Cerca de 23 dias depois que pedaços do míssil antirradar AGM-88 HARM dos EUA foram encontrados na Ucrânia, imagens mostrando o uso desse armamento foram divulgadas pela Força Aérea Ucraniana (UAF) nesta terça-feira (30). Os mísseis foram integrados aos caças MiG-29 Fulcrum.
O vídeo foi gravado por um piloto de caça ucraniano, chamado apenas de ‘Ivan’, como uma homenagem a um camarada aviador, Major Yevgen Lysenko, que faleceu em combate aéreo contra a Rússia em 09/03. As imagens foram compartilhadas pela UAF e mostram, pela primeira vez, os mísseis norte-americanos sendo usados a partir dos caças de origem russa.
One of the 🇺🇦 pilots has made a footage of the MiG-29 fighter jets combat operations.
🇺🇦 pilot Ivan dedicates this video to major Yevhen Lysenko, his fallen brother in arms, who heroically died in an aerial fight against the 🇷🇺 invaders on March 9. pic.twitter.com/eUVYIAboDr
— Ukrainian Air Force (@KpsZSU) August 30, 2022
As primeiras imagens de destroços do AGM-88 na Ucrânia surgiram no dia 07/08, através de canais russos no aplicativo de mensagens Telegram.
Uma das fotos mostra em destaque o stencil BSU-60A/B em um dos fragmentos. Este é o nome das aletas usadas para estabilizar e manobrar o míssil AGM-88 HARM (High speed Anti-Radation Missile). Os destroços teriam sido encontrados em uma posição russa.
Russian channels have posted images of what appear to be the remains of an AGM-88 HARM antiradiation missile. A fragment of the HARM’s BSU-60A/B stabilization fin can be seen in the wreckage.
The missile was reportedly fired at a Russian position. pic.twitter.com/GCNA55CJdj
— OSINTtechnical (@Osinttechnical) August 7, 2022
Dois dias depois, Washington confirmou que havia doado mísseis antirradar aos ucranianos, mas sem especificar o modelo. Posteriormente, o Pentágono finalmente afirmou que os mísseis AGM-88 foram repassados aos ucranianos e ainda integrados em caças MiG-29.
Esta última parte é o que mais chama atenção. Apesar de já ter ocorrido no passado em países como Irã, Finlândia e África do Sul, por exemplo, a integração entre armamentos e aeronaves ocidentais e orientais é incomum e raramente acontece. Por isso, o uso dos AGM-88 antirradar a partir do MiG-29 levanta vários questionamentos ainda não respondidos.
Como explicamos anteriormente, mísseis antirradar (também chamados de antirradiação) funcionam com um sensor passivo que detecta e se orienta através de emissões de radares inimigos. Dessa forma, o míssil encontra e destrói a antena emissora, em um tipo de missão chamada de Supressão de Defesas Aéreas Inimigas (SEAD).
Sem a(s) antena(s), o posto de comando de uma bateria antiaérea não pode disparar seus mísseis, abrindo caminho para uma possível segunda onda de ataque (Destruição de Defesa Aéreas Inimigas – DEAD) ou para outra missão do lado ucraniano.
O AGM-88 foi desenvolvido pela Texas Instruments (atual Raytheon) na década de 1980 para substituir os mísseis AGM-45 Shrike e AGM-78 Standard ARM.
O HARM foi sendo atualizado ao longo dos anos para se manter relevante com a modernização das ameaças, e hoje é operado a partir de caças F-16, F/A-18 e EA-18 na sua versão mais nova em serviço, AGM-88E Advanced Antiradiation Guided Missile (AARGM).
As aeronaves dos EUA tem displays multifuncionais onde o piloto seleciona o míssil e os parâmetros de engajamento. Porém, os MiG-29 ucranianos, ainda que atualizados em algum nível, apresentam um painel completamente analógico. Além disso, o míssil precisa de uma interface para “conversar” com os sistemas da aeronave lançadora.
Porém, o vídeo mostra que um tablet e um GPS Garmin foram instalados no cockpit, na frente e ao lado do HUD, respectivamente. A presença do tablet pode confirmar uma teoria levantada pelo portal The Aviationist.
Segundo analistas do site, um tablet conectado ao AGM-88 poderia ser usado para a seleção de alvos, com o míssil atuando no modo sensor. Nesse tipo de operação, o sensor do AGM-88 recebe e mostra ao piloto os sinais de radar que estão sendo captados no momento.
“Outro modo poderia ser o modo Pre-Briefed, porém não parece muito prático em um campo de batalha em rápida evolução, pois a posição do radar inimigo é programada no solo e não pode mais ser alterada pelo piloto quando a aeronave decola.”
Apesar das suposições, ainda não está claro de forma alguma como os mísseis estadunidenses foram integrados e estão sendo usados a partir de aviões fabricados na Rússia.
Além disso, o emprego do HARM em plataformas originalmente compatíveis também envolve o uso de sensores adicionais, como o HTS (HARM Targeting System) no caso do F-16, e o ELS (Emitter Location System) para o Panavia Tornado ECR.
Ainda assim, independentemente dos impedimentos, é surpreendente como os ucranianos e norte-americanos trabalharam tão rápido para integrar todo o conjunto, ainda mais em uma situação de guerra.
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