Para as mais de 37 mil pessoas que estão na fila de transplantes no Brasil, a vida é como uma corrida contra o tempo. E esse tempo passa ainda mais rápido quando, finalmente, o órgão surge. Um coração, por exemplo, deve chegar ao receptor em pelo menos seis horas.
Dessa forma, equipes no país todo trabalham para que o órgão chegue ao destino final o mais rápido possível. Dentre estas equipes estão os militares da Força Aérea Brasileira (FAB).
A organização sempre prestou apoio para essas atividades, mas há quase cinco anos o Decreto nº 9175 define que a FAB tenha ao menos uma aeronave de prontidão para as missões de Transporte de Órgãos, Tecidos e Equipes (TOTEQ).
Na prática, são esquadrões de transporte espalhados pelo país que estão aptos para a missão. As tripulações ficam de sobreaviso e devem se apresentar em até duas horas.
Como funciona
Segundo a FAB, as missões TOTEQ são complexas e coordenadas entre o Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea (CGNA), uma organização da própria Aeronáutica, e o Central Nacional de Transplantes (CNT). Duas linhas telefônicas diretas com o CNT estão disponíveis no CGNA, que coordena a distribuição dos órgãos.
A primeira opção é o transporte em aeronaves comerciais. Quando indisponível, o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), com sede em Brasília, deve acionar a unidade de transporte aéreo mais próxima para cumprir a missão com a maior rapidez possível.
Os dados
Segundo os dados obtidos por Aeroflap através da Lei de Acesso à Informação, a FAB transportou entre 2019 e 27 de julho de 2022 um total de 920 órgãos e tecidos, além de ter acumulado 3848 horas de voo em missões de TOTEQ.
Os gráficos abaixo mostram os tipos de órgãos transportados e a quantidade de horas de voo por ano.
O órgão ‘recordista’ é o fígado. Em 2019 foram 74 fígados transportados pela FAB; 152 em 2020, 147 em 2021 e 86 até julho deste ano. O ano de 2020 também foi o que mais viu horas de voo em missões de transporte de órgãos, com 1166 horas e 20 minutos de voo.
Em termos de localidades, foram 42 cidades atendidas: Porto Alegre, Canoas e Pelotas no Rio Grande do Sul; Lages, Navegantes e Florianópolis, em Santa Catarina; Curitiba, Londrina e Cascavel, no Paraná; Salvador e Vitória da Conquista, na Bahia; Rio de Janeiro e Itaperuna (RJ); Natal (RN); Porto Velho (RO); Goiânia (GO); João Pessoa (PB); Fortaleza (CE); Palmas (TO); Paragominas (PA); Teresina (PI); Maceió (AL); Recife (PE); Brasília (DF) e Vitória (ES).
Os estados de São Paulo e Minas Gerais foram os que tiveram mais localidades atendidas, com sete cidades cada: Botucatu, Bauru, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São José do Rio Preto, Sorocaba e São Paulo capital, para SP. Para MG foram as cidades de Belo Horizonte, Montes Claros, Divinópolis, Santos Dumont, Juiz de Fora, Uberlândia e Confins.
Conforme dados do Sistema Nacional de Transplantes, são 37.164 pessoas à espera de um órgão. A esmagadora maioria (34.054), precisam de rins. Em 2022 foram realizados 5291 transplantes, 181 dos quais foram possibilitados através do transporte aéreo militar.
Esquadrões e aeronaves
Como mencionado anteriormente, a FAB deixa esquadrões de transporte aéreo de prontidão no país todo em caso de acionamento para TOTEQ e demais missões. As seguintes unidades aéreas já transportaram órgãos:
- 1º Esquadrão de Transporte Aérea (ETA), Esquadrão Tracajá. Com sede na Base Aérea de Belém (PA), emprega as aeronaves C-95M Bandeirantes, C-97 Brasília e C-98 Grand Caravan.
- 2º ETA, Esquadrão Pastor. Sediado na Base Aérea de Natal (RN), também usa os C-95, C-97 e C-98.
- 3º ETA, Esquadrão Pioneiro, da Base Aérea do Galeão (RJ). Usa as aeronaves C-95M e C-97.
- 5º ETA, Esquadrão Pégaso. Também operando os C-95M, C-97 e C-98, o Pégaso é sediado na Base Aérea de Canoas (RS).
- 6º ETA, Esquadrão Guará, da Base Aérea de Brasília (DF). Segundo da FAB, 80 das missões de TOTEQ realizados até 24/09 deste ano foram realizadas pelo Guará, que opera quatro modelos de aeronave: C-95M, C-97 Brasília, C-98 Grand Caravan, Learjet U-55C e U-100 Phenom. A unidade também operava os Learjet U-35, também empregados no transporte de órgãos e tecidos até sua aposentadoria.
- 7º ETA, Esquadrão Cobra. O único dos ETAs que não usa os C-95 Bandeirante, o Cobra tem como sede a Base Aérea de Manaus e emprega os C-98 Grand Caravan e C-97 Brasília.
- Grupo de Transporte Especial (GTE). Também sediado em Brasília, é a unidade da FAB responsável por transportar o Presidente da República e demais autoridades. Usou o Learjet VU-55 em TOTEQ até a transferência da aeronave para o 6º ETA.
- 1º Esquadrão do 2º Grupo de Transporte, Esquadrão Condor. Assim como o 3º ETA, também é sediado no Aeroporto do Galeão. Atualmente emprega os jatos C-99, versão militar do ERJ-145 da Embraer. Também empregou o C-97 Brasília até o modelo ser transferido para o 3º ETA em janeiro deste ano.
- 2º Esquadrão do 10º Grupo de Aviação, Esquadrão Pelicano. Sediado em Campo Grande (MS), o Pelicano é única unidade da FAB cuja missão principal é a busca e salvamento. Para isso é dotada de helicópteros H-60L Black Hawk e SC-105 Amazonas SAR (C295MP Persuader).
Como se tornar um doador de órgãos
O SNT afirma que o Brasil tem o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, garantido a toda a população pelo SUS, responsável pelo financiamento de cerca de 88% dos transplantes no país.
No entanto, como pode se pode ver nos dados acima, a fila ainda é enorme. Para diminuir essa fila, as equipes médicas precisam trabalhar rápido para ganhar a autorização dos familiares do doador, captar os órgãos e implantá-los a tempo.
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