Na última semana completou-se dois anos que a Itapemirim iniciou sua (curta) trajetória nos voos comerciais de passageiros no Brasil. O surgimento da nova aérea brasileira traria uma mistura de desconfiança com esperança e acabou com um trágico fim em menos de um ano de operações.

A ITA Transportes Aéreos, braço aéreo do popular Grupo Itapemirim tinha como plano integrar suas linhas rodoviárias com as linhas aéreas, algo até então não explorado no Brasil neste formato intermodal. 

A nova companhia aérea era comandada por Sidnei Piva, e mesmo em tempos de pandemia onde o cenário era incerto na aviação, o empresário apostou alto com a introdução da nova empresa aérea do Brasil sob um nome já muito conhecido dos passageiros.

A empresa iniciou sua trajetória em 29 de junho de 2021, com o voo IPM-001 entre São Paulo (GRU) e Brasília, duas das cidades onde iriam ser estabelecidos hubs. Este primeiro voo no qual o Portal Aeroflap participou em uma cobertura completa em voo e em solo, foi operado pelo primeiro avião da companhia, um Airbus A320 de matrícula PS-SPJ.

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A operação regular mesmo começou apenas no dia 1º de julho, já com problemas. Naquele momento, a ITA contava com três aviões operacionais, PS-SPJ, PS-SFC e PS-AAF e mais uma ainda para entrar em serviço PS-ITA, todos Airbus A320 configurados para 162 passageiros. 

Naquele 1º de julho com voos para Brasília, Guarulhos, Rio de Janeiro-Galeão, Salvador, Porto Alegre e Porto Seguro, a companhia precisou fazer mágica pois teve um problema técnico em uma das aeronaves e apenas duas estavam disponíveis para realizar todos os voos programados daquele dia.

Apesar dos inúmeros atrasos, alguns chegando ser mais de três horas, a empresa cumpriu os voos e gradativamente foi normalizando sua malha com a volta do avião da manutenção e a introdução do PS-SFC. Curitiba receberia voos da Itapemirim dois dias depois.

Agosto e setembro marcou a estreia de voos da ITA para Recife, Maceió, Fortaleza, Florianópolis e Natal. Naquela altura, a empresa teria seis aviões operacionais, todos A320.

Apesar dos problemas, a Itapemirim parecia começar a ganhar força e mercado, apostava em assentos mais espaçosos em seus aviões e tentava competir com tarifas mais baixas do que as concorrentes LATAM, GOL e Azul principalmente para o Nordeste.

Outros destinos estavam previstos para serem iniciados mas a empresa esbarrou em sua limitada frota e com inúmeros voos para atender. Os planos de oferecer diferenciais como retirar a cobrança de assentos e malas despachadas pareciam um apelo em meio aos novos problemas enfrentados.

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Com uma frota pequena, a Itapemirim não poderia se ‘dar ao luxo’ de remarcar voos e colocar outra aeronave naquele voo afetado. A companhia de Piva precisava readequar toda a malha e realizar voos com paradas não programadas para buscar outros passageiros retidos.

Em outubro, a companhia ganharia a oportunidade de realizar voos no tão disputado Aeroporto de Congonhas e estava próxima de receber seu primeiro Airbus A319. Os voos no terminal central de São Paulo até aconteceram, mas foi preciso novamente ajustar a malha e realocar voos de Guarulhos.

A crise financeira já estava aparecendo e a empresa começou a atrasar pagamentos tanto de funcionários como de tripulantes mas ainda sim seguia voando. A empresa também precisou lidar com o quadro de funcionários menor, já que os benefícios não estavam sendo pagos.

O ‘tiro de misericórdia’ da ITA foi deixar de operar todos os seus voos regulares para se dedicar aos fretamentos especiais para Montevidéu no Uruguai em razão da final brasileira da Libertadores entre Flamengo e Palmeiras.

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O Airbus A319 que a empresa esperava receber, estava parado e sem previsão de entrada em serviço e cada semana que passava os problemas financeiros e operacionais tomavam conta da companhia liderada por Sidnei Piva.

