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Teste em Voo – Montaer MC01

por Micael

Montaer MC01

A aviação leve brasileira sempre se destacou por ser representada por marcas tradicionais. Fabricantes como Cessna, Piper, Neiva, Embraer, entre outras, povoaram nossos aeródromos e aeroportos por décadas a fio, com seus aviões homologados e, naturalmente, menos acessíveis a uma boa fatia de pessoas interessadas em possuir sua própria aeronave para turismo ou negócios.

De uns anos para cá outros players tem surgido a fim de trazer outras propostas menos onerosas para atender esse público que busca um meio de transporte mais rápido, seguro, simples e menos burocrática de operar, e que caiba no orçamento.

Pensando neste público, várias empresas de aviação têm apontado suas miras no seguimento Aeronave Leve Esportiva (ALE), que é o mesmo LSA (Light Sport Aircraft) americano, e vem recebendo, aos poucos, medidas para facilitar e incentivar suas operações.

E foi neste seguimento que a Montaer Aeronaves apostou suas fichas ao lançar o MC01, primeiro avião certificado LSA do país, que tem, entre outros atributos, ter menos de 600kg de peso máximo de decolagem, velocidade máxima de 120kt e não mais do que dois assentos.

Dentro dessa categoria, os processos de certificação são mais simplificados, barateando os custos com certificações, e, consequentemente, o preço.

Assista a avaliação também em vídeo:

https://youtu.be/tILj9fZ9VjQ

 

FUSELAGEM DO MONTAER MC01

A estrutura da aeronave (charuto) é construída basicamente em tubo de aço molibdênio e treliça, revestidas por painéis de alumínio em sua maioria e fibra, a fim de conferir a leveza necessária para manter-se dentro dos requisitos dos LSA’s.

Com 6,40m de comprimento, 8,30m de envergadura e 2,35m de altura (na ponta da cauda), o Montaer revela-se uma máquina bem pequena por fora, sendo ideal para acomoda-la em hangares mais concorridos e, em alguns casos, reduzindo o valor de hangaragem.

ERGONOMIA E ACABAMENTO

Com 1,10m de largura, a cabine acomoda com satisfatório espaço um piloto e passageiro, sem aqueles tradicionais “ombro a ombro” que ocorrem em outras máquinas concorrentes. Além disso, conta com um console central onde abriga, além de dois porta-copos, o botão de acionamento do flape, manete de potência e seletora de combustível, nessa ordem. Esse console permite também uma clara separação na cabine, evitando a tradicional “briga” de joelhos, comuns em aviões pequenos. Os bancos possuem um trilho para ajuste de distância que permite ao piloto e passageiro maior conforto para as pernas, e que possui outra interessante possibilidade de reclinar ambos os bancos em 180°, transformando-os praticamente em cama.

Neste quesito, a aeronave baiana possui os comandos e acionadores à mão, não requerendo grandes contorcionismos para acessar qualquer botão ou dispositivo – e isso inclui até quando precisar acessar qualquer bloco de notas ou objetos que porventura estejam sobre o painel de instrumentos, mesmo com o cinto afivelado. O único senão fica por conta do botão de acoplamento/desacoplamento do piloto-automático: pequeno e mau localizado, a tecla fica em local baixo, à esquerdo da botoeira de luzes. Em posição de voo de cruzeiro, a peça fica escondida pelo manche, carecendo de um leve contorcionismo para olhar onde ele está. Tal botão poderia ser deslocado para o manche, onde seria muito mais fácil e intuitivo para se tirar o PA em caso de uma emergência ou um bird strike, por exemplo.

 

GRUPO MOTOPROPULSOR

Ao ver o avião de perto, chamou-me a atenção a hélice que equipa o MC01. De prima, supuz que aquelas finas pás gerassem pouca tração em comparação às demais aeronaves leves que voei até então, pois as outras vinham equipadas com bojudas Sensenich, McCauley ou Hartzell. Ledo engano: as três blades de 68’’ em fibra de carbono da fabricante Warp Drive surpreenderam, gerando boa tração e baixo ruído. Obviamente, essa força é conseguida através do motor 4 tempos modelo 912 da tradicionalíssima austríaca BRP Rotax. Refrigerado a água, esse motor desenvolve até 100hp girando a elevados 5500 RPM em regime contínuo.

Na condição de voo em cruzeiro, a 6000’ e 75% de potência, o compacto motor consome em média 18,5 l/h, o que gera um alcance de até 1440km (média) – obviamente considerando o avião tanqueado (140l de Avgás ou gasolina Pódium).

Para efeito ilustrativo, desconsiderando ventos, desvios meteorológicos, etc, esse range permite ao monomotor decolar de Brasília e acessar praticamente todos os Estados brasileiros, graças à sua autonomia de sete horas de voo.

PAINEL DE INSTRUMENTOS

A Montaer oferece duas opções de painéis para sua aeronave: uma mais básica, com instrumentos analógicos suficientes ao voo visual e equipamentos como GPS Garmin 660, VHF GTR200, transponder GTX 327  e outra mais completa, com itens como um PFD/MFD Dynon Skyview, piloto automático AP74, GPS Aera 796, rádio GTR200 e transponder GTX327.

