O Boeing 727 que levou tiros e ainda decolou com mais de 330 passageiros a bordo

Boeing 727 World Airways

Apesar das situações tristes, toda guerra é recheada de histórias e uma pitada de situações inusitadas ou até impossíveis. E hoje é a vez de falar sobre um perigoso voo realizado pela World Airways para o Vietnã, enquanto todo o tipo de problema ocorria por lá.

A Guerra do Vietnã foi um dos conflitos mais tristes durante a Guerra Fria. O país, dividido em dois, enfrentava um conflito entre os lados do Norte e do Sul, com apoio da União Soviética e dos Estados Unidos, respectivamente.

Após 20 anos de batalhas, milhares de civis mortos, os Estados Unidos se retiraram da guerra ao assinar o Acordo de Paris. Entre 1973 e 1975 várias tropas deixaram o local, no entanto, os últimos dias foram os piores, visto que as tropas do sul perderam definitivamente o apoio financeiro dos norte-americanos, bem como os territórios.

Desde então os membros das forças armadas do Vietnã do Sul correram, mas correram muito. Em pouco tempo os soviéticos do norte poderiam capturá-los, e não há nada pior do que ser prisioneiro de uma guerra já finalizada.

 

Voos especiais da World Airways

Para retirar todos os norte-americanos de solo vietnamita, os EUA optaram por uma excelente decisão, porém, mal executada. Eles contrataram 20 voos fretados da companhia World Airways para retirar todos de Da Nang, antes do início do domínio soviético.

Boeing 727 World Airways

Voos de evacuação eram normais.

A situação, no entanto, se agravou rapidamente, e somente três voos foram realizados e autorizados, levando ao desespero geral dos que estavam no local.

Ed Daly, presidente e dono da World Airways, estava inconformado com a situação. Sim, é normal achar pessoas de bom coração no mundo, felizmente.

Do seu próprio bolso, e desafiando as autoridades do Vietnã, Daly autorizou a decolagem de dois aviões Boeing 727 diretamente para Da Nang, com foco em evacuar o lugar.

Boeing 727 World Airways

Da ideia improvável, somente um avião conseguiu pousar no Aeroporto Internacional de Da Nang, e com o próprio Daly a bordo, que voou até o Vietnã para intermediar a situação.

Isso tudo ocorreu no dia 29 de março de 1975.

Quando o Boeing 727 chegou ao aeroporto não deu nem tempo de reabastecer. Os tripulantes sabiam que não teria infraestrutura externa para atender o avião “clandestino”, e concentraram as operações na escada traseira para embarcar as mulheres e crianças.

Não deu certo!

 

O embarque mais rápido da história

Rapidamente a multidão que aguardava os últimos voos no Aeroporto de Da Nang ocupou os arredores da aeronave. A foto abaixo representa bem o caos de número de pessoas contra o tamanho do avião.

Boeing 727 World Airways

Uma correria generalizada ocorreu em solo, por uma ameaça de invasão das tropas inimigas, e 268 pessoas embarcaram na aeronave, algo totalmente contra as recomendações do comandante, que deveria estar preocupado com os limites de segurança do avião.

Mesmo sabendo que, além de transportar 100 pessoas a mais na cabine em comparação com a capacidade máxima do 727, ainda tinham mais 60 no porão de carga, os pilotos logo comandaram o start dos motores, para sair da situação que estava só piorando a cada minuto.

O problema mesmo do Boeing 727 começou quando os motores foram acelerados (em solo não foram desligados) e a porta traseira fechada pelo próprio Daly.

Uma confusão começou em solo, e o piloto avançou rapidamente do pátio para a taxiway do local, iniciando uma decolagem imediata, visto que não havia chance de chegar até a pista de pousos e decolagens, bloqueada pelos locais nessa curta permanência em solo.

Neste momento, o avião foi perseguido por militares em jipes e caminhonetes enquanto taxiava.

Lembra que este avião estava retirando do local militares e suas famílias, principalmente mulheres e crianças?

Os próprios militares começaram a atacar o avião que, sobrecarregado, acelerava lentamente para decolar do local. Simultaneamente diversas pessoas tentavam entrar no avião pelos porões de bagagens e forçando a porta traseira para entrar na aeronave.

Além das mais de 330 pessoas a bordo, o Boeing 727 ainda tomou uma rajada de tiros e uma granada explodiu perto da sua asa esquerda, que ficou danificada. O avião tinha vários furos ao longo da fuselagem, e até mesmo as tubulações que transportam combustível estavam com problemas.

Enquanto Healy, o comandante do voo, continuava sua corrida de decolagem, ele percebeu que teria que contornar um veículo que estava parado na pista de taxiamento à sua frente. Um rápido desvio tocando a grama e ele estava de volta à pista, porém o avião não queria decolar.

Nos últimos metros de pista o Boeing 727 ganhou velocidade e levantou voo, mas a situação ainda estava tensa. Healy decidiu limitar o voo a 10000 pés, a velocidade também foi limitada e um cálculo básico foi realizado pelo Engenheiro de Voo para determinar se o avião poderia seguir até Saigon, em um voo que deveria durar 50 minutos.

Boeing 727 minutos após decolar. Podemos ver danos nos flaps da asa esquerda, da granada que citamos.

Mesmo com sobrepeso e danos nos flaps, ailerons, linhas de combustível e nas superfícies externas, sem recolher o trem de pouso, o Boeing 727 poderia aguentar um voo até Saigon, que durou duas vezes mais, assim como o consumo de combustível neste voo incomum.

Em todos aviões há um limite de velocidade para voos sem o trem de pouso recolhido.

Algumas pessoas tentaram entrar no avião a todo custo, até mesmo na asa. Por este motivo, muitos infelizmente morreram durante a corrida da decolagem ou posteriormente, nos primeiros segundos de voo.

Este não é um conto, há realmente cenas reais de toda essa loucura. Confira abaixo:

Posteriormente a mesma companhia mandou um DC-8 Cargueiro para resgatar 57 órfãos, desta vez realizando um voo que mesmo assim enfrentou problemas.

Os próprios EUA decidiram controlar a situação grave, e enviar poucos dias depois do DC-8 um navio para buscar os refugiados, principalmente os trabalhadores da embaixada dos EUA no local.

 

 

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