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Boeing divulga relatório onde funcionários fazem piadas com Clientes e FAA

Boeing 737 MAX 8

A Boeing entregou mais de cem páginas de documentos para o Congresso dos EUA, incluindo mensagens de texto e e-mails internos que incluem uma linguagem que zomba dos clientes (companhias aéreas), da Administração Federal de Aviação e de outros reguladores, enquanto a fabricante de aviões estava trabalhando no processo de certificação do 737 MAX.

As mensagens, que contêm linguagem obscena e comentários depreciativos, foram imediatamente criticadas por Peter DeFazio, presidente do Comitê de Transportes e Infraestrutura da Câmara.

“Esses e-mails recém-entregues são incrivelmente condenáveis”, diz DeFazio em comunicado divulgado em 09 de janeiro. “Eles pintam uma imagem profundamente perturbadora dos acordos que a Boeing aparentemente estava disposta a fazer para evitar o escrutínio dos reguladores, das equipes de voo e do público (passageiros), mesmo quando seus funcionários estavam soando alarmes internamente sobre problemas no avião”.

A Boeing respondeu com uma declaração própria, pedindo desculpas pelas palavras que foram usadas e pelos sentimentos expressos.

“Essas comunicações contêm linguagem provocativa e, em certos casos, levantam questões sobre as interações da Boeing com a FAA em conexão com o processo de qualificação do simulador”, respondeu a Boeing em comunicado divulgado em 9 de janeiro. “Essas comunicações não refletem a empresa que somos e precisamos ser, e são completamente inaceitáveis”.

A FAA respondeu que seus especialistas “determinaram que nada na submissão apontava para riscos de segurança que ainda não foram identificados como parte da revisão em andamento das modificações propostas para a aeronave”.

“Embora o tom e o conteúdo de algumas das mensagens contidas nos documentos sejam decepcionantes, a FAA continua focada em seguir um processo completo para devolver o Boeing 737 MAX aos voos com passageiros”, afirma a FAA. “Continuamos trabalhando com outros reguladores internacionais de segurança da aviação para revisar as alterações propostas nas aeronaves. Nossa primeira prioridade é a segurança, e não estabelecemos um prazo para quando o trabalho será concluído.”

Os documentos divulgados à mídia em 09 de janeiro foram editados, com os nomes dos participantes da conversa em branco.

 

O que as conversas dizem?

Foto – Boeing

As conversas apontam que um funcionário da Boeing, que era o Chefe de Pilotos do programa 737 MAX, declarou a um colega de trabalho que qualquer um na FAA rejeitaria o requisito sugerido pela Boeing para o treinamento em simulador, citando o 737 MAX nessa conversa.

Ele, no entanto, apoia que a Boeing faça algo para aprovar o treinamento proposto antes, sem o simulador, e deixa a mensagem acima apenas como um alerta que a fabricante encontraria dificuldades com a FAA.

“Quero enfatizar a importância de manter firme que não haverá nenhum tipo de treinamento em simulador necessário para a transição do NG para o Max. A Boeing não permitirá que isso aconteça. Iremos ficar cara a cara com qualquer regulador que tentar fazer disso um requisito”, escreve o piloto.

O piloto já citado escreveu depois que nenhum treinamento em simulador deveria ser necessário quando os pilotos fizessem a transferência do 737 NG para o 737 MAX. A mensagem foi direcionada para o corpo técnico de uma companhia aérea.

A companhia aérea, aparentemente sediada na Índia, pretendia que seus pilotos concluíssem o treinamento em simulador e o treinamento em computador na sala de aula antes da transição, mostram as mensagens.

“Não há absolutamente nenhuma razão para exigir que seus pilotos façam um treinamento em simulador do 737 MAX, para que então eles comecem a pilotar o MAX”, escreve o principal piloto da Boeing. 

“Depois que os motores são ligados, existe apenas uma diferença entre NG e Max em termos de procedimento”, disse o piloto.