O mês de dezembro chegou, e na bagagem da Itapemirim mais voos cancelados, passageiros cobrando seus direitos e tripulantes sem receber. Este mês porém teria como agravante ser um período de muitas viagens em razão das festas de final do ano, sendo o capítulo final da curta história da ITA Transportes Aéreos.

Em 17 de dezembro, a companhia entrou em colapso e suspendeu todos os seus voos no final daquela sexta-feira. O caos literalmente estava feito, sem dinheiro para pagar os credores, nenhum serviço de apoio foi prestado para a empresa e milhares de passageiros às vespéras de entrar na semana do Natal estavam sem ter como viajar. As empresas Azul, LATAM e GOL acolheram os passageiros prejudicados.

Os aviões da Itapemirim ficaram parados entre Guarulhos, Brasília e Galeão até ser definido qual seria o futuro da empresa. Nos primeiros meses de 2022, a ANAC cassou o Certificado de Operador Aéreo e com isso culminava no fim da então nova companhia brasileira.

Ao longo de 2022, os aviões foram todos devolvidos aosseus respectivos lessores.

Como e onde estão os aviões que eram da Itapemirim?

Airbus A320 – PS-SPJ

O primeiro avião da frota, o PS-SPJ chegou ao Brasil ainda com as cores da Vueling, recebendo em março de 2021 a pintura da ITA feita nas instalações da Digex em São José dos Campos.

Após a passagem pela empresa brasileira, o avião seguiu para os EUA onde ficou estocado por mais de um ano sob os cuidados da Carlyle Aviation e somente em abril deste ano (2023), voltaria a voar comercialmente. 

Curiosamente também foi um dos primeiros aviões de uma nova empresa, chamada Sky Vision Airlines do Egito. Hoje voa com a matrícula SU-SKC.

Airbus A320 – PS-AAF

O segundo avião da frota da Itapemirim,  os PS-AAF chegou a ser ‘depenado’ para servir peças de reposição para outros aviões da frota no final da operação da empresa. Após um longo período estocado em São José dos Campos, a aeronave decolou em julho de 2022 também sob os cuidados da Carlyle Aviation para os EUA.

Até maio desse ano, a aeronave estava estocada em Tucson com a matrícula N359CL, quando ganhou a oportunidade de voltar a voar e foi padronizado para entrar em serviço para a Fly Lili. Acredite se quiser, assim como seu ‘irmão’, ele também seguiu para outra empresa novata, desta vez da Bélgica.

Atualmente voa sob a matrícula YR-LIB.

Airbus A320 – PS-SFC

O terceiro avião da empresa, tendo sido entregue nos primeiros dias de junho após ter voado pela Turkish Airlines. A aeronave foi quem entrou em manutenção não programada nos primeiros dias de operação, causando todo o problema na malha.

O Airbus A320 ficou estocado em Brasília de dezembro até os últimos dias de janeiro já de 2022, quando foi transportado para Tucson. Por lá permaneceu sob o controle da DVB Bank da Alemanha, e voltou operar somente em junho de 2022 pela Sky Angkor Airlines da Cambodia. 

A aeronave voou com a matrícula XU-724 e foi retirada de operação em junho deste ano, voltando para a DVB Bank.

Airbus A320 – PS-ITA

O quarto avião da ITA, o PS-ITA chegou nos primeiros dias de julho, coincidindo com o início das operações da companhia. A aeronave voou anteriormente pela Turkish Airlines, e durante a suspensão de voos da Itapemirim, ficou estocado no Galeão entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022.

Foi levado para Tucson nos EUA no final de janeiro de 2022, e por lá permanece até os dias atuais, e ainda com a pintura da ITA. Hoje está sob controle da empresa DVB Bank da Alemanha.

Airbus A320 – PS-TCS

O quinto avião chegou chegou ao final do mês de julho, tendo voado anteriormente pela IndiGo. A aeronave foi uma das que permaneceu estocada em Guarulhos entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022.

O Airbus chegou a ser levado para São José dos Campos, possivelmente para fazer uma manutenção preventiva e seguiu viagem para os EUA ainda em fevereiro. A aeronave chegou a ser levada para outros quatro aeroportos nos EUA antes de voltar a voar em dezembro de 2022 pela Sky Vision Airlines do Egito com a matrícula SU-SKB.

