Análise de impacto econômico da construção de um aeroporto em São Bernardo do Campo

Aeroporto de Congonhas

Por Volney Gouveia e Lucio Freitas

Recentemente, o Ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, anunciou a intenção de se construir um novo aeroporto na Região Metropolitana de São Paulo, mais especificamente na cidade de Cajamar. Tal proposta vem ao encontro de outro estudo que a Universidade Municipal de São Caetano do Sul – no âmbito do curso de Ciências Aeronáuticas – tem elaborado sobre a alternativa de construção de um novo aeroporto no Grande ABC, mais especificamente na cidade de São Bernardo do Campo. Esta nota apresenta uma breve consideração sobre os impactos econômicos da construção, manutenção e operação de um aeroporto em termos de renda e emprego na cidade. Utilizou-se da Matriz Insumo-Produto publicada pelo IBGE, que permite estimar – a partir da utilização de índices multiplicadores – os efeitos econômicos desencadeadores “para frente” (setores que são beneficiados com a realização do investimento). Inicialmente é discutida a importância do aeroporto como vetor de desenvolvimento para, em seguida, apresentar a Matriz Insumo Produto (MIP) e sua aplicação no contexto de instalação do aeroporto na cidade paulista. O projeto estima a movimentação de recursos da ordem R$ 1,4 bilhão na forma de investimentos para construção, manutenção e operação do aeroporto, com potencial para gerar 108,8 mil novos empregos e  R$ 3,06 bilhões de renda adicional na atividade econômica nacional (efeitos para frente).

O Aeroporto como Vetor de Desenvolvimento

Kesside (1993) ressalta a importância da infraestrutura para o desenvolvimento e crescimento econômico de uma região na medida em que elimina custos imputados às empresas numa situação na qual a infraestrutura é precária ou inexistente. A ampliação da infraestrutura elimina custos extras e evita que os produtores, públicos ou privados, incorram em perda de eficiência, pois estes deixam de deslocar recursos indevidamente. Segundo o autor, o aprimoramento da infraestrutura produtiva promove impulsos relevantes no nível de competitividade de uma região e melhora o seu engajamento nos fluxos internacionais de comércio, o que coloca o aeroporto particularmente em papel central. A ampliação do comércio internacional tem criado interligações econômicas entre os espaços locais e globais, impondo a necessidade de melhoria permanente da logística de transportes. A limitação de infraestrutura impõe sérias limitações aos países e regiões quanto aos seus fluxos de bens e serviços oferecidos na cadeia global de comércio. Em outros termos, a infraestrutura não deve ser vista apenas como um ativo de produção, mas também como importante insumo que viabiliza o consumo dos agentes econômicos. Ela também afeta diretamente a produtividade destes agentes, ampliando a possibilidade de emprego e renda futuras destes agentes, além de afetar diretamente a capacidade do país ou região de criar renda real.

O aeroporto exerce importante papel na dinâmica do comércio global e local pois, ao conectar pessoas e viabilizar os fluxos de mercadorias e serviços, integra a cadeia de suprimentos e se constitui em importante “porta de entrada” para os corredores de comércio. Como aponta Kasarda (2010), o ritmo acelerado das transações econômicas globais tornou o aeroporto um ímã, que passou a agregar um conjunto de atividades de entrada e saída de recursos produtivos. Esta característica vem ao encontro das potencialidades do ABCD Paulista para sediar projetos de infraestrutura aeroportuária, razão pela qual demanda estudos sobre os efeitos econômicos promovidos pelo sítio aeroportuário.

Alguns eventos importantes ocorridos na região nos tempos recentes justificam a reflexão sobre as possibilidades da implantação de um aeroporto na região paulista como forma de mitigar os efeitos negativos de estagnação da renda e o emprego. A evolução da desindustrialização da região, com a saída de importantes fábricas da região (Ford, Toyota etc), justifica o estudo sobre novas alternativas de desenvolvimento para a região do ABCD Paulista.

Metodologia Aplicada: a Matriz Insumo-Produto (MIP) e o Efeito Econômico para a Região do ABCD Paulista

A mais recente Matriz de Insumo-Produto brasileira, juntamente com as Tabelas de Recursos e Usos calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015, permite conhecer um pouco mais sobre o setor de transporte aéreo e seus impactos sobre o conjunto da economia e de cada um dos demais setores produtivos.

Conforme a Comissão Nacional de Classificação (CONCLA), a atividade aérea contemplada na Matriz abarca o transporte de passageiros, carga e transporte espacial. Segundo a ABEAR, a indústria aérea responde por 3,6% do Produto Interno Bruto (R$ 392 bilhões). A cadeia de serviços do setor 4,0 milhões de trabalhadores (4,4% da força de trabalho do país) e tem forte potencial de geração de emprego (para cada emprego criado no setor,4,5 o são no conjunto da economia).

Para estimar os efeitos de emprego e renda da instalação do aeroporto, tomou-se como referência o Aeroporto de Congonhas, São Paulo, com potencial para movimentar 17 milhões de passageiros/ano, e o projeto do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, Rio Grande do Norte, inaugurado em 2014, com potencial para atender 6,2 milhões passageiros.

Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, RN

Para efeitos de determinação da dimensão do aeroporto proposto para São Bernardo do Campo, considerou-se as características do Aeroporto de Congonhas (área de 1,6 mi de metros quadrados), duas pistas de pouso e decolagem e capacidade de voos de passageiro e carga daquele aeroporto. A figura 2 mostra uma visão aérea do aeroporto de Congonhas.

Aeroporto de São Paulo / Congonhas, SP

As estimativas de custos de implantação e operação foram obtidas da Aeroservice-BNDES (2010), responsável pela construção do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, e atualizados pelo INCC e IPCA até 2023. Tais valores foram ajustados linearmente conforme a capacidade operacional proposta para o empreendimento em SBC, por hipótese: 17 milhões passageiros e 20 mil toneladas de carga, operando com duas pistas de pouso e decolagem (primeira fase).

Efeito Econômico de Novo Aeroporto na Região do ABCD Paulista

Para estimativas de renda e empregos gerados na construção de um aeroporto em São Bernardo do Campo, adotou-se por conveniência a contratação de serviços da Construção (setor 40 da matriz de insumo-produto), publicado pelo IBGE. O investimento inicial para a construção do aeroporto é estimado em R$ 1,01 bilhão, com impacto superior a R$ 1,82 bilhão na economia, com potencial para gerar 61,4 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, sobretudo na atividade de Construção Civil.

 A manutenção do aeroporto é estimada em R$ 45 milhões por ano, podendo gerar em termos de renda, ao longo da cadeira produtiva, R$ 71,4 milhões e geração de mais 2,7 mil postos de trabalho.

Para a estimativa do impacto econômico da operação do aeroporto, considerou-se o rendimento total do setor aéreo brasileiro (INFRAERO, 2022), tomado proporcionalmente pelo número de passageiros e pela dimensão do aeroporto. Ao aplicar a Matriz de Insumo-Produto do IBGE, estima-se que a operação do novo aeroporto, nos moldes do de Congonhas, tem potencial para gerar R$ 735,4 milhões/ano, com impacto na atividade econômica direta, indireta e induzida de R$ 1,17 bilhão e 44 mil empregos diretos, indiretos e induzidos.

A estimativa de impacto total (construção, manutenção e operação) é de R$ 1.37 bilhão, com a geração de 15,5 mil novos empregos e impacto econômico total de R$ 3,06 bilhões. A tabela 1 sintetiza os principais resultados:

Tabela 1: Impactos da instalação de um aeroporto no ABCD Paulista.

 

Valor investido

Empregos

Impacto Econômico

Investimento inicial

R$ 1.01 bi

61,4 mil

R$ 1,82 bi

Manutenção

R$  0,05 bi

  2,7 mil

R$ 0,07 bi

Operação

R$   0,73 bi

44,6 mil

R$ 1,17 bi

Total

R$   1,79 bi

108,7 mil

R$ 3,06 bi

Fonte: elaboração dos autores, 2024.

As estimativas podem ser melhoradas a partir de um estudo da demanda por transporte aéreo no Grande ABCD Paulista e Região Metropolitana e consequente elaboração de um projeto de aeroporto específico para a região. Há também externalidades não capturadas pela metodologia do insumo-produto e a necessidade de regionalização de uma matriz para a região. Por se tratar de uma região industrial, com atividades tipicamente fornecedoras de insumos para a construção de aeroportos e transporte aéreo, é provável que os efeitos locais sejam maiores do que aqueles capturados pela matriz de insumo-produto nacional. Não obstante, a nota procura identificar uma breve amostra da ordem de grandeza dos impactos econômicos que podem ser obtidos com a implantação de um aeroporto em São Bernardo do Campo, principalmente no contexto de reposicionamento industrial e de negócios da região.

Identificar novos nichos de mercado, como a indústria de aviação comercial e seus derivados (indústria aeronáutica, projetos de aeroportos), contribuirá para manter o protagonismo econômico da região em âmbito nacional, principalmente depois da decisão das montadoras Ford e Toyota de fechar suas operações na cidade de SBC, podendo impactar positivamente nos níveis de emprego e renda da cidade, conforme nota técnica já publicada no CONJUSCS (Observatório de Políticas Públicas e Empreendedorismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul).

Sobre os autores

Volney Aparecido de Gouveia. Gestor-Adjunto da Escola de Gestão e Negócios, Coordenador dos cursos de Ciências Econômicas e Ciências Aeronáuticas da USCS. É doutor em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC. Mestre em Economia pela Universidade Cândido Mendes e pós-graduado pela Universidade Anhembi Morumbi. Economista pela FAAP-SP. Autor do livro A Economia do Transporte Aéreo no Brasil: Novos Ares para o Desenvolvimento da Aviação, lançado pela Editora Didakt, da USCS.

Lucio Flávio da Silva Freitas. Doutor em Economia pela Unicamp. Professor de Economia da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Economista do Grupo Euro17. Consultoria. Conjuntura Econômica e Macroeconomia.

 

Autor: Espaço Aéreo

Espaço Aéreo é um sistema de ensino gamificado e fornece conteúdo e tecnologia para instituições de ensino, empresas de aviação, pilotos e aspirantes a pilotos. Com sua metodologia de ensino possibilita ao estudante conectar a teoria com a prática em aulas presenciais, híbridas e EAD.

Categorias: Aeroportos, Aeroportos, Artigos, Notícias

Tags: Aeroporto São Bernado do Campo

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