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Baron ou Seneca?

Baron ou Seneca

Qual-o-avião-favorito, nesta briga?

Bom, como já fizemos algumas vezes aqui na AEROFLAP, hoje o debate é sobre os dois bimotores mais famosos da aviação executiva no Brasil. Mas antes, para esta brincadeira ficar mais interessante, vamos colocar algumas dificuldades.. Vamos supor que eventualmente procuramos comprar um, a um orçamento, digamos baixo, equivalendo a até R$ 2.5 milhões. Qual vence, em termos de viabilidade financeira, operacional e até mesmo de segurança de voo? Vamos lá…

A primeira afirmação, é a mais rápida: O que comprar? Veja, com o orçamento definido, enquanto um se compra equipamento com muitos anos de idade, outro se compra com ano mais próximo de hoje. Prospectando o que tem hoje disponível no mercado, encontramos algo próximo de:

  • Baron 58, ano 1982, com 1.400 horas disponíveis de motores e mais de 6 mil horas de célula;
  • Seneca V, ano 2000, com 170 horas disponíveis de motores e mais de 4 mil horas de célula.

Para fins de comparação, que é a proposta deste artigo, considere que os valores de venda são exatamente os mesmos.

O Baron 58, considere a opção com tanques grandes, de 194 U.S. Gal..

Contudo, já temos um avião com muitas horas disponíveis para as próximas revisões gerais de motores e outro com pouca, apesar da diferença de 18 anos entre um e outro. Mas, vamos dizer que por algum motivo nossa preocupação é sempre pelo avião com menos idade, apesar dos motores já estarem no fim de vida, então, vamos para as próximas questões…

1. SEGURANÇA DE VOO

Não queremos entrar no mérito de qual tem características mais seguras de voo, ou, quem voa mono e quem não voa mono, como muitos pilotos discutem até de maneira beligerante nos bastidores. Mas, vamos falar de fatos, históricos, coisas que realmente aconteceram.

Imagem 1 – Acidentes por modelo de aeronave (tipo ICAO), num período de dez anos (2013 – 2023).

Eventos de segurança operacional, por modelo de aeronave.

Evento de segurança operacional, por modelo de aeronave (2).
Fonte: CENIPA. Painel SIPAER. Jan/2024.

Conforme documentado pelo CENIPA, o Seneca entra na liderança de eventos de segurança operacional, isto é, total de acidentes, incidentes e incidentes graves, enquanto que o Baron, fica lá em baixo, na 13ª posição. Se filtrarmos só acidentes, o Seneca ainda dispara na frente.

Mas, você ainda poderia falar que o Seneca tem maior número voando no Brasil do que o Baron, o que talvez, justificaria o total de eventos de segurança, como se fosse mais questão de frequência e probabilidade do que um conjunto de fatos isolados. Mas, veja que não é bem isso que ocorre.

Imagem 2 – total de aeronaves por modelo (tipo ICAO)

Total de aeronaves por modelo
Fonte: ANAC. Sistema RAB. Jan/2024.

Quero dizer que o Seneca também ocupa a liderança quanto ao total de aeronaves voando no país, mas, diferente das estatística do CENIPA (acima), o Baron está na 4ª posição, quanto ao total voando. Portanto, se fosse seguir a lógica de uma possível relação direta entre os dois gráficos, o Baron deveria estar entre os cinco que mais se acidentam, mas não está! Aliás, fica bem longe dos cinco primeiros, até mesmo filtrando somente acidentes (9° lugar, contra o 4° lugar).

Contudo, é histórico que o Seneca possui mais acidentes e incidentes que o Baron, e portanto, maior a probabilidade, se olharmos somente para estatística.

Agora, vamos para o próximo requisito…

2. CUSTO TOTAL OPERACIONAL

Bom, neste aspecto, o Baron será sempre mais custoso que o Seneca, disso não há duvida! Mas, quanto mais caro?

Vamos primeiro para as considerações:

Previsão de horas a serem voadas por ano:

  1. 77 horas de voo no Seneca;
  2. 65 horas de voo no Baron.

Performance das aeronaves:

  1. Seneca V: velocidade média de 165ktas e consumo médio de 108lt/h;
  2. Baron 58: velocidade média de 180ktas e consumo médio de 136lt/h.

Custo fixo:

  1. Seguro RETA;
  2. Seguro de casco;
  3. Manutenção que vence por data (custo fixo numa média de 7 anos);
  4. Atualização banco de dados do painel;

Variável:

  1. Manutenção que vence por horas de voo;
  2. Consumo de combustível (considerando preço R$ 11,90/litro AVGAS);
  3. Consumo de óleo W100 Plus;

Gastos sem saída de caixa:

  1. Manutenção de um fundo de reserva operacional (panes): este cálculo foi feito em cima de probabilidade de falha de cada componente que compõe os aviões, multiplicado pelo valor de troca.
  2. Rateio para revisão geral de dois motores (TBO), considerando motores de caixa.

Enfim, quase todos os itens acima referente a custo, o cálculo é super simples. É basicamente um jogo de multiplicações, onde a estimativa de horas de voo por ano é comum num dos produtos de cada operação.

