Icônica por possuir uma frota ampla de aeronaves da era Soviética, a Cubana de Aviación é uma das companhias aéreas mais antigas ainda em atividade (93 anos), possuindo uma das histórias mais peculiares que envolvem uma reviravolta nos rumos da sua administração.
Fundada em 8 de outubro de 1929 pelo empresário norte-americano Clement Melville Keys, a Cubana concentrou as suas primeiras operações para o transporte dos correios. As suas primeiras operações contavam com aeronaves ocidentais Curtiss Robin e o Lockheed Model 10.
Keys fundou diversas companhias e fabricantes de aeronaves, com destaque para a TWA e o Curtiss-Wright, tornando-se um braço da Curtiss voltado para escola de voo, incluindo voos fretados. Curiosamente, por conta da sua importância estratégica para o transporte de cargas na América do Norte, a Cubana foi adquirida pela gigante Pan Am em 1932.
Com o seu serviço limitado para o transporte de cartas, a Cubana passou oferecer gradualmente o serviço regular de passageiros a partir de 1940, conforme aumentava a disponibilidade da sua frota com os lendários Douglas DC-3, muitos oriundos da Segunda Guerra Mundial.
Em 1945, a Cubana teve então a sua primeira rota regular de passageiros inaugurada entre Havana e Miami, bem como Nova York, nos Estados Unidos, enquanto a companhia utilizava o Douglas DC-4 para rotas mais longas, em especial, para a Europa, ao ligar a Ilha caribenha com Madri, Roma, incluindo também a capital chilena Santiago.
Graças a administração da Pan Am, a Cubana consolidou-se a ponto de se tornar uma das principais operadoras a oferecer voos dentro do Caribe e parte da América do Norte, sucesso que fez com que a companhia tivesse parte dos investimentos oriundos de empresários cubanos, deixando a Pan Am com uma participação na companhia em torno de 40%.
Com a clientela composta por grandes empresários e pessoas ricas de Cuba, após a Segunda Guerra Mundial e o início da guerra fria, os rumos da companhia mudaram de forma drástica, principalmente após o rompimento diplomático com os Estados Unidos e a aproximação da Ilha com a União Soviética, principalmente durante a década de 1950.
Nova filosofia, outra realidade para a Cubana
Operando uma extensa variedade de aeronaves, durante as décadas de 1940 a 1950, a Cubana contava com uma frota composta em sua maioria pelo Douglas DC-3 e o Lockheed Constellation, composição que foi modificada de forma drástica após mudanças governamentais em Cuba, passando a contar nos anos seguintes com os soviéticos Antonov An-24 e o Ilyushin Il-18.
Por conta da Revolução Cubana liderada por Ernesto Che Guevara e Fidel Castro, a Cubana logo foi estatizada pela ditadura comunista, nacionalizando outras empresas aéreas e tornando a Cubana empresa de bandeira do país, situação que se reflete até os dias atuais.
A turbulenta situação política protagonizada pela guerra civil, fez com que a Cubana perdesse não só parte da sua frota por sequestradores apoiados pela CIA, mas também durante os bombardeiros que Havana sofreu na batalha da Invasão da Baía dos Porcos, no início de 1961.
A companhia também perdeu importantes rotas, incluindo voos aos Estados Unidos, mais especificamente para Miami, resultado do fechamento do espaço aéreo dos Estados Unidos para todas as empresas aéreas de Cuba.
Diante das sanções impostas pelos Estados Unidos, e pela aproximação das lideranças cubanas com a União Soviética, a frota da Cubana que antes era composta exclusivamente por aeronaves ocidentais, a empresa aérea passou a recorrer aos soviéticos na renovação de areonaves.
De grande operadora de aeronaves ocidentais, a Cubana se tornou a mais soviética das Américas, passando a operar o Yakolev Yak-42, Tupolev Tu-204, Antonov An-148/An-158, incluindo o Ilyushin Il-96, aeronave que marcou presença em algumas capitais do Brasil entre os anos de 2013 a 2017, quando o icônico quadrijato passou a trazer profissionais da saúde de Cuba para o programa Mais Médicos.
