Gripen: Saab trabalha em solução de navegação para operações sem GPS

Saab Gripen E
JAS-39E Gripen. Foto: Jamie Hunter/Saab.

A Saab está desenvolvendo uma solução de navegação para que o seu caças Gripen C/D e E/F possa operar em ambientes onde o uso de GPS é negado pelo inimigo. O sistema poderá ser oferecido aos usuários da aeronave a partir do final desta década.

No campo de batalha moderno, o desenvolvimento e uso de táticas e equipamentos para negação do uso de GPS é cada vez mais comum. “A posição da sua própria plataforma é realmente importante e, com o tempo, os requisitos para a precisão desse posicionamento aumentaram cada vez mais – agora estamos falando de medidores”, disse o piloto de teste do Gripen Jonas Jakobsson.

“Durante anos, a solução ideal tem sido os sistemas globais de navegação por satélite [GNSS] e, na maioria das vezes, o GPS, para conseguir isso”, observa ele o piloto. No entanto, severos bloqueios de GPS foram experimentados durante os principais exercícios militares na Escandinávia, e pequenas perturbações também podem ser causadas por eventos naturais, como erupções solares.

Jakobsson é um dos pilotos que testou o Gripen no Brasil.

Com as forças aéreas precisando do mais alto nível de precisão de navegação e de seleção de alvos para garantir que nenhum dano colateral seja causado quando armas guiadas com precisão são empregadas (como bombas JDAM guiadas por GPS), a Saab está procurando derrotar essas táticas de anti-acesso/negação de área (A2/AD).

A solução proposta pela Saab combinará dados do Ternav, seu sistema de navegação de terreno já existente, imagens de odometria em tempo real através da instalação de câmera e um modelo de superfície de mapeamento 3D fornecido pela Maxar Technologies por meio de um banco de dados de fusão de sensores. Isso fornecerá uma precisão posicional muito maior do que o uso de equipamento de unidade de medição inercial tradicional, diz a Saab. 

Jakobsson diz que se os militares optarem por evitar operar em áreas afetadas pela negação do GNSS, então “é uma arma A2/AD realmente barata” para um adversário. E embora as tecnologias anti-bloqueio possam ajudar, pode não ser o caso em áreas altamente contestadas, observa.

Câmera instalada na aeronave. Foto: Saab via Flightglobal.

Em 2018, a Saab e a Maxar realizaram voos de testes com o Gripen usando uma câmera hospedada em um pod para avaliar o potencial de tal sistema. Em 2020, esse trabalho foi expandido para conduzir o processamento em tempo real com o demonstrador do Gripen E/F. 

“Foi um sucesso”, afirma Tobias Jansson, gerente de produto do Gripen. Voos de teste adicionais podem ocorrer em cerca de um ano, diz ele. O conhecimento de navegação em terreno da Saab remonta à década de 1980 e ao caça Viggen. Sua tecnologia foi posteriormente aprimorada para o programa Gripen, mas não foi adotada pela Força Aérea Sueca, que optou por contar com o sistema GPS.

Jansson revelou que a capacidade foi oferecida à Finlândia como parte da oferta da Saab ao Programa HX. Foram oferecidos 64 Gripen Es e duas aeronaves de vigilância GlobalEye. “Achamos que essa capacidade é importante para um país que está muito próximo de um adversário que tem essa capacidade [de interferência]”, diz ele.

Gripen E sueco. Foto: Saab.

Referindo-se à expansão da ameaça A2/AD, Jakobsson observa: “Se você é um país que não tem seu próprio sistema GNSS nacional, então você depende de outra pessoa. Você não tem autonomia para dizer ‘sempre podemos contar com 100% de acesso'”.

Jakobsson observa que o sistema também seria valioso no apoio de operações usando bases dispersas – uma tática que é empregada tanto pela Finlândia quanto pela Suécia para reduzir a vulnerabilidade a ataques contra bases aéreas. Dessa forma, as forças aéreas empregam seus caças a partir de rodovias comuns. Recentemente, a própria Finlândia realizou um treinamento assim, onde seus F/A-18 Hornet pousaram e decolaram de uma estrada durante o dia e à noite.

O Gripen já tem a capacidade única de realizar o chamado pouso “nav” usando GPS. “Agora, em vez de GPS, usaremos essa funcionalidade”, diz ele. “Para dar um passo adiante, a aterrisagem automática é algo que discutimos e temos estudos sobre.” Essa função de aproximação e aterrissagem “fora da rede, IMC automático [condições de voo por instrumento] e pouso seria muito útil em um cenário de guerra”, afirma.

“Achamos que este é um dos pilares que você terá para enfrentar as operações de GNSS negado”, diz Jansson. A capacidade operacional de todo o sistema, incluindo mapeamento 3D, poderia ser alcançada “dentro de três a cinco anos”, sugere ele. Uma solução baseada em odometria também seria “super fácil” de apresentar para o Gripen C/D por meio de atualizações de software, diz Jansson. “Há um grande interesse dos clientes existentes [do Gripen] e continuamos essa discussão”, acrescenta ele.

A tecnologia modular também tem aplicação potencial para outros tipos de plataforma, como GlobalEye e veículos aéreos não tripulados, além de armas lançadas do ar, acredita Saab.

Via Flightglobal

 

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Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.