Entretanto, a maior complicação de todos é o custo de manutenção, porque a maioria das tarefas previstas num planejamento de manutenção é controlado por horas de voo, tempo calendário ou o que ocorrer primeiro. Ou seja, a depender da quantidade de horas a serem voadas por ano, uma tarefa de manutenção pode virar custo fixo ou virar custo variável.

Pois bem, impostas as condições, feitas as segregações de dados, execução dos cálculos, média de sete anos, vamos então direto para a conclusão, sem mais delongas.

Custo com manutenção,  numa média de sete anos de operação:

Média de sete anos de manutenção, aplicável ao Seneca V.

Média de sete anos de manutenção com o Baron 58.

Portanto, se analisarmos somente esta questão, temos R$ 9.317,41 de economia com manutenção por ano, optando pela compra de um Seneca V.

Agora, adicionando outros custos, conforme mencionamos acima, e ainda mais o rateio para revisão geral de motores por hora, temos:

Custos com e sem saída de caixa Seneca V.

Custos com e sem saída de caixa Baron 58.

Saliento que foi considerado 2.000h de TBO dos motores Continental TSIO 360 do Seneca (para referência clique aqui) e 1.900h dos motores Continental IO 550 do Baron (para referência clique aqui). Questões como confiabilidade e duração efetiva das peças dos motores não foram levadas em conta, até por não haver fontes oficiais que suportam a tese, apesar de sabermos empiricamente que um motor de Baron dificilmente vai até as 1900h sem fazer pelo menos um ou mais “top” de cilindro.

Enfim, nesse quesito haveria uma economia anual de R$ 61.891,49, na escolha do Seneca, quanto a custos totais (incluindo rateio para TBO de motores). Ou, uma economia de R$ 15.373,01, considerando somente gastos com saída de caixa, ou seja, aqueles que acontecem até um ano de operação, em favor do Seneca, tirando por exemplo a manutenção de um fundo de risco operacional e o rateio para TBO de motores.

Bom, o Seneca ganha nesse quesito!

Somente por curiosidade, matematicamente se aumentar o total de horas de voo por ano, a diferença tende a aumentar. Portanto, o Baron traz um gasto total maior do que o Seneca, considerando uma utilização mais baixa, de até 90h de voo do Seneca.

Cenários onde o Baron se tornaria menos custoso.

* Os gráficos acima se referem à diferença de custo total (com e sem saída de caixa) das opções. Os valores no eixo x, ou seja, horas de voo, se referem à estimativa de voo por ano do Seneca e sua correlação automática com horas de voo/ano do Baron.

Há duas relações interessante: O Seneca voando entre 70 a 90h/ano, traz um custo total menos distante do custo total/ano do Baron, assim como com 180h/ano do Seneca. Mas, evidentemente que o Seneca sempre trará um custo total menor que o Baron, independente do total a ser voado.

3. LIQUIDEZ DE VENDA

Este quesito nós também consideramos importantes, porque ninguém se casa com avião (salvo algumas raras e curiosas exceções…rsrs). É preciso pensar no que pode acontecer quando for preciso revender o mesmo, ou ao menos ter ciência da probabilidade.

Começando com o Seneca, o avião não fabrica mais, como já publicamos num artigo aqui. Ainda, lembre-se que o modelo representa como um dos maiores números voando no Brasil, conforme a imagem 2 deste artigo.

Segundo ponto de atenção, é a retração da frota de Seneca. Conforme outro artigo publicado (clique aqui), o Seneca está fora do gráfico de crescimento da frota, isto é, importações e/ou fabricações recentes.

Terceiro ponto: o avião liderou entre as comunicações de venda de setembro de 2022 até setembro de 2023. Isso representa a quantidade de proprietários brasileiros que venderam suas aeronaves.

Imagem 3 – Quantidade de comunicações de venda emitidas de setembro de 2022 a setembro de 2023.

Comunicações de venda em um ano.
Fonte: ANAC. Sistema RAB.

* ULAC são ultraleves.

E o Baron? Bom, ele não está tão distante, mas:

  • O Baron ainda é fabricado, apesar das entregas anuais serem baixas (total de 28 desde 2019);
  • Do crescimento da frota, assim como o Seneca, o modelo está fora dos 15 líderes em crescimento de frota/ano (importações e/ou fabricações recentes);
  • O Baron tem registrado muitos comunicados de venda do ano, mas, está em oitavo lugar, bem longe do Seneca, que está no topo desta relação.

Por fim, considerando que muita oferta representa pouca procura, o Baron ganha neste quesito.

4. CONFORTO INTERNO

Para este quesito, consideramos o volume interno de bagageiros e volume interno de cabine. Começando com o volume interno de bagageiro:

  1. Seneca:
    1. Nariz: 15.3 cu.ft.
    2. Traseiro: 17.3 cu.ft.
  2. Baron:
    1. Nariz: 18 cu.ft.;
    2. Entre longarinas: 12 cu. ft.;
    3. Traseiro: 10 cu.ft.

Portanto, o Baron dispõe de mais volume para bagagens, além de disponibilizar um terceiro compartimento.

