Advertisement

Afundamento do porta-aviões São Paulo é inevitável, diz Marinha

O porta-aviões São Paulo da Marinha do Brasil, em uma de suas poucas operações no início dos anos 2000. Foto: Rob Schleiffert.

O impasse com o casco do ex-porta-aviões São Paulo parece estar chegando ao seu fim. Em nota conjunta apresentada na quarta-feira (01), a Marinha do Brasil, Ministério da Defesa e a Advocacia-Geral da União afirmam que o afundamento do antigo Navio Aeródromo (NAe) é inevitável, dadas as condições do casco da embarcação.

O navio de 33 mil toneladas deixou o Brasil em agosto de 2022 após ter sido arrematado pelo estaleiro turco SÖK DENIZCILIK TIC.VE LTD (SÖK) por R$ 10,5 milhões. O navio, fabricado na França, seria então desmanchado e vendido como sucata.

No entanto, protestos de grupos ambientalistas na Turquia fizeram o Ministério do Meio-ambiente daquele país proibir a entrada do NAe São Paulo, fazendo o navio e seu rebocador darem meia-volta, retornando ao Brasil. O motivo seria a enorme quantidade de amianto presente na embarcação, cerca de 9,6 toneladas do produto tóxico, cuja venda no Brasil só foi proibida em 2017. 

NAe São Paulo navegando ao lado do porta-aviões nuclear norte-americano USS Ronald Reagan. Foto: Marinha dos EUA.
NAe São Paulo navegando ao lado do porta-aviões nuclear norte-americano USS Ronald Reagan. Foto: Marinha dos EUA.

Ao chegar na costa brasileira, autoridades locais proibiram a atracação do porta-aviões em Suape, em Pernambuco. Dessa forma, o rebocador Alp Centre e o NAe ficaram navegando sem rumo por meses, até que a Marinha interviu na situação. 

Ao avaliar o navio que já foi nau-capitânia da frota brasileira, a MB constatou “uma severa degradação das condições de flutuabilidade e estabilidade.” Antes disso a Marinha, por meio da Autoridade Marítima Brasileira (AMB), já havia detectado danos ao casco, cujos reparos seriam de responsabilidade da Sök.

Dessa forma, a Marinha voltou a assumir o controle administrativo do casco, levando-o para uma “área marítima mais afastada, dentro das Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), a 350 km da costa brasileira e com profundidade aproximada de 5 mil metros, onde o Navio de Apoio Oceânico “Purus” substituiu o rebocador contratado, com o acompanhamento da Fragata “União”, ambos da MB”, afirma a instituição em nota. 

NAe São Paulo A12 marinha do Brasil porta-aviões
O NAe São Paulo navegou por apenas 206 dias, passando a maior parte de seus quase 20 anos de serviço militar parado no AMRJ. Foto: Marinha do Brasil.

“Diante dos fatos apresentados e do crescente risco que envolve a tarefa de reboque, em virtude da deterioração das condições de flutuabilidade do casco e da inevitabilidade de afundamento espontâneo/não controlado, não é possível adotar outra conduta que não o alijamento do casco, por meio do afundamento planejado e controlado.”

O afundamento do ex-NAe São Paulo (A12) deve ser realizado por equipes da Marinha nos próximos dias, levando ao fundo do mar uma história que começa no final da década de 1950. 

O casco do atual São Paulo foi lançado em 1957 como o R99 Foch, o segundo porta-aviões da Classe Clemenceau da Marinha Francesa. O navio entrou em serviço em 1963 e permaneceu em operação com aquele país até ser aposentado em novembro de 2000, sendo rapidamente adquirido pela Marinha do Brasil em seguida, como substituto do então Navio Aeródromo Ligeiro (NAeL) Minas Gerais, o primeiro porta-aviões brasileiro. 

Aeronaves A-4 da MB e S-2T Tracker da Argentina no convés do NAe São Paulo durante um exercício em 2003. 
Foto: Marinha dos EUA.
Aeronaves A-4 da MB e S-2T Tracker da Argentina no convés do NAe São Paulo durante um exercício em 2003.
Foto: Marinha dos EUA.

O navio passou por atualizações e consertos antes de ser operado pela MB, sendo empregado em diversas operações nos seus primeiros anos de serviço. O navio recebeu a bordo os jatos de caça e ataque AF-1 Skyhawk (Douglas A-4) da própria MB, bem como aeronaves das aviações navais argentina e uruguaia. 

No entanto, não demorou muito para o São Paulo apresentar problemas. Em maio de 2005 ocorre o mais grave acidente a bordo do navio: o incêndio e subsequente explosão em uma das caldeiras deixou três marinheiros mortos e oito feridos.

O A12 São Paulo passou a maior parte de sua vida na MB atracado no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), tendo operado no mar por apenas 206 dias. A Marinha chegou a planejar uma grande modernização do navio, que o manteria operativo até 2039, mas os altos custos proibiram tais ações. Em 2018 a Marinha aposentou seu maior porta-aviões em definitivo, leiloando o casco em 2021. 

 

Quer receber nossas notícias em primeira mão? Clique Aqui e faça parte do nosso Grupo no Whatsapp ou Telegram.

 

Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Militar, Notícias, Notícias

Tags: Marinha do Brasil, Porta-Aviões, São Paulo, usaexport