Vamos para mais um relatório comparativo de aviões da Aeroflap, com o piloto e especialista em engenharia de manutenção aeronáutica, formado pela PUC-MG, Rafael Payão.

Mas antes de aprofundarmos no assunto, saiba que a equipe da Aeroflap está disponível para prestar consultoria de compra de sua primeira aeronave, ou de troca do seu antigo, utilizando toda nossa estrutura de consultores experientes e softwares de apoio. Entre em contato em [email protected].

Voltando ao assunto, vamos considerar que há um interessado na compra de uma aeronave, e sua demanda é para um voo longo. Digamos que ele precise fazer uma rota mensal partindo do aeroporto de Congonhas, em São Paulo – SP, para Sinop, no Mato Grosso, o que dá uma distância de 870 nm, ou, 1.611 km. Como seu voo não é a lazer, mas, especificamente a negócio, não precisa de tanto conforto ou espaço para viagens. Ao mesmo tempo, seu orçamento de compra está limitado a R$ 5 milhões. Então, o que comprar?

Bom, com esse orçamento, teríamos, considerando a data de postagem desse artigo, no ano de 2023, as seguintes opções de compra:

• Baron G58 próximo de 2006 a 2008 por US $ 1 milhão;
• Bonanza G36 próximo de 2007 por US $ 740 mil;
• Cirrus SR22 próximo de 2017 por US $ 975 mil
• Piper Matrix, 2013, por US $ 1.060 milhão;
• Piper Seneca V, próximo a 2013, por US $ 1 milhão.

Apesar das opções acima, vamos considerar o que é mais polêmico e que serve de título dessa matéria, afinal, o texto ficaria muito longo apresentando a comparação de todos esses modelos. Enfim, vamos comparar um Baron G58 e um Bonanza G36; o que “serviria” melhor para as especificações mencionadas no terceiro parágrafo?

Começando com o fator econômico/financeiro, qualquer um pensaria que um Baron, por ser bimotor, teria um custo total exatamente o dobro de um monomotor Bonanza, mas, isso não é certo. Veja, abaixo, o consumo específico das máquinas comparadas.

Tabela 1 – Comparativo de operação e consumo específico, num voo de 870nm

Na comparação acima, foi simulado um voo de 870nm, conforme descrito 3° parágrafo deste artigo. Para entender mais sobre esse cálculo, consulte a tabela localizada no fim desse artigo, intitulada como “Apêndice A”.

“E quanto ao custo de manutenção? Não é possível que não seja dobro!?”. Bem, veja, o Baron tem sim a diferença de se ter mais um motor e mais uma hélice para cuidar, mas, calma! O Baron continua tendo só uma fuselagem! Veja abaixo, os gastos médios ao ano com manutenção, excluindo o rateio para revisão geral de motor(es) e considerando análise de 7 anos, para composição da média. Porém antes, considere que o Baron voa 120h/ano e o Bonanza G36, 170h/ano, para a missão definida, conforme 3° parágrafo desse.

• Baron G58 2007:
  • Média custo fixo/ano: R$ 11.235,62;
  • Média custo variável/ano: R$ 42.033,73.
  • Custo fixo + custo variável de manutenção/ano: R$ 53.269,35
• Bonanza G36 2006:
  • Média custo fixo/ano: R$ 11.469,13;
  • Média custo variável/ano: R$ 37.656,94.
  • Custo fixo + custo variável de manutenção/ano: R$ 49.126,07.

Contudo, veja que em custo fixo, aquele que ocorre independente se o avião voa ou não, o Bonanza acaba imprimindo um maior custo com manutenção, na média, apesar de ser o menor no total. Só não podemos nos esquecer que estamos comparando dois anúncios existentes, como o que definimos abaixo:

• Baron G58 2007;
  • Horas totais de célula: 1.500h;
  • Horas disponíveis para a próxima revisão de motores: 300h;
  • Valor anunciado para venda: US $ 1 milhão;
• Bonanza G36 2006;
  • Horas totais de célula: 1.784h;
  • Horas disponíveis para a próxima revisão de motor: 1.706,4h;
  • Valor anunciado para venda: US $ 740.000,00

Portanto, não estamos falando que é uma média global para todo Baron ou todo Bonanza, mas, especificamente os dois anúncios, acima.

Quanto aos gastos que representam saída de caixa das duas opões, ou seja, os gastos que incorrem em até um ano, como manutenção, combustível e atualização de painel (sem considerar hangar e salário de piloto, por ser um assunto muito polêmico e diverso):

• Baron G58, custos totais com saída de caixa, média por ano: R$ 355.463,03 (R$ 29.619,67/mês);
• Bonanza G36, custos totais com saída de caixa, média por ano: R$ 273.852,00 (R$ 22.821,00/mês).

Portanto, uma diferença de R$ 81.611,03, ou, R$ 6.798,67 por mês, em favor do Bonanza, apesar de se voar mais horas que o Baron.

Se adicionar os gastos SEM saída de caixa, que engloba o rateio por hora de revisão geral de motor e a manutenção de um fundo de reserva operacional, o prejuízo aumentaria para R$ 212.403,60 (R$ 17.700,30/mês) e os resultados ficariam:

Tabela 2 – Resumo custos totais Baron G58, numa média de 7 anos.