Volume interno de cabine:

  1. Seneca:
    1. Comprimento: 10ft 4in;
    2. Largura: 4ft.
  2. Baron:
    1. Comprimento: 12ft 7 in;
    2. Largura: 3ft 6in

Quanto aos limites de cargas de voo, que é quanto cada avião pode suportar numa turbulência mais severa ou numa manobra próxima de ser acrobática, ambos suportam até 3.8G e não aceitam fator carga negativo, conforme seus respectivos POH.

Por fim, o Baron ganha nesse quesito por ter maior capacidade volumétrica para carga, apesar de ser um avião estreito internamente. Em outras palavras, os passageiros que voam num Seneca ficam com ombros levemente afastados do que está sentado ao lado, mas, as pernas acabam ficando encostadas das do passageiro à frente. Por outro lado, os passageiros que voam num Baron ficam com ombros encostados do que está sentado ao lado, mas, as pernas ficam levemente afastadas do passageiro à frente.

5. CAPACIDADE DE CARGA

Neste quesito, vamos considerar autonomia de 3h, em regime de máxima performance de cruzeiro. Isso serve para termos um resultado o mais balanceado possível, até mesmo porque o Baron tem maior autonomia (em horas de voo) e voa mais longe que o Seneca, e por isso, é natural que leve mais combustível nas asas.

Contudo, aviões abastecidos, peso básico vazio calculado (numa média dos aviões observados) e pesos máximos de decolagem definidos, conforme POH. A disponibilidade de carga de cada um dos modelos, quanto a peso em quilograma, é de:

  1. Seneca V: 461kg de disponibilidade de carga;
  2. Baron 58: 395kg de disponibilidade de carga.

Por fim, o Seneca ganha nesse quesito. Seria como, nestas considerações, o Seneca carregar um pouco mais de peso e numa eventualidade de pane de um dos motores (estando a aeronave monomotor) o piloto ainda ter a capacidade de manter o controle de voo, adequadamente, até efetuar o pouso seguro.

6. PERFORMANCE

Para este cálculo, foi usado SOMENTE os gráficos de performance do POH, 2.500RPM para ambos, 30 in.pol. de manifold do Seneca e “full throttle” do Baron 58 com IO550. Vamos para as considerações quanto a velocidade de cruzeiro, considerando FL100 e uma temperatura do ar externo equivalente a 10°C, que costumeiramente encontramos voando pelo Brasil.

  1. Seneca V: 184ktas;
  2. Baron 58: 199ktas

Tabela de velocidade de cruzeiro Seneca V.
Fonte: PIPER. POH Seneca V.
Tabela de performance em cruzeiro Baron 58.
Fonte: BEECHCRAFT. POH Baron 58. 2014.

Ponto para o Baron, que ganha como mais veloz e ainda voa para mais longe que o Seneca!

7. AUTONOMIA EM DISTÂNCIA DE VOO

As tabelas de performance da seção 5 de cada um dos POH foram levadas em consideração. Contudo, temos os seguintes resultados, considerando a capacidade máxima de tanque de combustível, regime de potência de máxima performance em cruzeiro, voo no FL100 e reserva de 45 minutos no mesmo regime de potência.

  1. Seneca V: 638NM (1.181,5 km)
  2. Baron 58 (com tanques grandes): 1169NM (2.164,9 km)

Tabela de autonomia do Seneca V.
Fonte: PIPER. POH Seneca V. 1997.
Tabela autonomia de voo do Baron 58.
Fonte: BEECHCRAFT. POH Baron 58. 2014.

O Baron vence, como a maior autonomia de voo.

8. CONCLUSÃO

Bom, vamos para as comparações de resultados, considerando 1 como vencedor e zero como perdedor:

 SENECA VBARON 58
Idade10
Segurança de Voo01
Custo10
Liquidez venda01
Conforto01
Capacidade carga10
Velocidade01
Autonomia (em nm)01

Contudo, o Baron ganhou por 5 pontos a 3 do Seneca neste comparativo.

Agora, basta você decidir o que é mais importante desses quesitos para sua escolha. Ou melhor, qual relevância cada um desses quesitos possui para sua decisão de compra?

Por fim, a AEROFLAP também presta consultoria de compra de aeronave. Podemos entregar um trabalho até mais completo que este artigo. Caso seja preciso, entre em contato pelo e-mail [email protected] e descreva a sua necessidade. Nossa equipe estará pronta para te atender.

Para mais artigos de comparação entre aeronaves, clique nos links abaixo:

Baron ou Bonanza? O que comprar?

Meridian/M500 ou JetProp?

 

 

 

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Rafael Payão

Autor: Rafael Payão

Analista do mercado de aviação executiva da Aeroflap. Consultor de vendas e compras de aerovanes da Aeroflap. É piloto (PLA) com mais de 3000 horas voo, formado bacharel em Aviação Civil pela UAM e pós graduado em engenharia de manutenção aeronáutica pela PUC-MG.

Categorias: Aeronaves, Artigos, Artigos, Aviação Geral, Executiva, Notícias

Tags: aeronave, Baron, BARON B58, comparacao de aviao, custo de aviao, Seneca, Seneca V