Há dois anos em guerra com a Rússia e prestes a receber caças F-16, a Ucrânia recebeu na quinta-feira (06) mais uma boa notícia: a doação de caças Mirage 2000. O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou a intenção de transferir os jatos para a Força Aérea Ucraniana (UAF), à medida que tem aumentado o suporte para Kiev.
A França já é parte da coalizão que fornecerá dezenas de F-16 aos ucranianos. Embora não opere o modelo, a Força do Ar e Espaço da França tem fornecido treinamento aos pilotos e técnicos da Ucrânia, capacitando-os para operar um equipamento padrão da OTAN. Paris também tem doado armamentos avançados para os ucranianos, como as bombas inteligentes HAMMER e mísseis de cruzeiro SCALP-EG, que foram adaptados aos jatos da UAF.
Agora Macron quer formar outra coalizão, dessa vez para treinar aviadores e entregar os Mirage 2000-5 para os ucranianos. O presidente francês anunciou a iniciativa ao finalizar seu discurso na comemoração dos 80 anos do Dia D, o desembarque dos aliados nas praias da Normandia durante a Segunda Guerra Mundial.
“Lançaremos um novo programa de cooperação e anunciaremos a transferência dos Mirage 2000-5 – caças franceses que permitirão à Ucrânia proteger o seu solo e espaço aéreo”, disse Macron, na presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. “A partir de amanhã vamos lançar um programa de treinamento de pilotos, seguido da transferência dessas aeronaves.”
Macron não detalhou quando os aviões chegarão para Kiev e nem quantos jatos serão transferidos, mas disse que vai doar o equivalente a que outros países enviarão. Segundo o World Air Forces 2024, a França ainda tem 26 Mirage 2000-5 em serviço, que eventualmente serão substituídos pelos Dassault Rafale.
“O fator-chave é o tempo de treinamento dos pilotos, e por isso vamos propor ao presidente Zelensky que os pilotos sejam treinados já neste verão – normalmente leva de cinco a seis meses – para que até o final do ano eles estejam capaz de pilotar essas aeronaves“, disse Macron, acrescentando que os pilotos ucranianos serão treinados na França.
Embora a iniciativa seja vista com bons olhos pela Ucrânia e demais aliados, a integração dos Mirage 2000 à UAF também tem seus problemas, como observa o The Aviationist.
“A introdução de uma nova aeronave muitas vezes implica o estabelecimento ou modificação de cadeias de fornecimento de peças sobressalentes, equipamentos de manutenção e ferramentas especializadas”, afirma o editor do portal, David Cenciotti. “Garantir um fornecimento constante de peças sobressalentes e equipamentos de suporte é crucial para manter a prontidão operacional e minimizar o tempo de inatividade. A França provavelmente irá apoiar a Força Aérea Ucraniana com muitas peças sobressalentes e isto pode não ser um grande problema.”
O próprio treinamento de pilotos e mecânicos para voar e manter os aviões já demora um período considerável, como o próprio presidente francês notou. Recentemente, a Suécia decidiu suspender a ideia de enviar caças Saab Gripen à Ucrânia, para que os esforços fossem concentrados na entrega dos F-16, que devem chegar em Kiev em junho ou julho.
Por fim, assim como o F-16, o Mirage 2000 não será um ‘game changer’ no conflito com a Rússia. Ainda que nenhum dos lados tenha obtido domínio total do espaço aéreo, Moscou tem a vantagem de empregar caças e sistemas de defesa aérea mais modernos e maior número.
Caças MiG-31 e Su-35 armados com os mísseis de longo alcance R-37 tem se mostrado adversários muito perigosos para os aviadores ucranianos. Tanto o F-16 quanto o Mirage não dispõem de armamentos similares, carregando apenas mísseis de médio alcance, como o AIM-120 AMRAAM e MICA, respectivamente.
Mesmo assim, a entrega dos aviões certamente favorece a Ucrânia. Mais modernos que os MiG-29, Su-25 e Su-27, os Mirage 2000-5 são aeronaves multifuncionais, capazes de desempenhar missões contra alvos aéreos e terrestres.
Equipados com aviônicos, sensores e suítes de contramedidas mais atualizadas, os Mirage 2000 também são reconhecidos por disporem de alta manobrabilidade e velocidade. Possuem um par de canhões de 30 mm e podem empregar mísseis ar-ar, ar-solo, bombas inteligentes, mísseis de cruzeiro e foguetes.
O conflito entre Rússia e Ucrânia segue se encaminhando para seus dois anos e meio e não parece estar perto do fim. Dessa forma, qualquer ajuda para Kiev ainda é relevante.
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