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Os últimos redutos do F-4 Phantom II

Caças F-4E Phantom II da Coreia do Sul. Foto: ROKAF.

Phantom. Um nome que em tempos de Halloween, tem um significado mais popular e “assustador”, mas que, no campo da aviação, tem outro sentido: McDonnell Douglas F-4. Uma aeronave lendária, das mais reconhecidas e até respeitadas, um dos símbolos da polêmica Guerra do Vietnã. Com mais de 5000 unidades produzidas, figura entre os modelos mais fabricados de todos os tempos. Sessenta e cinco anos após o seu primeiro voo, o caça de terceira geração já deu baixa das fileiras da grande maioria dos seus operadores. Porém o fantasmagórico Phantom II ainda permanece em serviço em algumas nações. 

Podemos usar uma série de adjetivos para falar do F-4: grande, robusto, pesado, potente e até mesmo desajeitado. Embora seja muitas vezes reconhecido por seu baixo desempenho inicial no Vietnã – muitas vezes ligado à falta do canhão, de forma leiga – o F-4 foi um enorme sucesso, adquirido por diversas nações além dos Estados Unidos. Até mesmo o Brasil teve interesse no bimotor norte-americano, mas isso são “outros quinhentos”. 

O sessentão F-4 marcou época, mas a partir dos anos 80 começou a dividir os céus com modelos mais modernos de 4ª geração, como o F-16, F-15, Mirage 2000, MiG-29 e Su-27. Na década seguinte ele já tinha espaço tomado por esses e outros modelos. No entanto, alguns países mantiveram o Phantom em operação por mais algum tempo, outros ainda até os dias de hoje. Os últimos redutos do F-4 estão na Europa, Leste da Ásia e Oriente Médio. 

Irã – um antigo aliado

Como a história nos conta, Irã e Estados Unidos já foram grandes aliados no passado. E foi nesse passado que a antiga Força Aérea Imperial Iraniana adquiriu um total de 225 Phantoms nas versões F-4D, F-4E e RF-4E (esta última de reconhecimento tático). As primeiras unidades da versão F-4D foram entregues em 1968 e eram as mais modernas da época; três anos depois, o F-4E já estava operando no país ao lado dos pequenos e ágeis F-5, que complementavam os grandalhões bimotores. Os RF-4 foram entregues em 1972. 

Caça F-4E Phantom II taxiando pelos túneis da Eagle 44, base aérea subterrânea revelada pelo Irã. Foto: Fars.
Caça F-4E Phantom II taxiando pelos túneis da Eagle 44, base aérea subterrânea revelada pelo Irã. Foto: Fars.

Com a Revolução Islâmica de 1979, o Irã viu tudo mudar drasticamente, principalmente na cultura interna e nas relações exteriores. A força aérea que um dia foi a menina dos olhos do Xá ficou fortemente ameaçada pelos embargos, além da perseguição de militares pelo novo regime. Ainda assim, a “nova” Força Aérea da República Islâmica do Irã (IRIAF) fez extenso uso da numerosa frota de F-4 contra o Iraque na guerra que se seguiu.

Por outro lado, a falta de um suporte adequado e a própria guerra cobraram seu preço em cima dos Fantasmas Persas. Estima-se que 63 dos mais de 220 F-4 estejam em serviço, um bom número considerando a barreira imposta pelos embargos contra o país. 

Turquia – Terminators 

Assim como o Irã, a Turquia também figura entre os maiores operadores do F-4, tendo adquirido 236 aviões nas versões F-4E e RF-4E para substituir modelos mais antigos como F-100 Super Sabre e RF-84. Ao mesmo tempo, dividiram as várias bases aéreas turcas com os F-5 Freedom Fighter e os característicos F-104 Starfighter, vistos como aeronaves complementares aos F-4 mais novos e capazes. 

Comprados novos de fábrica ou dos estoques da Força Aérea dos EUA, os F-4 da Turquia performavam bem em missões de combate aéreo mas tinham maior destaque no ataque ao solo. Isso graças a equipamentos como o visor  TISEO, que permitia identificar alvos a grandes distâncias, e o pod Pave Spike, que deu aos F-4 a capacidade de usar bombas orientadas por laser. 

Modernização integrou mísseis AGM-162 Popeye aos F-4 Phantom da Turquia. Foto: Helen Farrer.
Modernização integrou mísseis AGM-162 Popeye aos F-4 Phantom da Turquia. Foto: Helen Farrer.

