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É o fim do Seneca V?

Piper Seneca V

Faz quanto tempo que você, caro leitor, não vê um Seneca novo, com ano de fabricação mais próximo possível de hoje, desfilando por aí? Bem, conforme a GAMA¹ não há entrega de Seneca desde 2020, e em 2019, somente três foram vendidos, e adivinhe para onde foram. Se a resposta foi Brasil, parabéns!… Você acertou. Será, portanto, o fim do seneca ?

¹GAMA: Associação de fabricantes da aviação geral.

Considerando nenhuma entrega desde 2020, a própria GAMA retira o nome dos seus relatórios de 2023 e no site da Piper Aircraft, não há qualquer referência ao bimotor. Contudo, hoje só temos cinco opções de bimotor a pistão, como o Beechcraft Baron G58, que apresenta um total tímido de entregas desde 2019 (28, tendo 2021 e 2022 com zero), o treinador Piper Seminole (109) que não é homologado no Brasil, e os outros três que pertencem à mesma fabricante, ou seja, os Diamond DA40 (maior foco às escolas), DA42 e DA62 (207 entregas em 2022 e 173 em 2023, até o 3° quadr.).

Piper Seminole (maior foco às escolas)

As pessoas poderiam dizer que a fábrica estaria próxima de uma falência ou que logo haveria mais uma marca apagada no mercado, no entanto, isso não passa de uma grande falácia, já que a Piper registra um crescimento de 9 milhões de dólares americanos no seu faturamento, considerando o segundo quadrimestre de 2023, o que representa um aumento de 19%, comparado ao mesmo período de 2022. Isso representa um aumento de 14% nas entregas de aeronaves. No acumulado de 2022, a fábrica entregou 236 aeronaves, no total, e 164 considerando somente três quadrimestres de 2023 (contra 145 do mesmo período de 2022). E o ano ainda não acabou…

Do seu portfólio, o maior número fica com o PA-28-181 Archer e sua próxima versão aplicável para a instrução, a Pilot 100i, com 107 vendas no total.

Piper PA28-181 Pilot 100i (maior foco às escolas)

Interior do PA28-181 Pilot 100i (só tem três assentos)
Fonte: Piper Aircraft

O segundo colocado é o icônico turboélice, o queridinho da executiva por apresentar performance próximo a um jato, porém com custo operacional próximo de um monomotor a pistão (como um Bonanza), o M600! Aliás, se ainda não conhece sobre esse produto inovador para o mercado da Piper, sugiro ler outro artigo que postamos aqui. A GAMA informa 27 entregas até o terceiro quadrimestre de 2023 (contra 22 no mesmo período de 2022).

Piper M600/SLS

E no Brasil, como têm se comportado a marca? Analisando por uma perspectiva histórica, das 8.462 aeronaves de asa fixa que apresentam situação regular pra voo (RAB. Set/23), hoje temos 964 aeronaves Piper e 603 aeronaves EMBRAER que eram produtos Piper com licença de produção da brasileira. Isso representa um total de 1.567, ou seja, 19% da frota total de aviões. É evidente, portanto, que os Piper estiveram como “queridinhos” dos brasileiros por muitas décadas. Inclusive, é de se assustar quando observamos o total de Seneca voando regulamente no país, pois temos hoje 598, o que representa a maior frota de aviões! Claro que não é só de glória que vive no país, porque ele também aparece no topo dos eventos de segurança operacional (acidentes, incidentes e incidentes graves), conforme o CENIPA.

Enfim, a fama da marca no país hoje parece manter-se assim, já que são 114 aeronaves dos modelos mais novos da Piper, os M-Class, apresentando uma variação média mensal de 5,7% a.m. e uma acumulada de 36%, considerando abril de 2022 a abril de 2023 – a maior alta de todas.

Por fim, a opinião do autor sobre o fim-do-seneca…

Apesar do sucesso no passado (só em 1972 foram produzidos 360 do bimotor), o Seneca é um projeto antigo, da década de 60. Inclusive, tendo o primeiro protótipo do PA34-180 – anterior à versão oficial – voando pela primeira vez em 1967.

Um dos primeiros Seneca.

Algumas mudanças ocorreram durante as evoluções, como as alterações de motores, ou como o para-brisas inteiriço, mas a fuselagem, no geral, continuava o mesmo avião. Aquela cauda inteiriça nunca teve qualquer cogitação mais séria de alteração, e junto com as asas rígidas fazem os ocupantes baterem a cabeça no teto, diante de uma turbulência maior.

Com aviões modernos, fica evidenciada a baixa eficiência aerodinâmica, o que se traduz em custos operacionais menores dos mais novos, e por várias vezes ficando abaixo do que o bimotor entrega. Ainda, considera as inúmeras vantagens que novos aviões trazem, que os tornam cada vez mais relevantes durante uma escolha para compra. Apesar do preço de compra bem maior das opções mais modernas, note que hoje temos maior facilidade de pagamento, como os atuais leasing. Tudo isso, contribui para o fim do seneca.

Contudo, aeronaves com projetos mais antigos estão diminuindo cada vez mais suas entregas, como o Baron e o Bonanza. O espaço está sendo ocupado com projetos modernos como os Diamond DA62 e os monomotores, como o Cirrus SR22T (225 entregas até o 3° quadrimestre de 2023).

Assim como o Seneca, veja outros aviões que tiveram sua produção finalizada, apesar do sucesso e a quantidade de entregas no passado:

  • King Air C90;
  • Citation Mustang;
  • Cessna 206 (com motor aspirado);
  • Cessna Corvalis;
  • Cessna C162;
  • Piper Six (ou Saratoga e Sertanejo);

Ainda, veja algumas das fabricantes que não entregam mais:

  • Maule;
  • Mooney (não entrega um avião desde 2020);

Por outro lado, temos aviões que tiveram sua produção finalizada em algum momento e retornaram para o mercado, como o Cessna Skylane turbo, o T182T.

Enfim, o fim do seneca parece cada vez mais real, apesar de não haver qualquer declaração oficial da fábrica.

 

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Rafael Payão

Autor: Rafael Payão

Analista do mercado de aviação executiva da Aeroflap. Consultor de vendas e compras de aerovanes da Aeroflap. É piloto (PLA) com mais de 3000 horas voo, formado bacharel em Aviação Civil pela UAM e pós graduado em engenharia de manutenção aeronáutica pela PUC-MG.

Categorias: Aeronaves, Artigos, Artigos, Aviação Geral

Tags: aviação, Aviação Civil, Aviação Executiva, aviação geral, Avião, avião executivo, Piper, Seneca