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A Lei de Amara e a Aviação do futuro!

por Dilly

Lei de Amara

Estaria a nossa imaginação ainda limitada sobre as possibilidades do futuro? Essa foi a pergunta que recebi de um grupo de aviadores durante as confraternizações de final de ano.

Nesse final de ano fui correr na ruas do meu condomínio com meu Apple Watch , e lembrei que ele usa GPS enquanto estou correndo, registrando minha localização com precisão suficiente para ver de que lado da rua eu corro.

Falando em Apple, imagine se tivéssemos uma máquina do tempo e pudéssemos transportar Issac Newton do final do século 17 até hoje. Newton tinha obsessão em particular pela órbita da Lua em torno da Terra. Reza a lenda, que depois de ver como maçãs sempre caem em linha reta ao chão, passou vários anos trabalhando na matemática mostrando que a força da gravidade diminuía na razão inversa do quadrado da distância.

Agora mostremos um Apple a Newton. Peguemos um iPhone do bolso com a tela brilhante e cheia de ícones. Newton, que revelou como a luz branca é feita de componentes de luz de cores diferentes separando a luz do sol com um prisma e depois juntando-a novamente, sem dúvida ficaria perplexo com um objeto tão pequeno produzindo cores tão vivas. Imaginem Newton naquela época assistindo um filme, ouvindo músicas, e muito mais naquele aparelho com o símbolo da maçã?!

Pois bem. Ao refletir sobre Apple, GPS e Newton, preciso trazer o princípio de Roy Amara. Amara foi um cientista americano, de Palo Alto, o coração intelectual do Vale do Silício. Ele é conhecido por seu princípio, agora chamado de Lei de Amara. Segundo Amara, “tendemos a superestimar o efeito de uma tecnologia no curto prazo e subestimar o efeito no longo prazo.”

Há muito envolvido nesse princípio. Vamos, portanto, entender o que é o surgimento de uma nova tecnologia que causa esse fenômeno, batizado de Lei de Amara, e como podemos vislumbrar as suas aplicações.

Voltemos então ao ano de 1991. Estava eu indo fazer meu intercâmbio estudantil em Chicago, e lá tive a oportunidade de participar de vários grupos de debate envolvendo familiares de soldados americanos combatendo na Guerra do Golfo. Tempos difíceis para os soldados que, enquanto se deparavam com redemoinhos de areia praticamente sem visibilidade, o GPS permitia com que pudessem marcar o local de minas, e encontrassem o caminho de volta para fontes de água. Salvou inúmeras vidas, e o Exército tinha tão poucos receptores que soldados pediam para que suas famílias nos Estados Unidos gastassem seu próprio dinheiro enviando aparelhos disponíveis comercialmente.

Pois bem, esse sistema de posicionamento global dos EUA, o GPS (uma constelação de 24 satélites) foi colocado em órbita em 1978. O objetivo do GPS era permitir a entrega precisa de munições pelos militares dos EUA. Mas o programa foi quase cancelado repetidas vezes na década de 1980, e os militares relutaram em aceitar sua utilidade até 1991 na Guerra do Golfo.

Hoje o GPS está no que Amara chamaria de longo prazo, e as formas como ele é usado eram inimagináveis em princípio. Além dos exemplos acima mencionados, o GPS é usado por todos os aviões para navegar, e é usado para rastrear até mesmo frotas de caminhões e desempenho dos motoristas. O GPS começou com um objetivo, mas foi por uma imaginação limitada e outros erros comuns que nos distraem de pensar de forma mais produtiva sobre o futuro, que inicialmente não funcionou tão bem quanto as suas possibilidades de utilização. Agora ele se infiltrou em tantos aspectos de nossas vidas que não estaríamos apenas perdidos se desaparecesse; pasmem, estaríamos com frio, fome, e afetaria de forma catastrófica toda a cadeia logística da era atual.

Vemos um padrão semelhante com outras tecnologias nas últimas décadas. Uma grande promessa no início, decepção e, em seguida, uma confiança crescente nos resultados que excedem as expectativas originais. Como exemplos, a computação, energia solar e energia eólica. Quem não pede entrega de comida em domicílio, e até mesmo transporte por aplicativo?

