Um fantasma que assombrou a comunidade aeronáutica, principalmente de quem opera aviões movidos a gasolina de aviação (Avgas) voltou a trazer preocupação a pilotos e operadores de diversas partes do país: a qualidade do combustível de aviação.

Desde o meio do mês de Março de 2023 estão circulando entre grupos de pilotos e mecânicos de aviões reportes de casos de elementos estranhos na gasolina oriunda de lotes mais recentes. Os profissionais e proprietários alegam que o derivado do petróleo apresenta substâncias estranhas ou coloração não padrão, como cor palha ou amarelado.

“Após o caminhão abastecer, fui drenar e vi uma cor estranha. Pela coloração achei que era jet (Jet A1, o querosene usado em jatos), mas não, o cheiro era de gasolina, mesmo”, contou um piloto de Cirrus que a AEROFLAP contatou.

Houve também reportes de substâncias semelhantes a graxa no combustível drenado de aeronaves abastecidos na região de Resende, Rio de Janeiro. Segundo o operador da aeronave, não foi possível dizer com precisão onde o abastecimento com a gasolina com problemas ocorreu, devido ao fato de ter abastecido em diferentes pontos por onde voou.

“O fato é que temos que ficar atentos e não vacilar na hora de fazer o check pré-voo”, disse o aeronauta em um grupo nas redes sociais.

No Sul, alguns pilotos relataram casos  onde o combustível abastecido há pouco tempo gerou vazamentos em tubulações e mangueiras que interligam os tanques nas asas das aeronaves. Um desses profissionais encaminhou imagem do avião que opera (um Cirrus SR22) com um aparente corrimento do produto próximo da região do dreno.

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O receio com combustíveis impuros não é novidade para a comunidade aeronáutica. Em meados de 2020 o problema com a gasolina de aviação deixou pilotos e proprietários assustados com o grande número de casos de combustível fora do padrão. Na época, o número de casos foi bem maior, o que fez vários pilotos suspenderem as operações por medo de terem panes como apagamento do motor ou corrosão de mangueiras por “gasolina batizada”.

À época, tal receio se fortaleceu após imagens de um Beech Baron que se acidentou após a tentativa de arremetida devido fogo a bordo, no Campo de Marte (SBMT), em 08 de Julho de 2020. Embora não seja possível estabelecer uma relação concreta entre o caso de combustível fora do padrão e o multimotor devido o acidente ainda estar sendo investigado pelos órgãos competentes (CENIPA), é fato que os profissionais estão receosos com os casos relatados.

Alguns chegaram a levantar a hipótese do número de acidentes e incidentes ocorridos nas últimas semanas com esse fato.

“Não é normal tantos casos de apagamento de motor em tão pouco tempo ultimamente”, disse um tripulante de um bimotor leve. “A gente tem que se cuidar, só abastecer de empresas de extrema confiança”, aconselhou um tripulante, em áudio nas redes sociais.

A AEROFLAP enviou e-mail para algumas fornecedoras de combustíveis para posicionamento das mesmas, mas ainda não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem. Conforme as notas foram enviadas, serão aqui atualizadas.

Vídeo enviado por piloto mostrando motor com gasolina fora do padrão: 

Micael Rocha foi instrutor de voo por quatro anos, é checador em aeroclubes e CIACs, voou C525, C525B e C208B Caravan em táxis aéreos e voa Cirrus SR22 desde 2013. 
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