Tal suíte me surpreendeu desde os primeiro contato, pois a visualização do PFD é muito similar à linha Garmin ou Proline21, que estou mais acostumado. Um piloto que venha de painéis mais modernos para este ou analógicos para um glass cockpit como este do Montaer, terá uma transição muito fluída e rápida, pois os instrumentos de motor com layout com agulhas e PFD com excelente legibilidade, farão o voo ser ainda mais confortável, informativo e seguro.

 

O MONTAER MC01 EM VOO

Montaer MC01

Meu contato com o Montaer se deu no pátio da Escola Looping, em Atibaia – SP, que é uma das representantes da fabricante em São Paulo. Fomos muito bem recepcionados pelo responsável pela escola, o cmte Paraíba e sua equipe, que descreveu o avião e todas as dúvidas que tínhamos quanto às certificações e habilitações exigidas para se voar um LSA. Fiquei feliz aos saber que para se voar um LSA (como o Montaer), a habilitação de PP é válida, de acordo com as IS (Instruções Suplementares) emitidas pela Anac.

O voo ocorreu no segundo dia após a produção da matéria para nosso canal, devido à entrada de fortes ventos vindos do setor sudeste do campo. No dia seguinte, tive o prazer de ter sido acompanhado pelo instrutor De Paula, conhecido como JP, que fora meu aluno na época de instrutor de aeroclube.

Para acordar o motor Rotax, o procedimento é muito semelhante aos demais aviões que exigem o acionamento com bomba de combustível. Um fato interessante desse modelo de motor é o acionamento e corte “seco”, com um leve tranco, característica que é notada pela ausência de caixa de redução. O taxi do avião é simples e preciso, graças à sua triquilha comandável em solo. Demorei um pouco para me acostumar com a altura dos pedais, que não ficam apoiados no assoalho, mas nada como um pouco de prática para se acostumar.

Avião alinhado na 20 de SDTB e me surpreendi com a baixíssima velocidade da VR: 55kt e a maquininha já estava ganhando os céus, tendo consumido menos de 290m. Tive uma pequena correção por parte do De Paula na subida inicial devido à minha falta de costume com o pitch ideal, pois meu inconsciente queria acelerar o avião, enquanto o ideal era subir com aprox. 60kt naquela condição atmosférica.

Seguimos com proa do setor W para executar algumas manobras. Mesmo com ar ligeiramente turbulento, o avião permanecia na mão, subindo impávido até nivelar a 4500’. Fizemos algumas coordenações, mudanças de atitude e curvas, onde pude comprovar que, mesmo não tendo ailerons grandes (comuns em aviões treinadores) o Montaer provou sua manobrabilidade de forma a mudar de proa facilmente, sem grandes amplitudes de manche.

Montaer MC01 Na hora de aplicar os flapes, outra grata surpresa: aviões curtinhos como este, costumam “inflar” mais do que o normal, na hora de baixar maiores ângulos de flape. Isso não aconteceu no MC01. Há sim uma sutil levantada de cauda com maiores incrementos de flapes, mas nada demais. Nos estóis, que em configuração limpa e peso máximo de decolagem ocorrem a baixíssimos 39kt, o avião recupera-se da falta de sustentação de forma extremamente sutil, quase imperceptível, graças ao seu perfil de asa mais largo, cedendo o nariz e voltando a voar em apenas um ciclo.

Satisfeito com as manobras, retornamos para o circuito, a fim de evitar que a ventaca do dia anterior apanhasse a nós em voo. Devido o vento e turbulência, solicitei ao instrutor a pousar a aeronave, onde pude acompanhar a fácil operação na hora da aproximação final. Com VRef de 80kt, o avião veio firme, compensando o vento reinante no quadrante de proa pela direita. Em menos de 300m o pequeno avião já estava no solo controlado – bem abaixo dos 398m constantes no POH (Pilot Operating Handbook) da fabricante.

Sem dúvidas, o MC01 vem se firmando como uma excelente opção de aeronave leve para quem quer ter sua aeronave para lazer ou transporte executivo. Excelente custo benefício, facílimo de voar, decolagens e pousos curtos, baixo consumo e conforto a bordo são destaques nessa máquina. E isso sem contar a beleza do projeto! Sem dúvidas, continuará na mira de empresários e pessoas que precisam e amam voar, por muito tempo!

 

Mais informações:
www.montaer.com.br
loopingaviaçao.com.br

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Micael Rocha foi instrutor de voo por quatro anos, é checador em aeroclubes e CIACs, voou C525, C525B e C208B Caravan em táxis aéreos e voa Cirrus SR22 desde 2013. 
@aeroereview

 

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Autor: Micael Rocha

Micael Rocha foi instrutor de voo por quatro anos, é copiloto de CJ1, CJ3 e C208B Caravan e voa aeronaves Cirrus SR22 desde 2013. @aeroereview

Categorias: Artigos, Aviação Geral, Teste em Voo, Testes em Voo

Tags: mc01, montaer, teste, Teste de voo, ultraleve, usaexport