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Há 62 anos o B-36 Peacemaker fazia seu último voo

No dia 12 de fevereiro de 1959 o último bombardeiro estratégico Convair B-36 Peacemaker construído, matrícula 52-2827, fazia seu último voo.

A aeronave decolou da Base Aérea de Biggs, em El Paso (Texas), onde era operada na 95ª Ala de Bombardeio Pesado, com destino ao aeródromo de Amon Carter Field, em Forth Worth, também no Texas, onde foi inicialmente preservada. 

O derradeiro voo encerrou a carreira de uma aeronave marcada pelo seu tamanho e problemas mecânicos mas que, até os dias de hoje, é o maior avião de combate em envergadura e a maior aeronave com motores a pistão já produzida em massa.

O B-36 nasceu ainda na Segunda Guerra Mundial, quando a então Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) percebeu a necessidade de uma aeronave com maior payload e autonomia.

Isso gerou um pedido de 100 bombardeiros à então Consolidated (fabricante do PBY Catalina e B-24 Liberator), que mais tarde virou Convair quando se juntou com a Vultee. Um detalhe: a produção das aeronaves deveria começar antes mesmo dos dois primeiros protótipos estarem prontos e testados. 

Até hoje o B-36 é o bombardeiro com a maior capacidade de carga que os EUA já tiveram: 39 toneladas, ou 86 mil libras.

B-36 Peacemaker, B-17 Flying Fortress, B-29 Superfortress e B-18 Bolo. Foto: Revista Life.

Para se ter uma ideia, são 9.3 toneladas a mais que o peso máximo de decolagem do Boeing B-17G Flying Fortress, a versão mais potente do principal bombardeiro americano na Segunda Guerra. 

O B-52 Stratofortress, que começou a substituir o B-36 a partir de 1955 e está em serviço até os dias de hoje (e provavelmente se manterá assim por bastante tempo) tem um uma capacidade de carga menor que o B-36: 31.5 toneladas contra as já citadas 39 toneladas.

O Peacemaker também era a única aeronave capaz de transportar a bomba termonuclear Mark 17, a maior e mais pesada bomba nuclear que os EUA já usaram operacionalmente.

Ele também foi o único avião projetado para transportar a T-12 Cloudmaker, um bomba-terremoto que pesava 19.8 toneladas. Para comparação, a Grand Slam britânica pesava 9 toneladas

Bomba T-12 Cloudmaker.

A partir da variante D a aeronave recebeu motores turbojato General Electric J47-19, montados em pods nas asas. As tripulações começaram a usar o ditado “Six turning, four burning”, em alusão aos novos jatos e aos seis motores radiais Pratt & Whitney R-4360 Wasp Major. 

Um avião problemático

Todavia, tão grande quanto a aeronave em si era a quantidade de problemas mecânicos. Incêndios, apagamentos de motor e vazamentos de óleo eram problemas constantes na aeronave.

A própria posição dos motores Wasp Major (em configuração pusher) facilitavam problemas de congelamento dos carburadores. 

Outra característica era a quantidade enorme de velas por motor: 56. A cada manutenção mais pesada os mecânicos trocavam um total de 336 velas dos seis motores radiais PW.  

Esses e outros problemas e dificuldades com a manutenção do gigante bombardeiro trouxeram outro slogan usado pelos militares que trabalhavam com a aeronave: “Two turning, two burning, two smoking, two choking and two more unaccounted for.”

No total, 32 B-36 foram perdidos em acidentes. 

Um bombardeiro nuclear. Literalmente.

O NB-36H. Foto: USAF.

O desenvolvimento de materiais bélicos nucleares “correu solto” na Guerra Fria. Dentro dessa corrida, os EUA chegaram a pensar em aeronaves movidas por energia nuclear. 

Para testar a viabilidade da teoria, a USAF usou um B-36H Peacemaker que havia sido danificado por um tornado em uma base aérea no Texas.

Ao invés de reparar o avião para voltar ao serviço ativo, o B-36H matrícula 51-5712 foi modificado para os testes do programa Aircraft Nuclear Propulsion (ANP) e foi redesignado NB-36H. 

Um reator nuclear de 16 toneladas capaz de gerar 1 megawatt foi instalado na compartimento de bombas da aeronave, junto com várias toneladas de chumbo e borracha instalados entre o reator e o compartimento da tripulação. 

Entre 1955 e 1957 foram realizados 47 voos de testes totalizando 215 horas de voo das quais 89 foram com o reator ligado. Em 1961 o projeto com cancelado pelo Presidente John Kennedy. 

O avião nunca foi realmente propelido pelo reator, pois o objetivo dos experimentos eram testar a interferência da energia nuclear nos sistemas da aeronave. 

Remanescentes de uma era

O B-37J Peacemaker 52-2827 no Museu Aeronáutico de Pima. Foto: Leoparmr via Wikimedia.

Dos 384 bombardeiros construídos entre 1946 e 1954, apenas 5 foram preservados e hoje só 4 restam. Os B-36 começaram a ser sucateados em 1956 na Base Aérea de Davis-Monthan, o famoso cemitério de aviões da USAF. 

Um dos B-36 preservados é o que hoje completa 62 anos do seu último voo, o 52-2827. Como dito antes, a aeronave, batizada como The City of Fort Worth, foi para Amon Carter Field.

Lá ela ficou preservada até que o local foi usado para a construção de um parque empresarial adjacente ao aeroporto de Dallas-Forth Worth. O 2827 foi transferido para o Southwest Aerospace Museum, localizado entre uma base aérea e uma planta da Lockheed Martin. 

A aeronave foi restaurada mas não havia local próprio para conservação e exposição, apesar de esforços de entusiastas e veteranos. 

Mais tarde ela foi tomada de volta pela USAF e transferida para o Museu Aeroespacial de Pima, em Tucson (Arizona), onde está até hoje. O clima seco do local facilita a preservação da enorme aeronave. 

Outros três B-36 Peacemaker estão preservados no Museu Nacional da Força Aérea dos Estados Unidos, no Museu do Comando Aéreo Estratégico e no Castle Air Museum. 

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar

Tags: B-36 Peacemaker, Bombardeiros, usaexport, USAF