O estranho projeto do Lockheed Flatbed

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O Lockheed Flatbed transportaria cargas de grande volume em um piso aberto.

O mundo da aviação é cheio de projetos esquisitos que buscam solucionar necessidades e problemas. Uma boa parte dessas ideias nunca realmente passa disso – uma ideia – e esse é caso do Lockheed Flatbed, um estranho avião de cargas desenhado nos anos 80. 

A ideia por trás do Flatbed – um nome não oficial – era resolver alguns problemas, como o conceito de “Max out before bulk out”, onde aviões de carga normalmente atingem seu peso máximo de decolagem (max) antes do volume total (bulk), deixando espaço de sobra por dentro da fuselagem. 

Via Secret Projects.

Além disso, o transporte de cargas especiais superdimensionadas requer o uso de aviões enormes, como o C-5 Galaxy da própria Lockheed, o Antonov An-124 Ruslan ou seu irmão maior (e agora destruído) An-225 Mriya. Mas o custo de operação destas aeronaves também não é baixo, especialmente considerando seu uso bem específico. 

Em 1983, a Lockheed registrou a patente US4379533A, apenas com o nome “Transport plane”, com a ideia e conceito geral do que viria a ser conhecido como Flatbed.

O avião teria uma seção frontal com o cockpit e cabine de tripulantes, enquanto a maior parte da fuselagem teria um piso vazio para o transporte de carga comum, cargas especiais ou um módulo de passageiros. Dessa forma, o avião seria rapidamente adaptado para o uso, de acordo com as necessidades de momento. 

Via Secret Projects.

Enquanto os passageiros ficariam protegidos contra as condições de tempo e atmosfera dentro do seu módulo, as cargas ficariam (logicamente) presas à aeronave, mas completamente expostas às condições.

As cargas poderiam ser embarcadas por uma rampa traseira ou pela frente, já que a seção frontal seria articulada. Essa mesma seção frontal também lembra a do L-1011 Tristar, o único jato de passageiros fabricado pela Lockheed e que não obteve tanto sucesso comercial

O Flatbed teria sua fuselagem bem perto do chão para facilitar o embarque e desembarque das cargas. Mas ao contrário dos aviões cargueiros como o KC-390, C-17, C-5 e outros, as asas seriam baixas, como nos jatos comerciais. Dessa forma, os quatro motores foram montados sobre as asas, deixando a ideia ainda mais grotesca, além de ser menos eficiente aerodinamicamente. Os desenhos e maquetes também mostram caudas em V ou H. 

Via Secret Projects.

Esta é a descrição geral da Lockheed para o desenho na patente. 

“O avião possui uma estrutura básica capaz de transportar passageiros ou carga, como contêineres ou veículos intermodais. Consiste em uma estrutura básica contendo o cockpit, asas, motores e empenagem. As partes do cockpit e da empenagem são conectadas por uma seção aberta e plana (semelhante a um caminhão de plataforma) na qual a carga útil é colocada.”

“A carga útil forma e constitui a forma da fuselagem e pode ser composta por um compartimento de passageiros, contêineres de carga ou equipamentos veiculares e desproporcionais. O carregamento e descarregamento de tais cargas úteis é facilitado por uma seção dianteira removível para permitir o acesso à extremidade dianteira e por caudas verticais dispostas lateralmente para acesso à extremidade traseira.”

Imagem: Lockheed.

Com tudo isso em mente, a Lockheed pensou emplacar vendas para forças armadas e companhias civis. O avião poderia transportar passageiros, cargas gerais ou veículos especiais como tanques de guerra, engenharia militar ou guindastes e escavadeiras. 

A NASA fez estudos sobre o projeto, comparando-o com aviões de passageiros, carga e cargas superdimensionadas. A agência aeroespacial apontou potenciais áreas problemáticas com detalhes técnicos específicos e preocupações relacionadas à viabilidade geral do conceito. O estudo também mostrou que o Flatbed consumiria 11% mais que um avião comercial e 14% mais que um cargueiro. 

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Como poderia ser o carregamento do módulo de passageiros do Flatbed. Imagem: Lockheed.

Por outro lado, também tinha alguns pontos positivos: consumiria 8% menos quando transportando cargas pressurizadas, o custo de produção seria aproximadamente US$ 1 milhão mais barato que o de um cargueiro militar, US$ 2 milhões menos que um jato comercial e o transporte de passageiros teria custos similares. Os custos do ciclo de vida militar também seriam mais de 30% mais baixos do que uma aeronave convencional de grande porte

Mesmo após a NASA ter sugerido mais estudos, incluindo experimentos em túnel de vento, conceito da Lockheed jamais saiu do papel e o projeto foi abandonado e nunca mais a companhia falou nele, deixando mais perguntas e suposições do que respostas. 

O Lockheed Flatbed, assim como várias outras ideias, nunca passou disso – uma ideia.

Com informações de European Patent Office, Found And Explained, Mentour Pilot e Secret Projects.

 

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Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.