Coluna: Na Embraer boas notícias, apesar da crise

E-Jet E2, a nova aposta da Embraer para o segmento de 80-140 assentos.

Durante a atual crise econômica e de saúde, o setor de aviação foi drasticamente afetado, em todas as suas vertentes, até mesmo no setor de aviação militar.

Neste ponto muitas companhias aéreas somaram prejuízos bilionários, e logicamente isso afetou as encomendas das aeronaves para todas as fabricantes.

Logicamente muitas empresas solicitaram o adiamento das suas encomendas de aviões da Embraer. Aqui no Brasil a própria Azul adiou a entrega dos seus novos E195-E2.

Mas nem tudo são de notícias ruins para a Embraer, e parece haver uma boa perspectiva para a companhia no médio prazo, com novos projetos e maior foco nos aviões menores. Vamos conferir melhor nos tópicos abaixo.

 

Mitsubishi paralisando projetos

Com a crise batendo na porta, a Mitsubishi precisou fazer alguns ajustes internos, apesar de prosseguir com a compra do programa CRJ, da Bombardier.

A fabricante decidiu suspender o desenvolvimento do seu M100 de 76 assentos, aeronave que concorre diretamente com o novo E175-E2, e diferente do avião brasileiro, consegue se encaixar nas atuais cláusulas de incentivo à aviação regional nos Estados Unidos.

Além disso, a Mitsubishi disse que planeja reduzir pela metade o orçamento do programa SpaceJet em 2020 e 2021, para US$ 558 milhões. Lembrando, o SpaceJet hoje é composto pelas aeronaves M90 e M100.

E como diz um ditado popular, o tempo é algo bastante precioso, e neste caso a Embraer ganhou tempo para trabalhar o E175-E2, e fazer tudo o que for possível para aprovar a aeronave dentro das cláusulas de incentivo à aviação regional nos EUA.

Embraer E175-E2, que deve ser certificado até 2021.

Sem o M100, o E175 de Segunda Geração não terá concorrentes nesta faixa de mercado, e o próprio E175-E1 já faz bastante sucesso nos Estados Unidos.

Pelo que é possível perceber, a Mitsubishi Aircraft ainda procura um certo know how para projetar aviões e ainda mais, construir em série, algo que a Embraer faz desde 1970.

 

COMAC enrolada para certificar seu primeiro avião

Foto – COMAC/Reprodução

A COMAC tem todo o dinheiro do mundo disponível, aliás, na China nunca falta dinheiro para as preferências centrais. Mas não basta ter dinheiro para produzir um avião, o know how de projeto, certificação e fabricação é necessário.

Felizmente a Embraer não concorre com o mar de grana que é a estatal COMAC, porém, a empresa chinesa sofre de problemas até piores que o da Mitsubishi para certificar o seu avião, o C919.

Diversas falhas técnicas e estruturais significaram que, no início de dezembro, após mais de dois anos e meio de testes de voo, o COMAC havia completado menos de um quinto das 4200 horas em voo necessárias para a aprovação final pela Administração da Aviação Civil da China (CAAC), mesmo com 6 protótipos em atividade.

Você pode ver esse e outros problemas enfrentados pelo C919 neste momento Clicando Aqui.

Desta forma podemos concluir que a Comac precisará investir mais tempo no C919, enquanto a Airbus continua a dominar o mercado, e a Embraer ganha tempo ao não arrumar nenhum concorrente para esta geração de aeronaves, mesmo que a fabricante brasileira decida fazer um turboélice.

 

Auxílios, bom caixa e possível indenização da Boeing

A Embraer tem várias linhas possíveis para sair desse momento de crise, enfrentado de uma forma pior pelas grandes fabricantes de aeronaves, que estão se endividando com bilhões de dólares para gerar caixa e evitar demissões.

Temos que ter em mente que várias companhias aéreas adiaram as suas entregas, o que faz imediatamente a receita dessas fabricantes diminuir, visto que os clientes só pagam pelas aeronaves que recebem. 

Embraer E195-E1 nas cores da Azul.

Enquanto isso, a Embraer disse que terminou o 1º trimestre com US$ 2,4 bilhões em caixa, e busca deve obter neste mês o financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a bancos privados no valor de 600 milhões de dólares.

Além desse complemento de US$ 600 milhões, a custo de empréstimo, a Embraer também pode ser contemplada por essa ajuda com um montante de aproximadamente 400 milhões de dólares, também como empréstimo.

A Embraer disse anteriormente que a Boeing criou uma situação para sair do acordo sem o pagamento de multas e indenizações, porém, estas podem chegar a US$ 500 milhões, cerca de R$ 2,8 bilhões.

Desta forma, a Embraer pode receber, mesmo no longo prazo devido ao processo jurídico, um montante de US$ 500 milhões a partir da Boeing.

 

Nada de encomendas canceladas, mas há adiamentos

Foto – Embraer/Reprodução

Durante uma conferência de anúncio de resultados nesta segunda-feira (1º/06), a Embraer destacou que nenhum cliente da companhia cancelou pedidos para aviões da fabricante, ao contrário de outras empresas como a Airbus e Boeing.

No balanço do primeiro trimestre deste ano, a fabricante brasileira também aproveitou para anunciar que tem no horizonte cerca de 16 bilhões de dólares em encomendas firmes para os próximos anos.

Apesar disso, boa parte dessa receita pelas vendas de aviões deverá vir a partir de 2022, quando a demanda por voos estiver retomando ao padrão pré-COVID. Enquanto isso a Embraer queima caixa para manter a sua estrutura, mas em 2022 a Embraer começa a pagar parte da sua dívida tão divulgada nos relatórios financeiros.

É uma boa notícia, misturada com uma notícia ruim, e um alívio cronológico no meio da avaliação.

 

Conservadorismo

Apesar da Embraer ter excelentes produtos, a parte comercial da empresa tem uma certa gestão conservadora nos últimos anos, com poucos indícios de apostas em novos tipos de aeronaves, ou poucas movimentações nesse sentido.

Ao contrário, as outras divisões da Embraer, principalmente de aviação executiva, apresentaram produtos criados do zero nos últimos anos, com o topo da tecnologia, como a linha KC-390 e Legacy/Praetor.

Fica como resquício de um produto novo os diversos indícios que desenvolvimento do novo turboélice, citado até mesmo no último anúncio de resultados financeiros da empresa.

A Embraer ainda tem a verve de investir em algo inovador na aviação regional, mas falta uma aposta extra em incomodar as duas grandes em nichos de aviões maiores que elas derrapam.

Os produtos da Embraer são confiáveis, a empresa tem uma ampla rede de suporte, e neste ponto é praticamente semelhante às duas grandes do setor.

 

Esta não é uma postagem patrocinada em hipótese alguma, apenas uma análise do editor.

 

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