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Há 46 anos um piloto soviético desertava para o Japão com um MiG-25

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Em 1976, a Guerra Fria seguia firme com os Estados Unidos e a União Soviética conduzindo uma frenética corrida armamentista e a polarização do mundo entre os blocos capitalista e socialista. Mas há exatos 46 anos, a deserção de um jovem piloto com um moderno jato de combate entrou para a história e trouxe animosidade entre Japão, EUA e URSS. 

O Tenente Viktor Belenko tinha 29 anos e era piloto no 513º Regimento de Caça das Forças de Defesa Aérea Soviéticas (PVO). A unidade empregava o mais potente avião de combate do arsenal da URSS, o Mikoyan-Gurevich MiG-25, chamado de Foxbat pela OTAN. 

A aeronave havia entrado em serviço seis anos antes e, no mundo ocidental, pouco se sabia sobre ela. Na verdade, o MiG-25 era temido, envolto por mitos e suposições de que era um caça muito moderno e extremamente ágil, o que mais tarde foi provado como falso.

Mikoyan-Gurevich MiG-25 Foxbat preservado no Museu de Monino, na Rússia. Foto: Clemens Vasters via Wiki Commons.

Por outro lado, o Foxbat é, até hoje, um dos caças mais rápidos da história, capaz de ultrapassar os 3100 km/h, mesmo com certas limitações. Sua aparição foi um dos principais motivadores para a criação do F-15 Eagle, que acabou derrotando-o em combate anos depois. 

Mas voltando à Belenko. O jovem aviador não estava entusiasmado com a sua realidade. Mesmo escolhido para voar o MiG-25, estava insatisfeito com a vida do lado de dentro da cortina de ferro.

Além disso, sua esposa Lyudmila estava infeliz com o casamento e a vida de mulher de militar. A base aérea de Chuguyevka, onde servia, também apresentava uma péssima infraestrutura, o que diminuía o moral da tropa local. 

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Belenko e seu filho Dmitry, três anos antes de sua deserção. Foto: AP via Russia Beyond.

Esses motivos foram suficientes para o então Tenente Belenko planejar sua fuga para o Ocidente, especificamente o Japão. Seu plano foi posto em prática no dia 06 de setembro de 1976, quando ele decolou seu novo MiG-25 em um voo de treinamento, como parte de uma esquadrilha de quatro aviões. 

Em determinado momento, Belenko fingiu uma pane no seu caça e começou a descer. Seus alas acreditaram que ele havia colidido com o solo, mas Belenko estava voando rasante, com o enorme nariz do MiG apontado para o Japão. Seu objetivo era pousar na Base Aérea de Chitose, na ilha de Hokkaido.

Radares japoneses detectaram o avião se aproximando em alta velocidade, vindo do território da URSS. Um par de caças F-4EJ da Força Aérea de Autodefesa do Japão (JASDF), foram acionados para interceptar a aeronave, o que nunca aconteceu.

F-4 Phantom Japão JASDF
F-4EJ Kai Phantom II da JASDF, similar aos despachados para interceptar Belenko em 1976. Foto: Toshi Aoki – JP Spotters via Wiki Commons.

Ao mesmo tempo em que os radares de solo não conseguiam acompanhar o MiG-25 voando baixo e rápido, os radares de bordo dos F-4 não tinham uma boa capacidade de rastreamento de cima para baixo (chamada de look-down, shoot-down). 

Além desses fatores a meteorologia estava ruim, o que prejudicou Belenko em sua busca pela base de Chitose. Quase sem combustível, Belenko avistou um aeroporto e decidiu que essa era opção. Era o aeroporto civil de Hakodate, ao sul da ilha de Hokkaido.

Ele sobrevoou o local três vezes antes de se aproximar e tocar as rodas do enorme caça bimotor em solo japonês. Belenko aplicou os freios e abriu o paraquedas de frenagem, mas a pista era curta demais para o MiG-25 que só parou na grama, quase colidindo com um conjunto de antenas. 

MiG-25 Hakodate
O MiG-25 ‘Red 31’ de Belenko em Hakodate.

A polícia foi acionada junto com as forças armadas, que isolaram o local e fecharam o aeroporto. O piloto foi preso e prontamente solicitou asilo político às autoridades locais. A deserção de Viktor Belenko gerou um enorme incidente diplomático entre Moscou, Washington e Tóquio. 

Três dias depois de fugir, Belenko foi enviado aos EUA sob inúmeros protestos da URSS. Enquanto a CIA tratava de fazer ele falar inglês, os diplomatas resolviam o problema do avião: como conseguir tempo para estudar a aeronave ao máximo e diminuir os ânimos dos soviéticos.

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O MiG-25 coberto por lonas sendo embarcado no C-5 Galaxy em Hakodate,

Cerca de 20 dias depois de pousar, o MiG foi embarcado em um C-5 Galaxy da Força Aérea dos EUA e levado à base Hyakuri, ao norte de Tóquio, onde foi desmontado e examinado extensivamente por especialistas japoneses e estadunidenses.

Dois meses depois, o avião foi colocado em caixas e devolvido ao seu país de origem, enfurecendo os soviéticos que disseram que 10 a 20 partes da aeronaves estavam faltando.

O desertor Viktor Belenko ao lado de um F-5F Tiger II da Marinha dos EUA. No capacete, o emblema da Escolha de Armas de Caça da Marinha, a TOP GUN.

Enquanto os russos cobraram milhões pelos danos à aeronave, os japoneses enviaram uma multa de cerca de US$ 40 mil à Moscou por danos no aeroporto de Hakodate.

Os dados coletados mostraram que o MiG-25 não era nada do que o Ocidente imaginava. Apesar de veloz, não era um caça manobrável, sendo puramente um interceptador: chegue ao alvo, derrube-o e retorne à base o mais rápido possível.

Seus instrumentos, incluindo o gigante radar, foram considerados funcionais mas rudimentares. E os enormes motores Tumansky R-15 não podiam ser usados em sua potência máxima por muito tempo. 

Em solo norte-americano, Belenko contou tudo o que sabia sobre as táticas de combate da URSS e revelou inúmeros segredos. Ele participou de programas de treinamento como o curso TOP GUN da Marinha dos EUA, onde inclusive voou como instrutor. Ele se tornou um engenheiro aeroespacial, casou com uma norte-americana e seguiu no mercado atuando como consultor. 

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Militar, Notícias, Notícias

Tags: EUA, Guerra Fria, Japão, MiG-25, Rússia, usaexport