Dois aviões aposentados pela Força Aérea Brasileira (FAB), um jato de ataque A-1 AMX e um bimotor de transporte C-95 Bandeirante, foram doados à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no centro do Rio Grande do Sul, onde serão usados para estudos.
Estudantes dos cursos de engenharia aeroespacial e de telecomunicações usarão os aviões como objeto de estudos. Para abrigar o AMX e o C-95, a UFSM investiu R$ 2,67 milhões na construção de um hangar com 1018 metros quadrados, dentro do próprio campus que fica ao lado da Base Aérea de Santa Maria (BASM). A previsão é de que a estrutura seja entregue em janeiro de 2023.
Além das aeronaves, a universidade diz que solicitou para a FAB algumas toneladas de peças e partes de aviões que tiveram como destino o descarte no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, localizado no Campo de Marte.
Dentre os materiais estão motores, asas, instrumentos, trens de pouso, sistemas de navegação, radares, sensores e várias outras peças. Parte do material solicitado já está sendo separado no parque para a UFSM.
Uma visita de uma comitiva da universidade a esse parque, em outubro de 2018, marcou o início do processo de demanda para a FAB de aeronaves e equipamentos descartados. Recebida pelo Coronel-Aviador Marcos Dias Marschall, a comitiva da UFSM era formada pelo hoje reitor Luciano Schuch (então vice-reitor) e pelos professores André Luis da Silva e Marcelo Serrano Zanetti.
André era então coordenador do curso de Engenharia Aeroespacial, e nesse cargo foi sucedido pelo professor Marcos Daniel de Freitas Awruch, enquanto que Zanetti era coordenador substituto do curso de Engenharia de Telecomunicações e hoje é coordenador da Engenharia de Computação.
Zanetti explica que a doação dos aviões e das peças justifica-se pela necessidade de que os alunos do curso de Engenharia Aeroespacial tenham algo de palpável para observar, montar, desmontar e fazer experiências.
Deste modo, o seu conhecimento sobre o projeto, construção e funcionamento de aeronaves não ficará restrito à teorias lidas nos livros e ouvidas em sala de aula e a simulações por computador.
Segundo Zanetti, a Engenharia Aeroespacial é um curso que engloba competências de todas as outras engenharias e também de cursos de outras áreas do conhecimento.
Por isso, o hangar da UFSM – muito mais do que um depósito de aeronaves e peças – será um espaço que poderá ser aproveitado por vários cursos da universidade para atividades de ensino e pesquisa, além do potencial para o emprego em ações de extensão, como visitas de escolas e de interessados por aviação em geral.
Hangar
O prédio do hangar terá aproximadamente 40 metros de comprimento por 25 metros de largura, e altura de seis metros. O pé-direito dessa altura é necessário para que o estabilizador vertical não bata no teto. E haverá uma porta de 20 metros de comprimento para que os aviões possam entrar e sair do hangar sem a necessidade de retirar as asas.
No entanto, o espaço para o armazenamento dos aviões não vai ocupar o comprimento total do prédio. No canto direito do hangar, haverá um espaço dividido em três dependências: uma para oficina e banheiros, outra para sala de aula e uma terceira onde será instalado o túnel de vento aerodinâmico que, desde 2019, se encontra no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Engenharia Elétrica (Nupedee), localizado no Pavilhão de Laboratórios do Centro de Tecnologia (CTLab).
Sobre essas três salas, haverá ainda um mezanino, que terá a possibilidade de abrigar projetos vinculados aos cursos de Engenharia Aeroespacial e Engenharia de Telecomunicações.
O professor Zanetti informa também que atrás do hangar, a cerca de 20 metros de distância, está prevista a construção do Laboratório de Propulsão Aeroespacial, que terá como finalidade principal a realização de testes de motores de foguete.
Aeronaves distintas
Apesar de serem aviões completamente diferentes em função, o A-1 AMX e o C-95 Bandeirante dividem similaridades históricas. Ambos foram produzidos pela Embraer, sendo que o Bandeirante (designado EMB-110 pela fabricante) foi o primeiro avião desenvolvido pela companhia.
O modelo foi um sucesso comercial e hoje é usado pela FAB em unidades distribuídas pelo país inteiro. No RS, o C-95 Bandeirante é operado pelo 5º Esquadrão de Transporte Aéreo, o Esquadrão Pégaso. Apesar da unidade não ter a BASM como sede, a presença de suas aeronaves em Santa Maria é corriqueira.
Já o AMX foi desenvolvido em um programa ítalo-brasileiro. A Embraer ficou responsável por cerca de 30% do projeto, enquanto as companhias italianas Aeritalia e Aermacchi ficaram com o restante. O jato, que faz parte da aviação de caça, foi criado para atuar em missões de ataque ao solo e reconhecimento.
A participação brasileira no projeto trouxe enorme expertise para a Embraer. Esse conhecimento e know-how permitiram a empresa desenvolver seus próprios aviões comerciais a jato das famílias E-Jet e ERJ, tornando a Embraer a 3ª maior fabricante de aviões no mundo, superada apenas por Boeing e Airbus.
Hoje o AMX está em operação apenas na BASM, com os esquadrões Poker e Centauro. A aeronave foi modernizada mas já está no fim de sua vida operacional, devendo ser substituída pelo F-39 Gripen no futuro. No caso da aeronave doada para a UFSM, a sua matrícula na FAB é 5655.
Aviões Bandeirantes e AMX já sobrevoaram o campus sede da UFSM inúmeras vezes, seja para pousar ou após decolar da Base Aérea. Quando o hangar da universidade estiver concluído as duas aeronaves doadas para a UFSM terão o seu local de pouso definitivo, para cumprir a sua última missão: servir como material de ensino, pesquisa e extensão para a comunidade acadêmica.
Via UFSM, adaptado por Aeroflap.