Como funciona o procedimento de-icing que não foi realizado no Fokker 100 acidentado?

Foto - Air Canada

Em 10 de janeiro de 2020, a comissão de investigação do Cazaquistão realizou uma conferência de imprensa, informando que os gravadores de voz e dados, do Fokker 100 que sofreu um acidente após a decolagem, foram lidos com sucesso.

Os dados divulgados pelos investigadores apontam que a aeronave teve uma instabilidade da sustentação das asas durante a decolagem, devido ao acúmulo de gelo nas superfícies aerodinâmicas, como as asas e os estabilizadores verticais.

Quando os passageiros já estavam nos seus assentos, carros de serviço se aproximaram para retirar o gelo do estabilizador horizontal, serviço concluído com sucesso, porém o comandante do voo decidiu não retirar o gelo da asa da aeronave.

Destroços do Fokker 100.

Durante a decolagem o erro inicial, devido ao procedimento não realizado por precaução, foi amplificado por outra decisão do comandante, de não abortar a decolagem.

O co-piloto declarou no cockpit para rejeitar a decolagem, devido à falta de estabilidade da aeronave, e mexeu nas manetes da aeronave para diminuir a potência. Porém, o comandante declarou que não havia necessidade e disse “vamos lá”.

Após tentar decolar, a asa do avião inclinou para a esquerda e direita, até que a ponta da asa esquerda tocou a pista, e a mesma foi rumo a uma casa de dois andares. Os dois vídeos abaixo mostram toda a situação.

https://www.youtube.com/watch?v=8qYW-hlWUd4&feature=emb_title

https://www.youtube.com/watch?v=6VmkzrhQlVk&feature=emb_title

 

Mas como funciona o de-icing? 

Esse procedimento não é tão comum no Brasil, devido ao nosso inverno ameno. Mas no hemisfério norte, em vários países é quase regra.

Provavelmente em uma manhã fria você já observou uma aeronave com gotículas de água condensadas na parte superior, dependendo da temperatura parece até mesmo uma fina camada de gelo.

Essas mesmas gotículas condensam na asa do avião, e mesmo sem a presença de forte nevasca, uma camada de gelo pode travar e atrapalhar o funcionamento de componentes essenciais para o controle de um avião, como o aileron e o flaperon.

 

No estabilizador horizontal, o gelo formado pode atrapalhar na ação do profundor.

Na parte da asa, o gelo formado pode atrapalhar no desempenho aerodinâmico da aeronave, causando instabilidade ou até mesmo um estol mesmo em alta velocidade, quando o avião perde a capacidade de gerar sustentação.

Para resolver esse problema em solo é simples, mas ao mesmo tempo genial, visto que a solução inclui o mesmo líquido que utilizamos no sistema de arrefecimento do nosso carro.

Foto – Clariant

A equipe de manutenção utiliza um veículo especial que é capaz de manter o produto aquecido, e jogar na aeronave, outro produto pode ser aplicado para evitar o re-congelamento se a temperatura está muito abaixo do ambiente. A concentração do produto também varia de acordo com a condição de temperatura externa.

O líquido que retira o gelo, conhecido como Tipo 1, pode ter coloração laranja. Já o líquido que previne a formação de gelo, o Tipo 4 não pode ser aquecido e pode ter coloração verde.

Fluídos armazenados em um galpão no aeroporto. Foto – Delta Airlines

Geralmente o líquido Tipo 1 é o propilenoglicol e água, em uma proporção que varia de acordo com a temperatura externa, e aplicado com temperatura entre 70º a 80º C.

A temperatura maior no propilenoglicol evita que o líquido congele de imediato, e possibilita que o avião decole minutos depois sem maiores problemas.

O fluído Tipo 4, de cor verde, é aplicado quando há presença de chuva ou neve durante ou após a aplicação do líquido Tipo 1.

Dependendo do tamanho da aeronave, até quatro veículos podem ser usados no processo. Cada veículo possui um motorista e um agente para o processo de degelo. Um membro da tripulação ou da manutenção de aeronaves fica responsável por realizar uma inspeção final antes de autorizar o avião prosseguir voo.

Um avião pode exigir até 200 litros de cada fluído para realizar o processo de descongelamento. Como podemos ver, não é nada barato despachar um voo no inverno rigoroso e o procedimento pode durar até 10 minutos para ser realizado.

Em uma temporada de inverno a Delta Airlines chegou a utilizar 3,4 milhões de litros entre os dois líquidos, com um custo total de aproximadamente 5,5 milhões de dólares.

No vídeo abaixo podemos ver o de-icing sendo realizado em uma aeronave com muito acúmulo de neve:

 

Já no vídeo abaixo podemos ver esse procedimento sendo realizado em uma aeronave sem o acúmulo aparente de gelo ou neve, por precaução:

 

Já no vídeo abaixo, do Aeroporto de Milão/Malpensa, podemos ver esse procedimento a partir de diversos ângulos:  (é o vídeo mais legal)

 

E vamos colocar um vídeo extra:

 

Outros sistemas

Em muitos aviões de grande porte, e que voam em alta altitude, podemos encontrar sistemas que já auxiliam durante o voo a formação de gelo nas asas, principalmente no bordo de ataque.

Nos aviões maiores, são utilizados sistemas de aquecimento da superfície do avião, que incluem jatos de ar quente provenientes do motor. Nos aviões menores, é mais comum encontrar colchões de ar nas asas e na cauda. Eles são constantemente inflados para quebrar o gelo.

O sistema dos aviões maiores utiliza uma sangria de ar quente, direcionada para a região do bordo de ataque da asa.

Outros componentes essenciais, como o tubo de pitot e a tomada de pressão estática, são aquecido com resistência elétrica.

 

 

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