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Boeing 777: No último suspiro, Varig ainda estava à frente tecnologicamente

Varig Boeing 777

Há pouco mais de 20 anos, a Varig recebia sua última aeronave vindo de fábrica, o moderno e tecnológico Boeing 777. Mesmo ainda em seus últimos anos e em meio as dificuldades, a companhia aérea de bandeira (a época) ainda estava a frente com seu melhor produto.

A chegada do Boeing 777 da versão -200ER para a Varig não significava apenas um avião inédito para a América Latina, elevava mais uma vez o conceito da companhia em seus produtos a bordo, principalmente em voos internacionais.

Para entendermos mais a fundo qual o tamanho dessa mudança, voltemos um pouco no tempo para os anos 1990. A Varig era presidida por Fernando Pinto, o mesmo que anos depois estaria na TAP, enfrentava anos turbulentos mesmo antes de assumir a presidência em 1996.

Com a nova identidade visual, nova marca e a entrada na Star Alliance, a Varig parecia enfrentar a crise econômica de braços abertos. Apesar da crise, o ar de esperança se veio com a maior encomenda já feita pela companhia aérea.

Em 1997, a Varig anunciava uma encomenda de 4 aeronaves Boeing 737-700, 10 737-800, 6 767-300ER e 4 777-200ER. Além disso, o pedido avaliado em U$ 2,7 bilhões ainda tinha opções de compra para 11 737-700 e mais 4 777-200ER.

A chegada dos novos aviões de grande porte seriam especialmente para a lacuna deixada pelos 747s que estavam sendo aposentados ao final dos anos 90.

 

O Boeing 777 da Varig

A grande novidade dos céus, o projeto do Boeing 777 ganhava os céus em meados dos anos 90, como uma grande revolução na aviação. A Varig recebia seu primeiro exemplar da versão -200ER totalmente novo, em 3 de novembro de 2001.

A bordo a aeronave trazia o que havia de melhor e mais moderno em produtos, um sistema de entretenimento individual com disponibilidade de filmes, séries, músicas, jogos e todo o mapa com informações sobre o voo, algo que é comum nos dias atuais.

Mas a grande novidade ficou por conta da internet a bordo, isso mesmo, você não leu errado. A companhia aérea gaúcha foi a 4ª empresa no mundo a oferecer aos seus passageiros conexão de internet a bordo via satélite. 

A chegada do PP-VRA colocava novamente a Varig entre os melhores serviços, mesmo em dias de incertezas como se tornou de 2001 em diante.

Apesar disso, e com toda tecnologia a bordo, a companhia aérea brasileira também elevava o padrão do serviço de bordo que contava com um menu exclusivo para o serviço de bordo.

A Varig também investiu em sua Primeira Classe, renovando e implementando um novo padrão. Os investimentos de US$ 6 milhões fizeram com que o conforto e qualidade a bordo do Boeing 777 da companhia fosse superior aos dos 747s aposentados e dos McDonnell Douglas MD-11 que a empresa tanto utilizava.

Com 287 lugares, o Boeing 777-200ER oferecia 6 assentos na Primeira Classe, mais 49 na Classe Executiva e 232 assentos na Econômica, ao todo a aeronave transportava 287 passageiros.

Assentos Classe Econômica
Foto: BravoAlpha via Airliners.net

O PP-VRA que havia sido entregue no começo de novembro, recebeu o nome do fundador da empresa ‘Otto Meyer’. A aeronave estreou na frota da companhia em 13 de novembro de 2001, em um voo especial para convidados e imprensa do Rio de Janeiro (GIG) para Porto Alegre.

No voo de regresso, o novíssimo avião da Varig já estreava em voos internacionais partindo do Galeão, realizando uma escala em Guarulhos e seguindo para Londres-Heathrow e Copenhagen.

No dia 19 de novembro de 2001, chegava o segundo exemplar do Boeing 777 para a Varig, este recebia a matrícula PP-VRB e o nome de batismo de ‘Rubem Berta’, que foi o primeiro funcionário. 

O segundo bimotor de grande porte estreava em um voo do Rio de Janeiro para Amsterdã na Holanda, com escalas em Guarulhos e Paris. Os dois 777s receberiam algum tempo depois os adesivos de 75 anos da Varig.

Tudo parecia voltar a ‘voar’ bem pela Varig, até que chegou o 11 de setembro, até então a maior crise já enfrentada pelo setor aéreo no mundo todo. Agora com Ozires Silva como presidente, a companhia aérea se viu obrigada a cancelar as encomendas de fábrica para o 777 e de outras aeronaves.

A companhia aérea precisava de aviões para operar voos internacionais, e também alguns voos na tradicional rota do Rio de Janeiro para Manaus com escala em Brasília, então Ozires Silva trouxe dois 777s da versão não ER com um leasing bem mais barato.

Chegava então ao final de fevereiro e começo de março, o PP-VRC e o PP-VRD, ambos haviam sido entregues originalmente para a British Airways. Pouco tempo depois, a Varig conseguia trazer mais dois aviões Boeing 777-200ER, esses estavam estocados e eram relativamente novos.

