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Há 10 anos o Mirage 2000 voava pela última vez na FAB

Caças Mirage 2000 em reabastecimento em voo com um KC-130 Hércules. Os F-2000 deram baixa em 2013, enquanto o C-130 deve sair de serviço em 2023.

O final do ano de 2013 teve dois momentos marcantes na história da Força Aérea Brasileira (FAB). O primeiro foi a escolha do Saab Gripen NG (hoje Gripen E) como novo caça da FAB e vencedor do programa FX-2. O outro, logo na véspera do ano novo, foi o último voo e aposentadoria do então avião de combate mais potente do Brasil, o Dassault Mirage 2000. 

Do início ao fim de sua curta carreira com a FAB, os Mirage 2000 estiveram sempre nas mãos do 1º Grupo de Defesa Aérea, o Esquadrão Jaguar, unidade com sede na Base Aérea de Anápolis (GO).

Foi da base no Cerrado que partiu o último voo de um F-2000, como o modelo foi designado pela FAB. Às 10h42 o então Capitão Aviador Augusto Ramalho levou à frente a manete de potência do FAB 4948, fazendo rugir pela última vez o motor Snecma M53 na pista de Anápolis. 

O destino: Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro, onde o último F-2000 a voar no país seria preservado. “Nossos Mirage cumpriram sua missão e agora dão espaço a equipamentos mais modernos, um ciclo se completa. É uma honra fazer o último voo, é um misto de tristeza e alegria”, comentou o Capitão Ramalho na época. 

Pouco mais de uma hora de depois, às 11h53, o F-2000 tocava a pista do Campo dos Afonsos. O local que já foi um dos berços da aviação brasileira, marcou também o fim da era Mirage no Brasil. 

Os Mirage 2000 chegaram ao país em 2006 como um stop gap entre a baixa dos Mirage III – primeiro avião supersônico do país – e a escolha de um novo vetor de combate. A FAB já buscava um modelo para substituir o F-103 (como foi chamado o Mirage III), que com passados os 30 anos de serviço já estava prestes a dar baixa. 

Através do Programa F-XBR, o Comando da Aeronáutica avaliou diversos modelos, incluindo o próprio Mirage 2000-5, uma versão mais nova daquela eventualmente adquirida. No entanto, o governo acabou cancelando o programa. 

Sem opções, a FAB decidiu buscar uma solução temporária e adquiriu um lote de 12 caças Mirage 2000B e Mirage 2000C usados, por 80 milhões de euros. Em julho de 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua contraparte francesa, Jacques Chirac, assinaram a transferência dos aviões.

O então Capitão Aviador Ramalho, que fez o último voo do Dassault Mirage 2000 na FAB.
O então Capitão Aviador Ramalho, que fez o último voo do Dassault Mirage 2000 na FAB.

Pelo contrato, a FAB recebeu dois Mirage 2000B bipostos, 10 Mirage 2000C de um assento, material logístico, tanques externos, equipamentos de solo, ferramental, treinamento dos pilotos e especialistas e os armamentos: mísseis ar-ar Matra Super 530D, guiados por radar semi-ativo, mísseis Matra R.550 Magic II, guiados por infravermelho e os canhões DEFA 554 com suas munições de 30mm e contramedidas chaff e flare. 

Para operar e manter os aviões, a FAB enviou militares para a base aérea de Orange, na França, onde receberam treinamento. As aeronaves foram separadas em três lotes de quatro unidades e trazidas ao Brasil em voo. Percorrendo a rota Orange-Dakkar-Anápolis e reabastecendo em voo com os KC-135 da Armée de l’Air, os primeiros Mirage 2000 brasileiros chegaram ao país em 2006, recebidos em uma cerimônia na Base Aérea de Anápolis. Os jatos remanescentes foram entregues em 2007 e 2008. 

Embora fossem os caças mais potentes do país, capazes de atingir Mach 2.2 (mais de duas vezes a velocidade do som), os F-2000 já eram aviões veteranos. Conforme dados do portal Poder Aéreo, os Mirage brasileiros eram provenientes dos primeiros lotes de produção do modelo, fabricados entre 1984 e 1987. Antes de serem entregues à FAB, as aeronaves passaram por uma revisão que lhes deu 1000 horas de voo, alcançadas em 2011. 

Ao mesmo tempo em que recebia os F-2000, a FAB também reabriu a concorrência para um novo caça, agora chamada FX-2. No entanto, a escolha pelo vencedor entre o Dassault Rafale, Saab Gripen NG e Boeing F/A-18 Super Hornet foi se arrastando até 2013. A demora obrigou a força aérea estender o contrato de manutenção dos aviões, bem como a canibalização de metade da frota para manter os restantes voando. 

Em 2012 era decidida a baixa dos Mirage 2000, a ser realizada no final do ano seguinte. Treze dias antes do último voo do F-2000, o Saab Gripen foi anunciado publicamente como o novo avião de caça do Brasil. Dez anos depois, sete dos 36 caças adquiridos já estão em operação, além de uma aeronave usada em testes como parte do pacote de transferência de tecnologia. A partir de 2014 os F-5, já modernizados, assumiram as missões de defesa aérea até a chegada do Gripen. 

Os Mirage que ficaram

Dos 12 caças adquiridos pela FAB, três ficaram no Brasil e os outros nove remanescentes foram vendidos. Um Mirage 2000C, o 4948, foi levado ao MUSAL. Um F-2000B está na Base Aérea de Brasília junto do Mirage III que ostenta a pintura de 30 anos de serviço do modelo no país. 

Em 2019 a terceira aeronave, o FAB 4940, recebeu uma pintura estilizada, homenageando o tricampeão de Fórmula 1, Ayrton Senna, e os 40 anos do Esquadrão Jaguar. Em 1989, Senna voou em um Mirage III DBR da unidade, fato que é relembrado com carinho pela Força Aérea até os dias de hoje. 

Um dos três Mirage que ficaram no Brasil recebeu pintura que homenageia Ayrton Senna.
Um dos três Mirage que ficaram no Brasil recebeu pintura que homenageia Ayrton Senna.

Os nove Mirage 2000 que sobraram foram postos à venda e acabaram sendo adquiridos pela companhia francesa PROCOR em maio de 2019 por R$1,8 milhão. A PROCOR já tinha experiência com o jato, prestando serviços de apoio à frota mundial do modelo.

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias

Tags: fab, Mirage 2000, usaexport