Mesmo após o fim da União Soviética, Cuba ainda manteve os seus laços estreitos com o governo Russo, o que foi fundamental para a aquisição de aeronaves russas e ucranianas.
Uma grande operadora de jatos alugados de outras companhias
Por conta da situação financeira não favorável na década de 1990, bem como as restrições da compra de aeronaves ocidentais por embargos dos Estados Unidos, a Cubana passou a alugar aeronaves de outras companhias aéreas, como forma de manter as suas operações.
A empresa aérea passou a ter aeronaves de longo alcance como o Ilyushin Il-62 e dois DC-10 da francesa AOM, que, inclusive, foi protagonista de um acidente na Guatemala no voo 1216, ao sair da pista no Aeroporto Internacional de La Aurora no dia 21 de dezembro de 1999. O acidente resultou na morte de oito passageiros e oito tripulantes, bem como duas pessoas em solo.
Diante da nova realidade, a Cubana chegou a contar com jatos ocidentais, incluindo o Airbus A320 oriundos da TACA, incluindo outras aeronaves de empresas europeias e americanas, porém, raramente estes aviões operavam sob as cores da companhia.
Com uma variada frota, a Cubana encontrou dificuldades para manter as suas operações com essas aeronaves, visto que, na maioria das vezes, alguns aviões possuíam idade avançada e a reposição de peças, em especial, para as aeronaves russas e ucranianas. Essa situação resultou em muitos aviões impossibilitados de serem utilizados por meses e até anos por falta de manutenção, inclusive canibalizando aeronaves para manter parte da frota voando.
No início dos anos 2000, visando depender menos de aeronaves alugadas, a Cubana passou a investir em aeronaves exclusivamente do Ilyushin e Antonov, com a chegada do Il-96, Tu-204, incluindo o raro Antonov An-158.
Curiosidades sobre a Cubana
Atualmente a companhia de Cuba é a única que opera o Ilyushin Il-96 fora da Rússia, sendo a única voando com o IL-96, visto que o somente o Governo russo opera esse tipo de aeronave. Além disso, algumas unidades deste modelo foram oriundas da Aeroflot.
Já do lado ucraniano, a Cubana passou a operar o Antonov An-158, avião a jato voltado para as operações regionais, entretanto, a frota foi paralisada após um grave acidente envolvendo este modelo que estava com diversos problemas técnicos. Como a frota mundial foi aterrada, a Cubana desde então não voltou mais a operar este jato.
Com forte presença em rotas regionais, fora de Cuba, a Cubana opera voos sazonais e fretados para o Paraguai, Argentina e Espanha.
A Embraer já marcou presença na Cubana, a companhia chegou a operar um BEM-110 “Bandeirante”, porém, no dia 28 de novembro de 2020, a única aeronave brasileira da Cubana teve o seu trem de pouso colapsado e nunca mais voltou a voar. Este avião, fabricado em 1976, já voou pela Rio Sul e pela Total Linhas Aéreas na década de 90, de acordo com registro do site Planelogger.
Com uma divisão de cargas, a Cubana chegou a contar com duas unidades do Tupolev Tu-204 exclusivas para operações cargueiras, porém, essas unidades estão desativadas por falta de manutenção.
Recentemente, a Cubana enviou duas unidades do modelo ATR à Brasília para realizar uma manutenção pesada, o que mostra que a companhia nunca atingiu o seu total potencial, principalmente para manter as suas aeronaves em condições operacionais.
Por fim, a Cubana é um dos membros fundadores da International Air Transport Association (IATA), organização que surgiu em 1945 durante uma conferência em Havana, mostrando a importância da aviação de Cuba na época.
Por conta da falta de informações, não é possível saber precisamente quantas aeronaves estão operantes na Cubana. Segundo informações do site Planespotters, atualmente a Cubana conta com 1 Ilyushin Il-96, dois ATR 72 500/600 e um Tupolev Tu-204.
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