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Quando um voo entrou em emergência por um pequeno detalhe

No meu período de curso de engenharia muitos professores aplicavam uma “pegadinha”, no meio da prova. Colocavam uma medida em outra unidade, fora do padrão utilizado até então na conta, e por meio disso analisavam a nossa capacidade de “perceber a situação”.

Ter a consciência de quando você está errando é bem importante no caso das unidades de medida, principalmente na aviação, onde podemos achar padrões baseados no Sistema Internacional de Unidades (SI), bem como na medida imperial inglesa.

E foi exatamente isso que colocou um Boeing 767-200 da Air Canada em emergência.

 

Faltou combustível

No início de 1983 o Canadá passava por uma alteração no sistema de unidades do país para a adoção do Sistema Internacional de Unidades (SI), por este motivo, a companhia aérea de bandeira, a Air Canada, começava a utilizar o sistema SI na sua frota. E o Boeing 767-200 era o primeiro com o controle de combustível com as unidades no SI.

Neste caso, durante o cálculo de combustível para um voo de Montreal até Edmonton, os funcionários da companhia consideraram unidades no sistema imperial para o cálculo durante a rota, costume dos regulamentos da companhia.

Por este motivo o cálculo de combustível foi informado à equipe de abastecimento de maneira errada, e o Boeing 767-200 foi abastecido com somente 22300 libras, aproximadamente 10115 kg, enquanto precisava de 22300 kg para cumprir a rota. Literalmente calcularam certo, mas inverteram as unidades e inseriram dessa forma no FMC do cockpit.

E quando o avião estava à 41000 pés de altitude, entre Montreal e Edmonton, ocorreu uma pane seca, a aeronave ficou sem combustível.

Segundo o computador de bordo, ainda havia combustível em quantidade suficiente para o voo, mas, como seria descoberto posteriormente, esse cálculo foi feito com base em parâmetros incorretos.

Com vários alertas de pressão de combustível soando no cockpit, os pilotos optaram por uma manobra de planar até um local para pouso, por isso esse voo é citado também com o nome “Planador de Gimli”, ou simplesmente ‘Gimli Glider’.

O primeiro motor, o direito, desligou à 41000 pés, e o outro motor, o esquerdo, desligou já na descida, quando a aeronave estava à 26000 pés. Então os pilotos configuraram o avião para a “velocidade ideal de taxa de descida”, como indicada no manual de emergência, descendo a aproximadamente 220 nós (407 km/h), mas esta não era suficiente para possibilitar o pouso em Winnipeg.

Desde então os pilotos tiveram vários problemas em voo. A velocidade foi reduzida, e já sem combustível, os pilotos recorreram às baterias, para manter o cockpit funcionando, e à RAT (um mini gerador eólico) para garantir pressão hidráulica.

Sem conseguir alcançar Winnipeg, que estava a mais de 25 quilômetros de distância, os pilotos e controladores tentaram considerar um pouso na base aérea de Gimli, mas a mesma estava com a pista ocupada por pessoas. Não teve opção, a aeronave seguiu para pouso no que hoje é o Aeroporto Industrial de Gimli, que tem 2000 metros de pista, e estava a aproximadamente 20 km de distância.

Antes de pousar, os pilotos tentaram baixar o trem de pouso, porém o componente localizado no nariz não travou de maneira correta, adicionando um risco ainda maior à manobra de pouso.

Voo 143 e o Boeing 767 após o pouso sem combustível.

Os pilotos se aproximaram com alta velocidade da pista de pouso, e sem alguns componentes aerodinâmicos, o piloto precisou realizar um procedimento que chamamos de “glissada” para perder altitude ao mesmo tempo que diminui a velocidade.

Felizmente a aeronave aterrissou de forma segura, planando no Aeroparque industrial de Gimli, na província canadense de Manitoba. Exceto por dois pneus estourados e o nariz arrastado no chão, devido ao problema no trem de pouso.

 

Abaixo você pode conferir um trailer do episódio completo do Mayday sobre este incidente grave (e o link para assistir ele):

O episódio completo vocês podem assistir CLICANDO AQUI.

 

Curiosidade 1

O avião foi recuperado, e voou até 2008, quando a Air Canada aposentou a aeronave.

O ‘Gimli Glider’ no seu modo normal.

 

Curiosidade 2

A van de resgate utilizada pelos mecânicos também ficou sem combustível no meio do trajeto para a Base Aérea.

 

 

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Pedro Viana

Autor: Pedro Viana

Engenharia Aerospacial - Editor de foto e vídeo - Fotógrafo - Aeroflap

Categorias: Aeronaves, Aeronaves, Artigos, Notícias

Tags: 767, acidente, Air Canada, Incidente