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Porta-aviões São Paulo é afundado pela Marinha do Brasil

Casco do porta-aviões São Paulo foi afundado pela própria Marinha do Brasil, a 350 km da

A Marinha do Brasil (MB) confirmou no final da tarde de sexta-feira (03) que o casco do porta-aviões São Paulo foi afundado no Oceano Atlântico. O episódio encerra meses de impasse, iniciados em agosto de 2022 quando o navio deixou o país para ser desmanchado na Turquia

Em nota oficial, a Marinha diz que O procedimento foi conduzido com as necessárias competência técnica e segurança pela Marinha do Brasil, a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao Estado brasileiro.” 

O navio de origem francesa foi a pique em uma área de águas jurisdicionais brasileiras, “a 350 Km da costa e com profundidade aproximada de 5 mil metros, selecionada com base em estudos conduzidos pelo Centro de Hidrografia da Marinha e Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira.”

Navio foi vendido à Turquia para desmanche, mas teve entrada barrada no país. Foto: MSK.
Navio foi vendido à Turquia para desmanche, mas teve entrada barrada no país. Foto: MSK.

A MB não deu detalhes sobre a operação, nem divulgou imagens do afundamento do casco que já foi nau-capitânia da frota brasileira. Ainda de acordo com a força naval, a escolha da área foi baseada em cinco fatores principais: 

  • Localização dentro da área da Zona Econômica Exclusiva do Brasil;
  • Localização fora de Áreas de Proteção Ambiental;
  • Área livre de interferências com cabos submarinos documentados;
  • Área sem interferência de projetos de obras sobre águas;
  • Área com profundidades maiores que 3 mil metros.

O afundamento do ex-Navio Aeródromo (NAe) A12 São Paulo também levanta questões sobre danos ambientais. Na verdade, toda a polêmica envolvendo o barramento do navio na Turquia e seu retorno ao Brasil envolve esse assunto. 

O A12 foi fabricado na década de 1960 pela França como o R99 Foch, segundo porta-aviões da Classe Clemenceau. Como todos os navios da época, uma enorme quantidade de amianto, material cancerígeno, estava presente em sua construção.

Um par de F-14A sobrevoando o porta-aviões francês R99 Foch em maio de 1990. Mais tarde o Foch foi adquirido pela Marinha do Brasil e virou o NAe São Paulo. Foto: US Navy.
Um par de F-14A sobrevoando o porta-aviões francês R99 Foch em maio de 1990. Mais tarde o Foch foi adquirido pela Marinha do Brasil e virou o NAe São Paulo. Foto: US Navy.

Nos anos 1990, quando ainda pertencia ao país europeu, uma reforma tirou cerca de 55 toneladas do material tóxico do Foch. Mas quando foi vendido ao Brasil em 2000, cerca de 9,6 toneladas de amianto ainda estavam no porta-aviões. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que era contra o afundamento do São Paulo, o amianto restante era parte indissociável da estrutura do navio. 

O São Paulo foi oficialmente aposentado em 2018 e arrematado em leilão pelo estaleiro turco SÖK DENIZCILIK TIC.VE LTD (SÖK) por R$ 10,5 milhões. No Brasil, um grupo de veteranos tentou impedir o desmanche do São Paulo para transformá-lo em museu flutuante; na Turquia, manifestantes queriam o navio bem longe do país, alegando ser lixo tóxico. Os protestos deram certo e o casco do porta-aviões São Paulo, puxado pelo rebocador holandês Alp Centre, foi impedido de entrar no país. 

O comboio então voltou às águas brasileiras, tentando atracar no porto de Suape, em Pernambuco, novamente barrado pelas autoridades locais por conta do alegado risco de contaminação. Por 105 dias o comboio vagou na costa brasileira, cobrindo uma área pouco maior que 23 mil quilômetros. Segundo os ex-donos do casco, a distância percorrida era suficiente para chegar em qualquer lugar do mundo. 

NAe São Paulo A12 marinha do Brasil porta-aviões
O porta-aviões São Paulo navegou por apenas 206 dias, passando a maior parte de seus quase 20 anos de serviço militar parado no AMRJ. Foto: Marinha do Brasil.