Outros exemplos da Lei de Amara incluem a Internet (nos primórdios da Internet, muitas pessoas pensavam que ela seria usada apenas para comunicação básica e compartilhamento de informações. No entanto, teve um impacto muito maior em nossas vidas e transformou toda a sociedade atual); carros autônomos (as previsões iniciais sobre a adoção de carros autônomos subestimaram o tempo e o esforço necessários para desenvolver e implantar a tecnologia. Embora tenha havido progresso, os veículos totalmente autônomos ainda não estão amplamente disponíveis); e realidade virtual (quando a tecnologia de realidade virtual surgiu, algumas pessoas pensaram que ela revolucionaria a forma como trabalhamos, jogamos e nos comunicamos. Embora a realidade virtual tenha feito algumas incursões nessas áreas, ela ainda não atingiu todo o seu potencial).

Portanto, no geral, a Lei de Amara nos lembra que os efeitos das novas tecnologias muitas vezes demoram mais para se materializar e podem ser mais significativos do que inicialmente previsto.

Esse foi o caso dos helicópteros. Na década de 40, os membros da nascente comunidade de helicópteros  não sentiam que estavam sendo levados a sério. A maioria dos profissionais de engenharia aeronáutica da época desconsiderava o potencial do helicóptero. Custo, desempenho, confiabilidade e segurança foram apenas alguns dos fatores que condenaram essas visões iniciais. No entanto, durante  a Guerra do Vietnã, a indústria americana de helicópteros cresceu, assim como o uso do helicóptero para novas e inesperadas aplicações civis. Hoje o voo vertical é um bem indispensável.

O Futuro é elétrico? Apesar dos desafios óbvios, a promessa de “reinventar o helicóptero” está atraindo inovadores e investidores em todos os cantos. O VTOL elétrico tem o potencial de ampliar o mercado de voo vertical, criando uma série de categorias de produtos completamente novas que não existem hoje. O potencial das aeronaves VTOL elétricas para transformar o cenário atual da aviação repousa na crença de que elas serão mais limpas, seguras, silenciosas, baratas, confiáveis e mais rápidas do que as aeronaves de asas rotativas tradicionais.

Embora alguns dos primeiros fabricantes tenham conduzido testes de voo robustos, incluindo voos tripulados, a grande maioria dos inovadores ainda está descobrindo os desafios únicos do voo vertical. Mas estamos caminhando para uma revolução na mobilidade aérea urbana elétrica, que parece destinada a acontecer nos próximos anos.

A inovação traz novas ideias e tecnologias de outros domínios. Mas, no final das contas, as leis da física exigem boa engenharia e uma sólida compreensão dos desafios únicos do voo vertical para trazer a promessa da aeronave eVTOL ao mercado e mudar o mundo. Estaria a nossa imaginação ainda limitada sobre as possibilidades do futuro?

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Ivan Dilly

Autor: Ivan Dilly

Ivan Dilly Chief Legal Officer & Founder Ivan Dilly | Advocacia, boutique jurídica para as indústrias da aviação, aeroespacial e assuntos governamentais e defesa. Assumiu por mais de uma década a gestão jurídica/compliance na América do Sul para o Grupo Rolls-Royce. Possui mestrado (LL.M., Business Law) pela University of California, Berkeley – School of Law/USA, MBA pela FIA – Business School SP, e especializações pela Stanford University/USA, Harvard Law School/USA, Academia de Direito Internacional de Haia/Holanda, PUC-SP/Brasil e Universidade Mackenzie/Brasil. Foi reconhecido pela Legal 500’s GC Powerlist for Brazil como um dos advogados mais influentes e inovadores (2016), e pela Legal 500’s GC Powerlist Brazil: Teams como um dos melhores times jurídicos no Brasil (2017 e 2019). É nomeado membro exclusivo do IR Global para o Direito Aeronáutico no Brasil.

Categorias: Coluna, Ivan Dilly, Notícias

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