A Rússia poderá usar dezenas de bimotores Antonov An-2 Colt como iscas para destruir sistemas antiaéreos ucranianos. Mais de 40 destas aeronaves foram desdobradas em uma base aérea russa perto da fronteira com a Ucrânia. 

A tática de usar os antigos mas polivalentes An-2 – modelo cujo primeiro voo ocorreu em 1947 – foi usada com sucesso na guerra de Nagorno-Karabakh, entre Armênia e Azerbaijão. O portal The Aviationist explica que naquele teatro, os biplanos azeris foram improvisados para chamar atenção dos mísseis antiaéreos (SAM) armênios. 

“De acordo com os relatos: o piloto decolava normalmente, apontando a aeronave para posições armênias e depois travava os controles da aeronave usando cintos. Depois disso, o piloto saltava em segurança, deixando o avião não tripulado voar diretamente para as unidades armênias, forçando as tropas inimigas a abrir fogo e revelando suas posições.”

O site especula que a Rússia poderá usar a mesma tática contra a Ucrânia. Fotos de satélite tiradas entre 28 de fevereiro e 02 de março mostram um número significativo de biplanos An-2 desdobrados na Base Aérea de Seshcha, em Dubrovka, na fronteira leste da  Rússia com a Ucrânia.

No passado, as instalações foram usadas como sede de bombardeiros estratégicos Tu-16 durante a Guerra Fria. Hoje, a base abriga o 566º Regimento de Aviação de Transporte Militar (566 VTAP) das Forças Aeroespaciais Russas (VKS), unidade que opera os gigantes Antonov An-124 Condor. 

As imagens foram obtidas pela Maxar, uma empresa privada de imagens de satélite e think tank de inteligência. Em seu relatório sobre a situação, a companhia observa: 

“A Rússia enviou 42 biplanos An-2 “Colt” para a Base Aérea de Seshcha, no oeste da Rússia. O blogueiro de defesa Dylan Malyasov observou em um artigo de fevereiro de 2022 que a Rússia estava testando recentemente formações de An-2 perto da fronteira ucraniana. Os An-2 provavelmente foram convertidos em drones e podem ser usados ​​como iscas para simular formações de helicópteros ou UAVs [aeronaves não tripuladas] para atrair as defesas aéreas da Ucrânia. Malyasov observa que o Azerbaijão empregou essa estratégia contra a Armênia com grande sucesso no conflito de 2020 sobre Nagorno-Karabakh. Aeronaves de guerra eletrônica também foram implantadas em Seshcha, juntando-se às aeronaves de combate implantadas em meados de fevereiro.”

https://twitter.com/DylanMalyasov/status/1490589562472652801?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1490589562472652801%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.thedrive.com%2Fthe-war-zone%2F44532%2Frussia-appears-to-be-preparing-its-ancient-an-2-biplanes-for-war-in-ukraine

Apesar da idade, os An-2 ainda são bastante usados pela Rússia e outros países. Sua grande assinatura radar, baixa velocidade e baixo custo o tornam bem adequado para simular drones e helicópteros. Mesmo que não seja derrubado pelos SAMs da Ucrânia, ele poderia revelar a posição de um radar através da emissão de ondas. Além disso, uma formação de An-2 poderia sobrecarregar as defesas aéreas ucranianas.

Após ser localizado, o sítio-radar pode ser engajado por meios de combate como caças, navios, bombardeiros ou mísseis balísticos/de cruzeiro lançados de solo. 

Apesar da suposição, ainda não está claro qual a razão para o envio de tantos An-2 para a fronteira. O The War Zone observa que, além de isca, os biplanos monomotores poderão ser usados em outros dois tipos de missão. 

A primeira seria o lançamento de paraquedistas da VDV (Tropas Aerotransportadas da Rússia), que atualmente é o papel principal da aeronave com as Forças Armadas Russas. “Anteriormente operados pela própria VDV, os An-2 agora fazem parte do VKS, que possui vários esquadrões do tipo, cada um com cerca de 10 aeronaves, em várias bases diferentes – mas normalmente não em Seshcha.”

Dependendo do progresso das forças russas em solo, a capacidade de lançar paraquedistas de forma relativamente discreta, enquanto voam em baixa altitude, pode ser de uso particular em cercos e ataques a objetivos-chave. Notavelmente, Seshcha fica a apenas cerca de 400 quilômetros de Kiev. 

A sua capacidade de pouso e decolagem curta em locais acidentados também favorece a inserção de tropas e a sua possível segunda missão: o ressuprimento logístico. 

Falando ao portal, o pesquisador de poder aéreo do Royal United Services Institute (RUSI) Justin Bronk, julgou improvável que os An-2 russos fossem usados ​​em algum tipo de cenário de supressão de defesa, mas apontou que “eles podem ser usados ​​para ajudar a aliviar algumas das piores faltas de suprimentos em pontos-chave do avanço russo, causados ​​pelas terríveis falhas logísticas das forças terrestres”.