Míssil Python 4 sendo disparado de um F-5EM. Foto: Força Aérea Brasileira.

Apenas os sistema de busca (seeker) do míssil é real, e o resto do corpo é preenchido com lastro e demais instrumentos para simular o peso de um míssil verdadeiro. As versões inertes/treinamento do Python 4 são chamadas de TP-4 e podem ser vistas habitualmente nas asas do F-5. Uma delas tem o formato, inclusive, parecido com o do AIM-9 Sidewinder americano.

Piloto de F-5 usando um capacete DASH IV.
F-5EM taxiando com um TP4 na ponta da asa.
Especialista com um TP4. Notar a inscrição “inert” no corpo do instrumento. Foto: Cabo Feitosa/FAB.

Rafael Derby

Adquiridos em 2006, os Derby são mísseis de curto/médio alcance guiados por radar ativo do tipo dispare e esqueça. São os primeiros – e, até o momento, os únicos – mísseis de radar ativo em serviço com a FAB, o que deve mudar quando o F-39E/F Gripen entrar em serviço com os mísseis MBDA Meteor. 

O Derby começou a ser desenvolvido pela Rafael no final dos 80/início dos 90 em parceria com a África do Sul, depois que os Estados Unidos recusaram a venda do AIM-120 AMRAAM para Israel. O míssil compartilha diversos instrumentos com o Python IV, como a ogiva e a espoleta de proximidade. 

Outras características que se destacam são as capacidades all-aspect, alta manobrabilidade e Lock On Before Launch para uso em dogfight (combate aéreo aproximado), além de seu peso leve, permitindo que caças pequenos como o próprio F-5 modernizado possam carregá-lo. 

Assim como o Python, os pilotos podem fazer a pontaria do Derby usando o HMD DASH IV.

F-5EM carregando mísseis Derby e TP4. Foto: Ten. Cel. Sergio/FAB.

Bombas Aéreas de Fins Gerais (BAFG)

Além dos mísseis ar-ar, os F-5M também carregam bombas para uso em missões de ataque ao solo. Os caças normalmente são equipados com as bombas BAFG-230, versão brasileira da Mk.82 americana de 500 libras (227kg).

Além da BAFG-230, os Tigres podem usar as BAFG-460 e 920, correspondentes às Mk.83 e 84, respectivamente. Os três modelos são fabricados no Brasil. 

Nos F-5 as bombas são usadas de forma convencional, sem uso de kits de guiagem, ao passo que os caças-bombardeiros A-1 AMX podem empregar as bombas com kit Lizard, de guiagem por laser. No entanto, o uso de modos CCIP/CCRP (Constantly Computed Impact Point/Continually Computed Release Point) permitem o lançamento seguro e com precisão de bombas burras.

Especialista “espoletando” uma BAFG-230 (Mk.82) e um F-5EM. Foto: Johnson Barros/FAB.

As bombas da série Mk.80 são fruto dos estudos do engenheiro americano Ed Heinemann, da Douglas Aircraft. As bombas foram projetadas para substituir os modelos mais antigos, usados na Segunda Guerra Mundial, empregando um desenho de baixo arrasto aerodinâmico usado até hoje. 

Outros equipamentos

Os armamentos mencionados anteriormente são os mais usados pelos F-5. Todavia, o pequeno caça pode carregar outros equipamentos que não são usados pela FAB comumente. 

Os foguetes de 70mm, amplamente usados nos A-29 Super Tucano, por exemplo, já foram bem mais usados pelos “bicudos”, especialmente antes de serem modernizados. O artefato pode ser carregado no jato, em caso de necessidade, mas seu uso já não é mais comum. Os SBAT-70 poderiam ser usados em pods “operacionais” ou de treinamento, como o SUU-20/A.

Pod de treinamento SUU-20/A com bombas de exercício BEX-11 e foguetes SBAT-70.

Bombas de Napalm (incendiárias) BINC-200/300 também podem ser usadas nos caças, mas seu uso é ainda mais raro e incomum, ainda mais pelas complicações diplomáticas associadas à esse tipo de armamento. 

Em missões de treinamento de tiro aéreo com o canhão, o F-5 emprega o pod AV-CAA Secapem com o alvo flexível/biruta AV-2TAE-BR fabricado pela Equipaer. O equipamento consiste em um contêiner vermelho (pod) que carrega uma biruta (alvo) presa por um cabo, montado no cabide central (centerline) do caça.

Pod de tiro aéreo montado em um A-29 Super Tucano do Esquadrão Joker. Foto: Capitão Ranyer/FAB.

A biruta é estendida e rebocada pelo avião a uma distância segura, enquanto outros caças praticam o disparo do canhão. Ao término do exercício, o alvo é alijado em voo rasante, caindo em uma área pré-determinada na base aérea. Os resultados são analisados posteriormente pelos militares. 

O míssil nacional MAA-1 Piranha esteve em serviço por pouco tempo com o F-5. Desenvolvido pela FAB com a Mectron, o míssil de curto alcance foi integrado aos caças antes e depois da modernização. Com os F-5E esteve em serviço por menos de 1 ano. Quando é visto nos F-5M da FAB é em sua versão inerte (azul), usado apenas como lastro para evitar a vibração excessiva nas asas.

MAA-1 Piranha “cutaway”. Sob a asa um Derby inerte.

Fotos dos F-5EM com outros armamentos, como o MAR-1, MAA-1B e MICLA-BR podem ser encontradas na internet com facilidade. Todavia, eles nunca serão integrados ao caça. O MICLA-BR, ainda em desenvolvimento, deverá ser integrado ao F-39.

Finalmente, os F-5EM/FM Tiger II são quase sempre vistos com seu tanque ventral. O equipamento tem capacidade para transportar 1040 litros de combustível, podendo ser carregado, também, nas asas da aeronave.

Uma configuração rara. Um F-5EM do Esquadrão Pampa com três tanques, duas bombas inertes e dois mísseis Piranha, também inertes. Foto: Claudio Capucho via Jetphotos.
F-5EM em testes com um MICLA-BR (Míssil de Cruzeiro de Longo Alcance). Foto: Rafael Luiz Canossa.

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias

Tags: Aviação de caça, Bombas, F-5M, Força Aérea Brasileira, Mísseis, usaexport