Na segunda-feira (07), a Rússia enviou pelo menos um caça MiG-31K armado com um míssil hipersônico Kinzhal para o exclave de Kaliningrado, na região do Báltico. O território faz fronteira com a Polônia, Lituânia e Belarus.
Imagens publicadas no Telegram mostram o caça pousando na base aérea naval de Chkalovsk, a cerca de nove quilômetros da cidade de Kaliningrado, capital do oblast que carrega o mesmo nome. O local foi identificado através de geolocalização.
https://twitter.com/Archer83Able/status/1490832270923825152
A Rússia já tem um esquadrão completo de caças MiG-31K com a capacidade de empregar o armamento. O Kh-47M2 Kinzhal é o único míssil hipersônico lançado a partir de aeronaves em serviço no mundo todo. O armamento pode ser armado com uma ogiva nuclear ou convencional e pode atingir Mach 10, ou seja, 10 vezes a velocidade do som.
É justamente a altíssima velocidade do Kinzhal (Adaga em russo) que o torna mais letal que outros mísseis. Voando baixo, extremamente rápido e capaz de manobrar durante todo o voo, o míssil se torna muito mais difícil de ser detectado e interceptado pelas defesas aéreas atuais, que tem pouco tempo para reagir.
O desdobramento de um MiG-31K armado com o Kh-47 em Kaliningrado já é, por si só, incomum, chamando muito mais atenção quando ocorre em meio às tensões na Europa. A partir de lá, o míssil teria alcance suficiente para atingir quase todas as capitais da Europa ocidental, exceto Lisboa e Madri.
O analista militar Rob Lee observa os mísseis Iskander – no qual o Kinzhal é baseado – em Kaliningrado podem, no máximo, atingir o extremo norte de Berlim. Além disso, um Kinzhal pode atingir esses alvos dentro de 7 a 10 minutos após ser lançado do espaço aéreo de Kaliningrado.
From Kaliningrad alone, the Kinzhal can reach London, Paris, Rome, and most other NATO member capitols in Europe.
— Rob Lee (@RALee85) February 7, 2022
Segundo a Forbes, a implantação do caça naquela região provavelmente seria uma advertência deliberada à OTAN: uma ameaça de retaliação caso a aliança considere intervir contra uma possível ação militar russa na Ucrânia.
Vale a pena notar que os desdobramentos russos em Belarus, além de representar uma ameaça para a vizinha capital ucraniana de Kiev, também podem ter como objetivo ajudar a proteger Kaliningrado da pressão da OTAN, ameaçando cortar ou interditar o estreito corredor terrestre que liga a Polônia aos estados bálticos, chamado de Suwalki Gap.
A Rússia também tem mais de mil mísseis balísticos intercontinentais e bombardeiros capazes de transportar mísseis de cruzeiro que podem atingir alvos em todo o mundo. Mas mesmo o uso limitado desses sistemas estratégicos nucleares corre o risco de desencadear uma guerra nuclear estratégica, levando à destruição de países.
Moscou pode acreditar (com ou sem razão) que o Kinzhal de curto alcance e capacidade convencional ou nuclear é uma ameaça ainda séria, mas mais ‘utilizável’, caindo no limiar de precipitar um conflito nuclear estratégico com os Estados Unidos.
A Rússia tem apenas 10 a 20 MiG-31K modificados para transportar o míssil hipersônico. Assim, a implantação de um MiG-31K armado com o Kinzhal sugere quão seriamente os militares russos estão se preparando para várias contingências em torno de uma possível ação militar na Ucrânia, incluindo a de dissuadir o envolvimento da OTAN.
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