Em um outro e-mail, o chefe dos pilotos disse que o tempo do simulador criaria “uma carga de treinamento difícil e desnecessária para sua companhia aérea, além de potencialmente estabelecer um precedente em sua região para outros clientes do 737 MAX”.

Depois que a companhia aérea confirmou que não exigiria treinamento adicional em simulador, o piloto da Boeing escreveu a um colega: “Parece que meu truque mental jedi funcionou novamente!”

O colega respondeu: “Haha, eu vou lhe enviar para negociar uma peça no Oriente Médio a seguir.”

Em outra conversa, de 12 de dezembro de 2017, um funcionário se refere à DGCA, a autoridade de aviação civil da Índia, como “ainda mais estúpida”. O mesmo funcionário diz mais tarde na conversa “estou bebendo obviamente”.

Em 8 de fevereiro de 2018, um colega pergunta a outro: “Você colocaria sua família em uma aeronave treinada no simulador do MAX? Eu não”. O colega responde: “Não”.

 

FAA ‘WHINING’

Cockpit do 737 MAX 8. Foto – Boeing/Leo Dejillas

Em outras mensagens, os funcionários reclamam das exigências das FAA, e dos processos internos que atrasaram o desenvolvimento da aeronave.

Em mensagens de 2013, os funcionários da Boeing discutem a decisão da empresa de se referir ao Sistema de Aumento de Características de Manobras (MCAS) do 737 MAX como parte do sistema de compensação de velocidade do MAX.

O enquadramento do MCAS, que era novo no MAX, como parte de um sistema existente, evitaria “conduzir trabalhos adicionais, gerando impactos no cronograma de treinamento e expansões nos manuais de manutenção”, dizem as mensagens.

O MCAS é o software de controle de voo automatizado que contribuiu para o acidente de outubro de 2018 com um 737 MAX 8 da Lion Air, e mais outro acidente em março de 2019 com um 737 MAX 8 da Ethiopian.

Depois dos acidentes a Boeing entrou em uma crise, sendo obrigada a paralisar todos os aviões que já estavam operando, e até hoje tenta certificar novamente o 737 MAX.

Em outro e-mail em 1 de junho de 2018, um funcionário da Boeing descreve a cultura da fabricante de aviões como corrompida por uma equipe de liderança obcecada em cumprir os prazos do projeto.

“É sistêmico. É cultura”, afirma o funcionário a um colega. “É o fato de termos uma equipe de liderança que entende muito pouco sobre os negócios e ainda está nos levando a determinados objetivos.”

Como os nomes nas mensagens de texto foram excluídos, é difícil discernir se os correspondentes são os mesmos ou diferentes funcionários.

Em 20 de setembro de 2016, um funcionário fala sobre o 737 MAX: “isso é uma piada” e “este avião é ridículo”.

Poucos meses depois, em 24 de abril de 2017, um funcionário escreve: “este avião é projetado por palhaços que, por sua vez, são supervisionados por macacos”. Eles chamam o design da aeronave de “piss poor”.

Em maio de 2018, um funcionário disse a outro que eles ainda “não foram perdoados por Deus, por encobrir [o que] eu fiz no ano passado”“Não posso fazer mais uma vez. Os portões adornados com pérolas estarão fechados…”. O colega responde: “Acabei de receber uma pá para iniciar minha jornada ao lugar mais quente…”

A Boeing diz que “proativamente” deu as comunicações à FAA em dezembro e forneceu cópias para os comitês da Câmara e do Senado. 

A Boeing divulgou os documentos publicamente “por incentivo” de DeFazio e do senador Roger Wicker, presidente do Comitê de Ciência, Comércio e Transporte do Senado.

“Lamentamos o conteúdo dessas mensagens e pedimos desculpas à FAA, ao Congresso, a nossos clientes de companhias aéreas e aos passageiros“, diz a Boeing.

 

Via – FlightGlobal

 

 

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Aeroflap

Autor: Aeroflap

Categorias: Aeronaves, Notícias

Tags: 737, 737-MAX, Boeing