A Marinha do Brasil interviu quando os donos do casco ameaçaram abandonar o navio no Oceano, impondo sérios riscos à navegação. O São Paulo foi então avaliado por especialistas, que apontaram buracos no casco e degradação considerável na flutuabilidade do mesmo. Em outras palavras, o afundamento era inevitável. 

A MB, que ainda recebeu uma oferta de R$ 30 milhões de uma companhia saudita pelo casco, também foi contestada em nota da MSK e SÖK, em documento que ainda cobra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por conta de ataques xenofóbicos contra a Turquia.

O governo de Fernando Henrique Cardoso pagou US$ 12 milhões pelo casco já bastante usado. O São Paulo passou apenas 206 dias no mar e fez 566 lançamentos de aeronaves brasileiras, argentinas e uruguaias até ser finalmente parado no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) em 2005. O motivo foi a explosão de uma caldeira de vapor durante um serviço de manutenção, matando três marinheiros. Antes disso o NAe São Paulo já apresentava diversos problemas. 

Porta-aviões São Paulo da Marinha do Brasil
Foto: Alcluiz / Wikimedia Commons

A Marinha ainda planejava investir R$ 1 bilhão na modernização do São Paulo até que tivesse recursos para comprar um novo porta-aviões. A atualização e reforma do navio estava prevista para ocorrer entre 2015 e 2019 e deveria manter o NAe São Paulo em serviço até 2039.

A embarcação deveria receber novos sistemas de lançamento (catapulta) e recuperação (cabos) de aeronaves, melhorias nas acomodações, substituição completa do cabeamento, novos conjuntos de propulsão e energia elétrica e outros upgrades, que jamais chegaram.

Dessa forma, o São Paulo passou a maior parte de sua trajetória na Marinha parado no AMRJ, onde serviu para diversas cerimônias. Seu tamanho também impressionava quem o via mesmo de longe, ou quem sobrevoava o Rio de Janeiro durante os pousos no Aeroporto Santos Dumont. 

O porta-aviões São Paulo da Marinha do Brasil, em uma de suas poucas operações no início dos anos 2000. Foto: Rob Schleiffert.
O porta-aviões São Paulo da Marinha do Brasil, em uma de suas poucas operações no início dos anos 2000. Foto: Rob Schleiffert.

Agora o porta-aviões São Paulo, o maior navio militar do Brasil, está a 5 km da superfície, descansando no fundo do Oceano Atlântico. 

Confira, na íntegra, a nota da Marinha do Brasil. 

MARINHA DO BRASIL
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA MARINHA
NOTA OFICIAL

Brasília – DF. Em 03 de fevereiro de 2023.

Em relação ao casco do ex-Navio Aeródromo “São Paulo”, diante dos fatos apresentados na Nota Oficial Conjunta do Ministério da Defesa, Advocacia-Geral da União e Marinha do Brasil, cabe informar que a operação de alijamento, por meio do afundamento planejado e controlado, ocorreu no final da tarde de hoje (03), estritamente conforme concebido.

O procedimento foi conduzido com as necessárias competência técnica e segurança pela Marinha do Brasil, a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao Estado brasileiro.

A área para a destinação final do casco, situada em Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), a 350 Km da costa e com profundidade aproximada de 5 mil metros, foi selecionada com base em estudos conduzidos pelo Centro de Hidrografia da Marinha e Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira.

As análises consideraram aspectos relativos à segurança da navegação e ao meio ambiente, com especial atenção para a mitigação de impactos à saúde pública, atividades de pesca e ecossistemas.

Por fim, a Marinha do Brasil presta legítima reverência ao ex-Navio Aeródromo “São Paulo”. Barco que abriga alma beligerante perpetuada na mente de homens e mulheres que guarneceram seus conveses, dignos servidores da Marinha Nacional Francesa e da Marinha do Brasil, sob a égide das tradições navais e de elevado espírito marinheiro.

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Militar, Notícias, Notícias

Tags: Marinha do Brasil, Porta-Aviões, São Paulo, usaexport