O casco do Navio Aeródromo (NAe) São Paulo deve chegar ao Rio de Janeiro, de onde saiu em agosto, em pouco menos de um mês. O navio, que serviu como porta-aviões na Marinha do Brasil, teve sua entrada na Turquia barrada por conta de um documento duvidoso relacionado aos materiais tóxicos presentes na embarcação.
Conforme informações de um site de monitoramento de navios, o rebocador holandês Alp Centre, que está puxando o navio brasileiro pelo oceano, encontra-se perto de Cabo Verde e deve chegar ao RJ em 13 de outubro.
O Alp Centre e o São Paulo zarparam do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) em 4 de agosto, tendo como destino o porto de Aliağa, na costa ocidental da Turquia, onde seria desmantelado. Em 2021 ele foi arrematado como sucata pelo estaleiro SÖK Denizcilik, pelo valor de R$ 10,5 milhões.
No entanto, o rebocador e o antigo NAe São Paulo tiveram que dar meia volta em 26 de agosto, quando ainda estavam na costa marroquina. Neste dia, o ministro turco do Meio Ambiente, Murat Kurum, disse que a entrada do navio ao país foi suspensa.
O motivo para a revogação foi o relatório das autoridades brasileiras com os materiais tóxicos do navio. O documento analisado pela Turquia foi julgado como “duvidoso”, aponta o Aerotime, pelas grandes diferenças na quantidade de materiais perigosos em comparação com navios da mesma classe e período.
Segundo o portal, o relatório brasileiro apontava a presença de apenas 9,6 toneladas de amianto, quando o porta-aviões Clemenceau, o navio irmão do Foch, atual São Paulo, continha pelo menos 600 toneladas desse material altamente cancerígeno, antigamente usado para proteção contra incêndio e isolante térmico.
O levantamento não detectou PCB, um material comumente usado em isolamento na década de 1950 antes de ser banido na década de 1970, também por ser cancerígeno. Por outro lado, 165 toneladas de PCBs foram encontradas no Clemenceau.
O sucateamento do casco do NAe na Turquia já havia gerado protestos de organizações ambientais. A decisão do Ministro Kurum foi vista como uma vitória para estas entidades. Ainda não se sabe o que vai acontecer com o casco tóxico do ex-NAe São Paulo depois que chegar ao Brasil.
O São Paulo teve sua construção iniciada na França em 1957, sendo o segundo porta-aviões da Classe Clemenceau. Entre 1963 e 2000 ele foi o FS Foch da Marinha Francesa, até ser aposentado e logo em seguida adquirido pela Marinha do Brasil.
Na época, a MB buscava substituir o A-11 Minas Gerais, enquanto finalmente recuperava sua capacidade de operar aeronaves de asa fixa com a compra dos jatos A-4KU Skyhawk, aqui chamados de AF-1.
O Brasil pagou US$ 12 milhões pelo casco já bastante usado. O São Paulo passou apenas 206 dias no mar e lançou 566 aeronaves brasileiras, argentinas e uruguaias até ser finalmente parado no AMRJ em 2005. O motivo foi a explosão de uma caldeira de vapor durante um serviço de manutenção, matando três marinheiros. Antes disso o NAe São Paulo já apresentava diversos problemas.
A Marinha ainda planejava investir R$ 1 bilhão na modernização do São Paulo até que tivesse recursos para comprar um novo porta-aviões. A atualização e reforma do navio estava prevista para ocorrer entre 2015 e 2019 e deveria manter o NAe São Paulo em serviço até 2039.
A embarcação deveria receber novos sistemas de lançamento (catapulta) e recuperação (cabos) de aeronaves, melhorias nas acomodações, substituição completa do cabeamento, novos conjuntos de propulsão e energia elétrica e outros serviços, que jamais chegaram.
Dessa forma, o São Paulo passou a maior parte de sua trajetória na Marinha parado no AMRJ, onde serviu para diversas cerimônias. Seu tamanho também impressionava que o via mesmo de longe, ou quem sobrevoava o Rio de Janeiro durante os pousos no Aeroporto Santos Dumont.
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