Advertisement

Acidentes transporte aéreo clandestino (TACA)

Foto Capa R44

 

No dia 31/12/2023, um helicóptero Robinson R44 que decolou do aeroporto Campo de Marte com destino a Ilha Bela para um transporte aéreo com passageiros e desapareceu dos radares com quatro pessoas a bordo e permanece assim, apesar de esforços imensuráveis por todas as equipes empenhadas nas buscas de destroços, conforme noticiamos aqui.

Enquanto isso, os canais de mídia divulgam que o piloto envolvido no acidente já teve a licença cassada por pouco mais de dois anos por conta de um histórico bem controverso, como uma condenação de transporte aéreo clandestino com sua respectiva empresa, o que traz de volta para debate (mais uma vez) os riscos e a frequência deste crime.

Caro leitor, você não imagina o quanto de TACA ainda existe nos dias atuais… Enquanto ficamos sabendo nos bastidores, muitas das vezes não conseguimos provar ou denunciar. Mas, acredite, ainda são muitos!

Enfim, é evidente que até a presente data não há qualquer afirmação por parte das autoridades competentes – inclusive ANAC e CENIPA – que o referido voo com o helicóptero acidentado foi fruto de uma contratação ilegal do tal transporte aéreo clandestino, vulgo TACA, e qualquer  tentativa de acusação ou simples cogitação não passa de grande falácia ou tentativa de difamação.

Entretanto, aja vista o calor dos debates atuais nos corredores da aviação, o objetivo deste artigo é demonstrar sobre a importância do assunto, e excluir a todo custo a contratação dos tais TACA, ainda mais considerando que logo entramos em época de carnaval e as festividades são atrativas para viagens a lazer em família (ou amigos).

Primeiramente, o que é mais importante de ressaltar? O histórico de eventos de segurança operacional, é claro! Conforme a ANAC, um ESO (evento de segurança operacional) pode ser um acidente, incidente ou incidente grave.

É com essa informação que afirmamos que a contratação de um táxi aéreo será sempre a decisão mais segura! Até mesmo porquê não está nem perto do topo das estatísticas desses eventos.

Note abaixo, que, por exemplo, a aviação privada corresponde pela maior parte dos eventos em 10 anos, com 2.053 no total, conforme o CENIPA. Deste número, os acidentes correspondem a uma realidade desanimadora, com 797 catástrofes.

Total de eventos de segurança operacional em dez anos

Das ocorrências, destaque para as mais frequentes, como estouro de pneu, falha do motor em voo e falhas com trem de pouso. Agora, se considerarmos os acidentes, as mais frequentes são falha do motor em voo, perda de controle em voo, perda de controle em solo e excursão de pista.

Acidentes por tipo de ocorrência, conforme o CENIPA.

Os Senecas estão em primeiro lugar, apesar dos ULAC representarem a maior parcela dos acidentes (199 acidentes de ULAC contra 74 de Seneca).

Em segundo lugar dos eventos de segurança operacional vem a aviação regular, tendo o Embraer E190 como campeão (321 incidentes e 6 incidentes graves. ZERO acidentes). Apesar disto, calma com as precipitações! Isso, porque só há 14 acidentes da aviação regular em dez anos, o restante é tudo incidente, tendo colisão com ave, falha de sistema e falha de motor em voo como as maiores ocorrências.

Em terceiro lugar temos a instrução, que também ocupa a mesma posição em número de acidentes, apesar de ser a segunda maior frota por categoria, conforme a ANAC.

Total de aeronaves por categoria, conforme a ANAC.
Legenda: TPP: aeronaves particulares PRI: aeronaves de instrução TPR: aeronaves regulares TPX: aeronaves não regulares (táxi aéreo)

Os táxis aéreos estão somente em quarto lugar, assim como o total de aviões voando, conforme a ANAC, sendo o quinto em número de acidentes. É aqui que queremos explorar…

Preliminarmente, questiono o que provavelmente é mais seguro: contratar um TACA, que pertence à frota de particulares ou um táxi aéreo sujeito às mais rigorosas fiscalizações, assim como as companhias aéreas?

NOTA DO AUTOR: como autor desse artigo, não estou cogitando em nenhum momento que a aviação particular é mais perigosa e arriscada, até mesmo porque eu atuei a muitos anos como piloto comandante de aeronaves executiva, sem me envolver em nenhum evento de segurança operacional, tampouco infrações. Aqui, estou falando em probabilidades, e ao crime do transporte aéreo clandestino.

Do mercado de táxi aéreo, vemos que o Cessna Grand Caravan (e o Caravan curto) ocupa o maior número, com 41 aeronaves voando regularmente, conforme o RAB da ANAC, tendo a CTA – Cleiton Táxi Aéreo Ltda. no Amazonas, como a maior operadora do modelo na categoria TPX (8 voando regularmente) e Vera Cruz Táxi Aéreo (SP) como a menor, com um modelo voando.