Tabela 3 – Resumo custos totais Bonanza G36, numa média de 7 anos.

Contudo, apesar de mais caro, o Baron não tem exatamente o total de gastos equivalente ao dobro do Bonanza, apesar do rateio para revisão geral de motores impactar significativamente no resultado.

Um mistério resolvido, agora vamos desvendar o fator liquidez de revenda, considerando mercado nacional, somente, já que o norte americano a realidade é outra, totalmente divergente da nossa.

“Qual avião vende melhor e mais rápido?”. Essa é uma questão difícil de se trazer um número resposta preciso, no entanto, vamos demonstrar alguns fatos e deixamos para vocês, caros leitores, definirem seus próprios cálculos. Ou, entrem em contato através do e-mail [email protected] para um orçamento completo de nossa consultoria de compra.

Podemos determina a liquidez de venda utilizando as seguintes informações:

• Número de entregas nos últimos anos, conforme Associação de fabricantes de aeronaves da aviação geral – GAMA (sigla em inglês);
• Quantidade de aeronaves registradas voando regularmente no Brasil,

Enfim, vamos às conclusões.

Tabela 4 – Total de entregas no mundo, pelas fabricantes

É

Tabela 5 – Ranking, quanto ao total voando no Brasil

Abaixo, veja o total de aeronaves compradas de brasileiros por brasileiras, referente a abril de 2022 até abril de 2023, conforme dados disponibilizados pela ANAC, por meio do Registro Aeronáutico Brasileiro – o RAB.

Tabela 6 – Total de comunicações a venda (compra de aviões nacionalizados, por outros brasileiros).

Mais uma vez, há melhor potencial de liquidez de revenda do Baron, do que do Bonanza.

Contudo, de que adiantaria ter um equipamento ruim de venda, ainda tendo o risco de deságio? Apesar do custo mais caro por ano do Baron, parece ser uma escolha mais sensata.

Com equipamentos mais antigos, a tendência corre para o mesmo caminho, pois, de acordo com o site norte americano especializado em apreciação, depreciação e registros histórico de preços de aeronaves, o “Aircraft Blue Book®”, um Baron B55 de 1982 costuma ter uma retenção de preço, comparado ao valor de compra e ao de revenda posterior, de aproximadamente US $ 199.000,00 comparado aos US $ 175.000,00 de um V35B do mesmo ano. Os últimos E55 de 1982, já trazem um prêmio equivalente a US $ 228.000,00, bem superior aos antigos Bonanzas. No entanto, é preciso também entender que, em suma, e de acordo com outro site norte americano especializado em apreciação de aeronaves, o VREF, um B55 mantém seu preço atual em torno de 77% do seu valor, quando zero, enquanto que um Bonanza mantém cerca de 95% de seu valor de zero. Para comparação, em 1975 foi registrado preço de US $ 100.000,00 no valor de venda de um Bonanza V35B, zero hora, ou seja, tirado da fábrica.

Ressaltamos que este estudo de mercado se aplica somente ao mercado brasileiro, aja vista que o mercado norte americano corre em tendências diferentes. Por exemplo, veja o total de Baron e Bonanza voando regulamente nos EUA, conforme a agência FAA.

Tabela 7 – Aeronaves voando regularmente nos EUA

Ainda conforme o site VREF, os Bonanza cauda em V nos EUA costumam levar de seis a sete meses para concluir sua respectiva venda, enquanto que um Baron costuma levar 10 meses, a um preço descontado. Então, são mercados diferentes! Por isso que esses sites especializados não devem ser utilizados como referência para o mercado brasileiro. Acabamos de provar que refletem apenas o mercado norte americano. Por isso você deve contratar um consultor de compra de aeronave para uma melhor visualização de tendências e decisão definida em fontes sérias e de credibilidade, afinal, os brasileiros normalmente não compram aviões nos EUA, para revende-los novamente naquele país, depois de terem nacionalizado a operação. Não faria sentido!

Por fim, as questões operacionais foram deixadas por último, já que entendemos que nossos leitores costumam ter conhecimento básico sobre alguns aviões, desde pilotos até entusiastas, e, portanto, não deve ser tão complexo de entendimento. Bom, é evidente que o Baron traz um número muito maior de benefícios, pois, resumidamente, se voa mais rápido, com maior capacidade de carga e alguma vezes utilizando até menos pista para pouso e decolagem do que um Bonanza. Ainda, o Baron percorre distâncias maiores com um único tanque, do que um Bonanza, inclusive considerando a comparação utilizada neste artigo, ou seja, um G58 com tanques auxiliares de série e um G36 somente com o que deveria ser tanques principais do bimotor. Contudo, na missão definida no terceiro parágrafo desse artigo, um Bonanza teria que pousar no meio do caminho para abastecer, enquanto que um Baron faria a rota inteira, sem paradas intermediárias.

Nós temos algumas opções de Baron 58, G58 e Bonanzas para venda, caso interesse. Ou, se precisa de consultoria de compra, entre em contato pelo e-mail [email protected].

APÊNDICE A