O operador desses aviões eram a United, que por conta da crise do 11 de setembro, estocou as aeronaves e fez o leasing com a Varig um tempo depois. Esses 777s eram relativamente novos, tinham apenas três anos de uso e estavam em condições bem melhores que os arrendados da British.

Chegando juntos ao Brasil para compor a frota, receberam as matrículas PP-VRE e VRF no dia 15 de novembro de 2004. 

Mesmo com a crise se agravando, a Varig conseguiu trazer mais dois aviões do tipo, ambos também vieram da United mas não eram da versão de longo alcance ER. Fabricados em 1995, estavam um pouco mais ‘surrados’ em relação aos outros pois eram utilizados em voos domésticos nos EUA, mas ainda sim melhores que os dois que vieram da companhia britânica. 

Chegaram ao Brasil entre fevereiro e abril de 2005, e receberam as matrículas PP-VRI e VRJ. A Varig chegou a encomendar uma aeronave para a matrícula PP-VRH, mas ela foi cancelada e a matrícula PP-VRG que era simbólica, pois representava a empresa, nunca foi utilizada.

Uma curiosidade em relação a todos os 777s encomendados da United são em relação aos motores, que diferente dos outros aviões, tinham motores Pratt & Whitney PW4000, os outros eram General Eletric (GE).

 

Os capítulos finais de uma curta história

A Varig estava cada vez mais afundada na crise, e mês após mês foi se agravando, tanto que diversas aeronaves estavam sem o pagamento de leasing inclusive alguns aviões Boeing 777. 

Aos poucos, a frota de longo curso era estocada na VEM – Varig Engenharia e Manutenção no Aeroporto do Galeão, mais da metade da frota de Boeing 777 estava estocada em meados de 2006.

Boeing 777 Varig Galeão
Foto: Aeroprints via Wikimedia

Em junho, apenas dois aviões do tipo estavam operando e com os dias contados. O PP-VRI fez seu último voo no trecho Manaus-Brasília-Rio de Janeiro e foi estocado. 

No dia 20 de junho, apenas o PP-VRA estava em operação, e por falta de pagamento do leasing, a dona do Boeing 777 entrou na justiça e conseguiu ‘prender’ a aeronave após o retorno do voo Munique-Guarulhos-Rio de Janeiro.

O fim da trágica história todos conhecem, a empresa enfrentou uma longa recuperação judicial, foi dividida em ‘Nova Varig’ e vendida para a GOL e a Flex Linhas Aéreas surgia como uma possível continuidade que não foi bem sucedida.

 

Onde estão os Boeings 777 operados pela Varig?

O PP-VRA, o pioneiro, primeiro Boeing 777 entregue para uma companhia aérea latino-americana, permaneceu na Varig até seus últimos dias de vida. Foi repassado para a Aeroméxico tempos depois, inclusive realizando voos para o Brasil. Foi desativado e desmontado em fevereiro de 2018.

PP-VRB, outro dos novos 777s recebidos pela companhia, seguiu parte dos passos do ‘irmão’ mais velho e foi repassado para a Aeroméxico. Voou pela companhia mexicana até 2017, e depois repassado para a Austrian Airlines. Atualmente está estocado e com a pintura de 60 anos da empresa.

O PP-VRC, voou pela Varig de 2004 até 2006, foi o primeiro 777-200 não ER recebido pela companhia. Foi retomado pela Boeing, por onde ficou sem voar até 2012 quando foi transformado em avião presidencial para o Gabão. A aeronave está estocada desde 2016.

O PP-VRD, voou pela companhia brasileira de 2004 a 2006 e logo depois foi retomado pela Boeing. Por ser um avião com curto alcance, não houve interessados e o avião foi desmontado em 2018.

O PP-VRE, foi um Boeing 777-200ER que operou pela empresa do final de 2004 até os últimos dias de operação. No início de 2007 foi retomado pelo US Bank e repassado para a Transaero da Rússia em 2008. Operou pela empresa até meados de 2017 e foi devolvido para ser desmontado.

O PP-VRF, originalmente recebido pela United foi para a Varig ao final de 2004 e seguiu os mesmos passos do PP-VRE, sendo retomado no início de 2007 pelo US Bank e repassado à Transaero em 2008. A aeronave voou até 2015 pela companhia e foi desmontado em 2019.

O PP-VRI, também recebido pela United, voou pela Varig por pouco menos de dois anos e devolvido ao final de 2006. Por ser um avião não ER, este Boeing 777 voltou a voar somente em 2011 pela Transaero que aposentou a aeronave em 2017. O avião também foi desmontado.

O PP-VRJ, o último Boeing 777 recebido pela Varig, e também em versão de curto alcance, voou por menos de dois anos pela companhia brasileira e foi devolvido ao final de 2006. Seguiu os passos do ‘irmão’, e foi para a Transaero em 2008, até ser desmontado em 2015.

Ao todo foram oito aeronaves Boeing 777 operados pela Varig, a companhia aérea operou de 2001 até 2006 essas aeronaves que apesar de um curto tempo, aliviaram a companhia em alguns momentos e deu por um instante um pouco de esperança.

Hoje a história do Boeing 777 no Brasil continua pelas asas da LATAM, com a versão -300ER.

 

Fonte para a matéria no Varig Airlines 

 

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