Airbus A320 – PS-MGF

Em tese, o sexto e último avião a ser recebido pela Itapemirim. A aeronave chegou para a empresa brasileira na segunda metade do mês de setembro de 2021 para três meses depois ficar estocado no Aeroporto de Guarulhos. Por lá, o avião permaneceu até fevereiro de 2022 quando seguiu os passos do PS-TCS e foi para São José dos Campos antes de seguir para os EUA em.

Sob os cuidados da Carlyle Aviation Partners e a matrícula N374CL, a aeronave voltaria a voar somente em janero de 2023 também pela Sky Angkor Airlines sob a matrícula XU-726.

Curiosamente este avião ainda voou com as cores da ITA em sua nova empresa, apesar do tempo estocado a pintura não foi retirada, sendo removida apenas as logos. 

Aviões que não chegaram a voar ou não foram entregues

Durante a crise que levou ao seu fechamento, a ITA Transportes Aéreos quase recebeu novos aviões entre eles os primeiros Airbus A319. Alguns até chegaram a receber a pintura da empresa mas se quer vieram para o Brasil.

• Airbus A319 PS-SIL: Chegou ao Brasil em novembro, ainda com as cores da Hi Fly Malta e com o nome da Itapemirim mas nunca entrou em operação sendo devolvido em fevereiro de 2022. Hoje voa como YR-LIC para Fly Lili.

  

   

• Airbus A319 PS-SJP: Recebeu a pintura da companhia brasileira em Bangkok mas se quer fez o seu voo de entrega. Hoje voa pela Air Serbia com YU-APN.

  

   

• Airbus A320 PS-CHM: Outra aeronave que chegou a receber a pintura da companhia aérea mas se quer realizou seu voo de entrega. A dona do avião o deixou estocado até janeiro desse ano, quando foi repassado para Sky Angkor Airlines. Assim como seu ‘irmão’, também operou com cores hibridas e sob a matrícula XU-725.

  

   

• Airbus A320 PS-COR: Aeronave chegou a constar nos registros brasileiros mas não recebeu nem a pintura da companhia aérea e também não veio para o Brasil. Atualmente voa com a Eurowings sob a matrícula 9H-SWF.
• Airbus A319 PS-GSP: Outro avião que viria para a ITA vindo da Hi Fly, este não recebeu pintura e nem veio ao Brasil. Atualmente voa para a Braathens International Airways com a matrícula SE-RGE.
• Airbus A320 PS-ITB: Esta aeronave já conhece muito bem o país, afinal foi entregue originalmente para a TAM em 2007 como PR-MBO. Foi padronizado nas cores da LATAM em 2016, retirado de operação em 2021. Este seria entregue para a Itapemirim ao final de 2021, mas voltou para a LATAM e hoje está sem voar.
• Airbus A320 PS-ITC: Tendo voado anteriormente pela IndiGo, aeronave chegou a ter sua pintura removida para ser entregue para a ITA, mas jamais ocorreu. Hoje voa para a Dan Air como YR-RAM.
• Airbus A320 PS-ITD: Mesmos passos do anterior, voava pela IndiGo, teve sua pintura removida mas nunca foi entregue. Atualmente voa também pela Dan Air como YR-JUL.
• Airbus A320 PS-ITE: Aeronave não recebeu a pintura da companhia aérea, e também não veio para o Brasil. Atualmente voa como 9H-MMO pela Malta MedAir
• Airbus A320 PS-ITH: Tendo voado anteriormente pela Vistara, aeronave jamais foi entregue e hoje voa pela Viva Aerobus como XA-VYB. 
• Airbus A320 PS-KOM: Avião voava pela SilkAir e não recebeu a pintura nem foi entregue, atualmente está estocada pela TrueAero.
• Airbus A320 PS-ROV: Aeronave também voava pela SilkAir e também não foi entregue para a ITA. Atualmente está estocada pela TrueAero.
• Airbus A320 PS-TUJ: Outro avião que já estava operando no Brasil pela TAM e depois pela LATAM como PR-MBT. Atualmente segue em operação pela empresa brasileira.

Fontes: PlaneSpotters e Aero Museu