Quando caminhões de bombeiro usaram motores à reação da Boeing

Nos anos 1960, a expansão do uso de motores à reação (popularmente conhecidos por turbinas) viu a aplicação desse tipo de equipamento em veículos comuns, pelo menos em testes, como caminhões e ônibus. Turbinas já eram usadas em indústrias, mas o emprego em veículos usados no dia-a-dia já é outra história. 

Antes de mais nada é importante destacar que, diferentemente de aviões, os motores moviam os veículos através do eixo preso na turbina e não pela exaustão de gases que geram o empuxo necessário para fazer a aeronave voar. De certa forma, similar a um turboélice. 

Entre as décadas de 1960 e 1950, a Boeing aumentou sua base de mercado e passou a produzir seus próprios motores à reação também. E um desses motores acabou sendo usado em três caminhões de bombeiro. 

Durante a Convenção Internacional de Chefes de Bombeiros de 1960, a companhia norte-americana American LaFrance, uma das maiores fabricantes de viaturas de combate a incêndio de todos os tempos, apresentou um caminhão auto-bomba da Série 900 equipado com uma turbina Boeing 502-10MA, com uma força de 325shp.

Através de modificações realizadas pela Boeing, a turbina poderia usar gasolina ou diesel. Motores à reação usados em aeronaves usam o querosene de aviação. A viatura, chamada de American LaFrance/Boeing Turbo Chief, foi adquirida pelo Corpo de Bombeiros de São Francisco. No ano seguinte, os Bombeiros de Seattle adquiriram um Turbo Chief Tiller Ladder.

Viaturas tiller são comuns nos EUA e se tratam de um cavalo mecânico puxando um reboque equipado com uma escada mecânica de 100 pés (30,5 metros). Na ponta do reboque um bombeiro manobra a carreta com um volante. A viatura foi comprada por US$ 52 mil. No mesmo ano, os bombeiros de Mount Vernon, uma pequena cidade na Virgínia, receberam um Turbo Chief auto-bomba. 

Visualmente, a maior diferença do Turbo Chief para os outros caminhões de bombeiro era um grande tubo de exaustão cromado montado logo atrás da cabine. A admissão de ar para o motor ficava na parte de baixo da viatura, que ainda recebia dois impulsionadores. O maior destaque do Turbo Chief era sua aceleração, chegando a 80Km/h em 31 segundos. Algumas fontes destacam o silêncio em relação aos motores a diesel.

Contudo, a manutenção das viaturas acabou com o uso das turbinas. O Turbo Chief era ótimo para subir as intermináveis ladeiras de Seattle e San Francisco, o problema era a descida. A alta velocidade e a falta de compressão da turbina trouxe um desgaste prematuro para os freios dos caminhões, mesmo com sapatas e tambores reforçados.

Turbo Chief de Mount Vernon.

Os custos de manutenção se tornaram proibitivos e os motores da Boeing foram retirados e trocados por motores a diesel sem custo algum. A viatura de Seattle recebeu um motor Hall-Scott de 323hp, sendo retornada aos bombeiros da cidade em 27/11/1962.

Os bombeiros de Mount Vernon “sofreram” um pouco mais, já que toda vez que tinham problemas com a turbina, um mecânico da Boeing viajava de Seattle até a cidade. O 502-10MA foi trocado por um Continental seis cilindros em linha. O Turbo Chief de São Francisco teve seu motor trocado também, mas hoje encontra-se preservado.

O auto-bomba Turbo Chief de São Francisco. Foto: Rico Spicoli via Engine Co.5

No fim, o uso de motores à reação em veículos de uso diário na cidade não deu certo. As viaturas da American LaFrance seguiram em serviço por muitos anos, mas com motorizações convencionais. A fabricante, que inclusive já vendeu viaturas ao Brasil, fechou as portas em 2014. Já a Boeing concentrou-se em produzir aeronaves, encerrando a produção de motores em 1966. 

Via Last Resort F.D, Trucks Planet, Bangshift, Firefighter Nation, Hemmings. 

 

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Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.