Total de aeronaves de táxis aéreos por modelo
Total de aeronaves de táxis aéreos, por modelo.

Ainda de acordo com a ANAC, o Caravan também está entre o topo quanto ao total de horas voadas de 2010 até 2023, ficando em segundo lugar, independente de sua categoria ou o tipo de transporte aéreo.

Balanço da ANAC quanto ao total de horas de voo/ano.

Tendo maior número nos táxis aéreos e também voando bastante, não precisa ser expert em estatística para imaginar que também possui um número significativo de eventos de segurança operacional.

Eventos de segurança operacional por modelo de aeronaves de táxi aéreo.
Eventos de segurança operacional em dez anos, por modelo.

Contudo, o Caravan está em segundo lugar no total de eventos, tendo o número de acidentes em terceiro lugar, num período de dez anos.

O "queridinho" dos táxis aéreos e transporte aéreo.

Isso significa que o Caravan é o mais perigoso e mais provável de acidente? Bem, veja que o campeão desta lista de eventos e também de acidentes é o Seneca, apesar de ser o terceiro no total de aeronaves de táxi aéreo voando regularmente e o quinto no total de horas voadas por táxi aéreos, anualmente.

Ainda explorando o “queridinho” dos táxis aéreos, veja que a maior frequência dos eventos de segurança operacional com Caravan ocorrem com incidentes poucos complexos, como estouro de pneu, colisão com ave, com falha em sistema e depois com excursão de pista.

O modelo se torna ainda mais relevante para análise (inclusive no estudo de segurança operacional), quando resolvemos enxergar sobre o total de aeronaves voando regularmente, pela aviação regular. Neste meio, ocorre a adição de aviões operados por companhias aéreas como Boeing 737-800, Airbus A320 e Embraer E195. Incrivelmente, o Caravan aparece na sétima posição!

Total de aeronaves por modelo, da aviação regular (TPR).
Fonte: ANAC

No Brasil, temos mais Caravan voando em linhas aéreas que Airbus A321 ou A319, com destaque para o maior operador do modelo, a Azul Conecta com 25 operando regularmente e a menor, com um modelo, a TWO Táxi Aéreo Ltda. (isso mesmo que você leu, a quase extinta TWO). Portanto sim, é uma aeronave segura, apesar do número de eventos de segurança operacional e o mercado do transporte sob demanda parece também estar preferindo mais o Caravan para transporte aéreo.

Por fim, veja que o TACA será sempre o mais perigoso! A começar com a forma de se ter lucro, que é ilegal. Depois, a aviação privada não está sob fiscalização rígida da ANAC, como um táxi aéreo, porque seu foco não é o transporte público.

Em outras palavras, a aviação privada existe para facilitar negócios de empresas e investidores, além também de aumentar a qualidade de vida de executivos que trabalham incansavelmente para prosperar em seus negócios e gerar empregos pelo país. Portanto, os proprietários conhecem e sabem os riscos de se não manter adequadamente seus próprios aviões ou helicópteros e nunca medem esforços para estarem nos mais altos níveis de segurança operacional. Já o TACA quer sempre ter vantagens financeiras, não só na venda do serviço clandestino, mas, na economia de uma manutenção. Um exemplo disso é o acidente com o jornalista Ricardo Boechat em fevereiro de 2019 que, de acordo com o relatório final divulgado pelo CENIPA em 2020, houve uma série de falhas na manutenção causadas por negligência do próprio proprietário da aeronave.

Enfim, apesar dos esforços da ANAC na mitigação do crime, como ter aumentado em até 10 vezes o valor da multa para táxi aéreo clandestino, ainda existem os aventureiros tentando ganhar dinheiro ilegalmente e, portanto, é preciso inteligência para identificá-los, antes que o mercado se depare com mais um acidente aeronáutico.

Até é importante você sempre consultar o APP Voe Seguro, desenvolvido pela ANAC, antes da contratação de um táxi aéreo de forma a confirmar a autenticidade das informações transmitidas, antes de embarcar em sua próxima viagem. Veja mais informações sobre o APP aqui.

Enfim, qual o valor da sua vida? Vale a pena pagar o preço pelos riscos envolvidos num TACA?

 

 

Quer receber nossas notícias em primeira mão? Clique Aqui e faça parte do nosso Grupo no Whatsapp ou Telegram.

 

Rafael Payão

Autor: Rafael Payão

Analista do mercado de aviação executiva da Aeroflap. Consultor de vendas e compras de aerovanes da Aeroflap. É piloto (PLA) com mais de 3000 horas voo, formado bacharel em Aviação Civil pela UAM e pós graduado em engenharia de manutenção aeronáutica pela PUC-MG.

Categorias: Aeronaves, Artigos, Artigos, Aviação Geral, Notícias

Tags: ANAC, Cessna Caravan, RBAC 135, TACA, Táxi aéreo, transporte aéreo clandestino, voe seguro