Na década de 1990 a Turquia optou por modernizar seus F-4 mais novos e dar baixa nos modelos mais antigos. Ao custo de US$ 600 milhões, o programa F-4E-2020 Terminator viu a modernização de 54 F-4E pela Israel Aerospace Industries. As aeronaves receberam reforços estruturais, aviônicos modernos, novos radares e computadores de missão e integração com armas inteligentes como as bombas Paveway e mísseis Popeye.

Cerca de 30 F-4E permanecem em serviço, ao lado dos mais de 200 F-16 do país. O modelo seria substituído pelo F-35, mas a Turquia foi expulsa do programa pelos Estados Unidos após comprar mísseis antiaéreos russos.

Grécia – rusgas antigas

A relação entre Turquia e Grécia é bastante conturbada há muito tempo. Os dois países são membros da OTAN, mas as diferenças seculares várias vezes falam mais alto nas relações diplomáticas entre Atenas e Ancara. Esse fator também influencia diretamente nos investimentos de defesa. 

Dessa forma, o país implantou um extenso programa de modernização de suas forças armadas, adquirindo caças F-4E/RF-4E dos EUA e Mirage F-1 da França. Os primeiros Phantoms chegaram em abril de 1974 e foram implantados nas bases aéreas de Andravida e Larissa. Eles substituíram os caças F-5A Freedom Fighter e os jatos de reconhecimento RF-84. 

Caças F-4 da Grécia foram amplamente modernizados e permanecem em serviço. Foto: Força Aérea Grega.
Caças F-4 da Grécia foram amplamente modernizados e permanecem em serviço. Foto: Força Aérea Grega.

Os gregos receberam, ao todo, 121 F-4 e RF-4, incluindo unidades transferidas dos EUA e adquiridas usadas da Alemanha. Na virada do século, a Força Aérea Helênica também optou por atualizar sua frota de F-4. O programa Peace Icarus 2000 atualizou 35 F-4E com novos radares e aviônicos, GPS e integração de mísseis AMRAAM e o casulo LITENING. Hoje, 33 “fantasmas helênicos” seguem atuando em missões de ataque ao solo e defesa aérea, dividindo o espaço aéreo grego com caças F-16, Rafale, Mirage 2000 e, logo mais, F-35. 

Coreia do Sul – o último fantasma 

Anos após o armistício que encerrou a Guerra da Coreia, Seoul estava novamente vivendo tensões com Pyongyang na década de 1960. A situação, influenciada pelo calor da batalha no Vietnã, fez a Coreia do Sul assinar sua primeira compra de caças F-4 ao encomendar 18 F-4D. Eles chegaram ao país em 1969, firmando ainda mais os laços com os Estados Unidos e garantido uma superioridade tecnológica sobre a vizinha ao norte.

Outras compras e acordos ocorreram ao longo dos anos, totalizando 92 entregas do tipo, o que torna a Coreia do Sul a maior operadora da versão D do Phantom II. A partir de 1977 a Força Aérea Sul Coreana (ROKAF) passou a operar o F-4E, tendo adquirido um lote inicial de 37 aviões novos de fábrica. O modelo fez sucesso no país, que encomendou um total 94 caças. A ROKAF também operou 27 RF-4C de reconhecimento.

Coreia do Sul é um dos últimos redutos do F-4 Phantom II.
Coreia do Sul foi o último país a receber um Phantom. Foto: ROKAF.

Em outubro de 1979, a McDonnell Douglas encerrou a produção do F-4 com o jato de número 5057 e matrícula 78-0744. A aeronave foi transferida à Coreia do Sul sob o programa Peace Pheasant II. Como outros usuários, a ROKAF também planejou uma modernização dos seus F-4, no entanto restrições orçamentárias impediram uma grande atualização dos aviões. Ainda assim, os Phantoms sul-coreanos receberam upgrades pontuais, como a integração com o míssil Popeye.

Um dos últimos redutos do F-4 Phantom II é a base aérea de Suwon, no noroeste da Coreia do Sul. Lá estão os derradeiros F-4 da ROKAF, cerca de 50 a 60 aviões, que serão substituídos pelos F-35 e o novo KF-21 Boramae. 

Assim, bases aéreas na Coreia, Irã, Turquia e Grécia guardam as últimas unidades de um lendário avião de caça. Mais de sessenta anos após o seu primeiro voo, o F-4 permanece em serviço em organizações que dispõem de meios muito mais modernos. Embora um veterano que se aproxima da sua merecida aposentadoria, o F-4 mostra o quão longe um projeto aeronáutico é capaz de ir. 

Com informações de Key Aero, Aerotime, This Day in Aviation

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias

Tags: F-4 Phantom, usaexport